Baixada Santista tem só 12 Distritos Policiais abertos 24 horas

Representantes de sindicatos da Polícia Civil alertam que o esclarecimento de crimes está comprometido na região, que conta com 45 delegacias

Por: Nathália de Alcantara & Da Redação &  -  04/07/19  -  16:30
Caso foi encaminhado ao 3° Distrito Policial de Santos
Caso foi encaminhado ao 3° Distrito Policial de Santos   Foto: Divulgação

Das 45 delegacias da Baixada Santista, só 12 funcionam 24h. Além da população ter de se deslocar até bairros distantes para registrar uma ocorrência durante madrugada, finais de semana e feriados, representantes de sindicatos da Polícia Civil alertam que o esclarecimento de crimes está comprometido na região.


Após ter uma faca apontada para o pescoço e a carteira levada por um ladrão, o aposentado Antonio Domingues, de 85 anos, que mora na Ponta da Praia, teve de ir até o Centro de Santos para tentar fazer um boletim de ocorrência.


Ele conta que voltava de uma farmácia, por volta de 1h do último dia 27, quando foi abordado. “Eu fiquei muito nervoso e corri para o 3º DP, que fica perto da minha residência. Ele estava fechado e tive de voltar em casa para pegar o carro e dirigir até o Centro”.


O detalhe é que, ao ser informado de que demoraria para fazer o BO por conta de outras ocorrências, preferiu voltar para casa. “Eu tenho uma delegacia praticamente ao lado de casa e não posso contar com ela quando preciso. Desisti de fazer o registro. Com quantas outras pessoas acontece a mesma coisa na região?”


Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Santos e Região (Sinpolsan), Márcio Pino, o ideal realmente seria que cada distrito pudesse funcionar 24h para, além de atender à população, reduzir os índices de criminalidade com andamento de inquéritos, investigações e trabalho de campana.


“O criminoso precisa ter a sensação de que se fizer algo será penalizado. Hoje, dados comprovam que apenas 5% dos crimes são esclarecidos”.


Falta estrutura


Segundo ele, esse desejo não será realidade tão cedo na região por conta da falta de funcionários suficientes para que os DPs atendam à noite e na madrugada. “Devido ao descaso do governo na contratação, temos escassez de mão de obra. É inviável que mais delegacias funcionem com essa jornada sem a sobrecarga de funcionários. Isso acarretaria em estresse e problemas de saúde”.


Na prática, de acordo com Pino, então é melhor que as delegacias fechem as portas do que funcionem 24h em condições longe das adequadas. “Hoje, a Polícia Civil acaba sendo cartório das ocorrências da Polícia Militar e não exerce sua atividade principal, que é investigação e esclarecimento de crimes”.


Resposta


A própria Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-SP) não tem a menor ideia de quantas delegacias funcionam 24h na região e quais os horários de atendimento de cada uma delas.


Questionada pela Reportagem, ela informou apenas que Santos possui a Delegacia de Defesa da Mulher, o 7º DP e a Central de Polícia Judiciária (CPJ) nesse esquema de plantão. O detalhe é que a Cidade tem ainda o 5º DP que atende em período integral.


Segundo o Sindicato dos Policiais Civis de Santos e Região (Sinpolsan), funcionam 24h hoje na região as delegacias sede de Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Guarujá, Bertioga, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.


A Secretaria informou ainda, por meio de nota, que os cidadãos podem registrar casos de roubo ou furto de veículos, documentos, celulares, ocorrências de calúnia, difamação, desaparecimento de pessoas, maus tratos aos animais e acidentes de trânsito sem vítima, pela delegacia eletrônica, no site delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br/ssp-de-cidadao/home.


Disse também que “estão em andamento concursos para a contratação de 2.750 policiais civis, entre delegados, investigadores, escrivãos e agentes policiais. Além deste, outros editais para contratação de mais 2.750 policiais civis já foram autorizados pelo governo. Novos concursos serão lançados conforme a disponibilidade de recursos”.


População é a maior prejudicada


Para a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindipesp), Raquel Kobashi Gallinati, quem mais se prejudica com o sucateamento da Polícia Civil é a sociedade. E a questão é mais complexa do que uma unidade estar aberta 24h ou não.


“Não é simplesmente um prédio abrir ou não durante a noite ou na madrugada. O que precisamos é de um trabalho que consiga atender as pessoas de maneira eficiente. Hoje, a categoria tem 14 mil homens a menos do que deveria”.


Segundo a delegada, o resultado dessa falta de pessoal é “uma carga desumana de trabalho para os policiais. Cada policial exerce a função de quatro ou cinco”, explica Raquel.


Ela defende ainda que é obrigação do Estado oferecer um serviço de excelência. “Existe falta de cuidado do governo há 20 anos. Somos a federação mais rica. Não houve investimento em contratação, em armamentos, em viaturas. Com o deficit de policiais, temos uma enorme sobrecarga na instituição”.


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