Baixada Santista tem 472 contaminados e 24 mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes

Número de infectados saltou 433,9% entre 1º de maio e 1º de junho. Óbitos dispararam 275,6% no mesmo período

Por: Matheus Müller  -  04/06/20  -  20:59

O número de casos confirmados de Covid-19 saltou 433,9%, assim como o de mortes 275,6%, entre os dias 1º de maio e 1º de junho, com base nos dados apresentados pelas prefeituras da Baixada Santista, e divulgados diariamente em A Tribuna. Na região, a cada 100 mil habitantes, 472 se contaminam e 24 morrem. No começo do último mês eram 88 e seis, respectivamente.


Cubatão e Guarujá tiveram as maiores variações percentuais no último mês e se destacam pela taxa de contágio e mortalidade pela doença - desde que o coronavírus começou a circular. Santos, porém, se mantém no topo da lista em números absolutos.


>> Confira a comparação de casos por cidade de 1º de maio a 1º de junho


O médico infectologista Marcos Caseiro disse que já alertava para o aumento de casos nesses municípios, segundo ele por terem flexibilizado um pouco mais as restrições. “Você tem o pico (da doença) chegando entre o final de maio e a segunda semana de junho. Neste momento estamos em aceleração. Não estamos nesse momento de flexibilizar”.


Evaldo Stanislau, também médico infectologista, reforça: “É quase criminoso você lançar essas pessoas nas ruas da maneira como está acontecendo. Isso vai impactar no número de casos e vamos ter vidas perdidas. Com todo respeito a todos, não precisa fazer testes (com fases de flexibilizações) para ver que vai dar errado, a gente já sabe que vai dar errado”.


Ele explica que não existem condições seguras para o afrouxamento nas restrições da quarentena. “A epidemia não está sobre controle, não tem teste com capacidade de vigilância e, sobre a folga de leitos, isso é um item menos importante, porque de um dia para o outro o número muda, e muda sendo ocupado por gente que poderíamos ter evitado a infecção”.


Movimento na orla santista no domingo (31) chamou atenção e pode se refletir nos casos registrados
Movimento na orla santista no domingo (31) chamou atenção e pode se refletir nos casos registrados   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Alerta


Cubatão passou de 69 para 652 casos pacientes com coronavírus, um aumento de 844,9%. As mortes subiram de 3 para 37 (1.133%). A Prefeitura informa que os números iniciais eram baixos e, portanto, qualquer alta gera grande impacto percentual. A cidade ainda ocupa o segundo lugar na taxa de óbitos e o terceiro na de casos confirmados: 28 e 504, na sequência.


Ainda de acordo com a prefeitura, o acompanhamento dos números é semanal. Um “levantamento da Vigilância Epidemiológica mostra que a letalidade da doença em Cubatão no último boletim semanal detalhado (28 de maio) é de 5,56% dos 558 casos positivos registrados na data, abaixo dos índices nacional (6,2%) e estadual (7,5%)”.


No mesmo ritmo negativo segue Guarujá, que tinha 195 casos e registrou 1.444 no dia 1º de junho, aumento de 640,5%. As mortes passaram de 8 para 87% (987,5%) – a segunda com mais perdas junto com São Vicente. Em relação às taxas, a cidade apresenta 450 contaminados por 100 mil habitantes e 27 mortes.


Em nota, a Secretaria da Saúde do município informa que vem analisando a evolução da pandemia em relação ao número de casos nos últimos sete dias. De acordo com os critérios epidemiológicos, a Prefeitura aponta que a semana 21 teve 135 internações, ante 173 registros na semana 23.


“Um percentual de 1,28%, o que coloca Guarujá na zona amarela, baseado na análise de evolução do Governo do Estado. O mesmo ocorre em relação ao número de óbitos”. A prefeitura acrescenta que os números justificam “as formas de flexibilização do comércio”.


Praia Grande, terceira cidade mais populosa da Baixada Santista, também tem números importantes. Houve uma evolução de 283,5% em casos confirmados (passou de 469 para 1.799) e de 87% em mortes, de 31 para 58.


O município ainda registra a segunda maior taxa de contágio 553 por 100 mil habitantes, enquanto registra 17 óbitos pela mesma base se cálculos. A Prefeitura, no entanto, aposta na abertura de leitos para a retomada gradual das atividades.


“A infraestrutura montada para atender casos de coronavírus se transformou em um trunfo”. A prefeitura ressalta o aumentou o número de leitos de UTI, os dois hospitais de campanha, de síndromes respiratórias, a central telefônica e o  fluxo diferenciado de atendimento nas 28 Usafas e nas unidades de Urgência e Emergência.


Segue no topo


Santos continua em primeiro lugar no ranking de mais casos confirmados da doença. Em 1º de maio eram 656 infectados, já em 1º de junho o número saltou para 3.826 (483,2%). As mortes passaram de 54 para 158 (192,6%), neste intervalo. A taxa de mortes é de 36 a cada 100 mil pessoas, já a de contaminação é de 882.


Segundo a Prefeitura, os resultados dos exames têm demorado até três semanas e, em alguns casos, há uma maior concentração de confirmações em determinados dias da semana. “Isso, inevitavelmente, leva a distorções na análise do número geral”, diz em nota.


Santos destaca ainda que os casos devem ser analisados dentro das semanas epidemiológicas. “É possível identificar a redução da quantidade de novos casos e óbitos, em especial, na última semana, quando registrou 859 novos casos, na 21ª. Semana Epidemiológica e 424, na 22ª. Em relação aos óbitos, foram 23 óbitos na semana de 17 a 23 de março e 20 óbitos na semana de 24 a 30”.


A prefeitura ainda informa que “para padronizar as informações e os critérios para cadastro, a Prefeitura de Santos criou um sistema que já está sendo utilizado pelas nove cidades. A plataforma desenvolvida pelo Detic (Departamento de Gestão de Tecnologia de Informação e Telecomunicações) permite informar a data real dos casos e óbitos de covid-19, chegando a uma análise mais apurada”.


Retomada econômica


Das nove cidades da Baixada Santista, em São Vicente e Guarujá alguns estabelecimentos não considerados essenciais já funcionam. Recentemente, inclusive, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que Guarujá cumprisse o decreto estadual de quarentena.


Os dois municípios, assim como Praia Grande, afirmam que estudam e avaliam uma breve flexibilização gradual “de forma responsável”, com base em estudos e critérios estaduais, como ocupação de leitos de UTI, taxa de isolamento e evolução da doença.


As demais cidades, apesar de estudarem medidas e desenvolverem seus planos, afirmam que acompanham as posições do Estado sobre o tema.  Mongaguá e Bertioga não responderam às perguntas.


O infectologista Evaldo Stanislau prevê um aumento dos casos e saturação dos hospitais – muitos, segundo ele, não têm mais vagas. “Nenhum médico é insensível ao drama (econômico). Mas não tem que se fazer pressão na saúde, e sim nas políticas econômicas e sociais. Estas devem dar um alívio para o empresário, para o comerciante e criar um mecanismo de subsistência para as pessoas que estão precisando disso”.


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