Assim como em todo o mundo, os brasileiros aguardam ansiosos por uma vacina contra a covid-19, reconhecendo que este tipo de avanço representa, de fato, vidas salvas. A expectativa, no entanto, esbarra em um fato que vai na contramão.
O País vem observando a cobertura vacinal cair nos últimos anos. Na Baixada Santista, por exemplo, nenhuma das cidades que informaram dados atingiu, em 2019, a meta de vacinação contra a poliomielite, uma das principais vacinas do calendário de crianças até um ano.
Para essa imunização, a meta de cobertura é de 95% do público-alvo. O maior índice na região, conforme dados do ano passado fornecidos pelas secretarias de Saúde dos municípios, foi o de Santos: 89,47%. Ainda assim, abaixo da meta. Em Mongaguá, apenas 45,53% dos bebês que deveriam tomar a vacina foram imunizados.
De modo geral, a meta de vacinação até um ano estabelece 90% para o imunizante contra o rotavírus e para a BCG, que protege contra formas graves de tuberculose. Já o patamar de 95% vale para as demais (Meningococo C, Hepatite B, Poliomielite, Pneumocócica, Pentavalente – contra Difteria, tétano, coqueluche e outras - e Tríplice Viral – sarampo, caxumba e rubéola).
Em algumas cidades, o alerta é maior porque nenhuma das metas citadas foi atingida, como é o caso de Bertioga, Itanhaém, São Vicente e Cubatão. O grande problema é que, ao não atingir os índices esperados de imunização, intensifica-se o risco do retorno de doenças controladas e até as consideradas eliminadas, como ocorreu com o sarampo.
No início do mês, a Sociedade Brasileira de Pediatria enviou um manifesto ao Ministério da Saúde, afirmando que a queda da adesão da população às principais vacinas indicadas para crianças de até um ano configura grave sinal de alerta para as autoridades sanitárias. De fato, mas o trabalho para aumentar os índices precisará ser feito em várias frentes.
Fatores
Os fatores que levam à redução na cobertura vacinal são vários e um deles pode até parecer estranho. A vacinação está caindo pela eficácia das próprias vacinas.
“Muitas pessoas não viveram a época de ver crianças nas ruas com muletas e já associar à poliomielite. E nem viram as crianças com aquelas tosses compridas e chiado no peito por conta da coqueluche”, destaca a enfermeira Núbia Araújo, diretora do Programa Estadual de Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo (CVE).
Esse, segundo ela, é um fator que faz as pessoas relaxarem. “Mas não é só isso. Nós estamos tentando entender, de fato, esse cenário que é nacional e pode ter vários fatores além da lembrança das doenças”, afirma.
Um deles, são os movimentos antivacina, que apesar de pressionarem, não têm tanto força no Brasil quanto a desinformação. “Ainda falta informação . Precisamos trabalhar mais esse ponto, apesar dos esforços do estado e dos municípios”.