Semana cultural celebra a vida e a obra do santista Gilberto Mendes

Os muitos tons, a dissonância e a harmonia de Gilberto Mendes são celebrados a partir desta quarta-feira (13), dia em que o maestro e compositor santista, mas de alma mundial, completaria 99 anos. Com ampla e variada programação on-line, a Semana Gilberto Mendes se estende até sábado (16) no Facebook do evento ou no canal do YouTube do curador da Semana, Márcio Barreto.

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Para o escritor Flávio Viegas Amoreira, que conviveu artisticamente muitos anos com o compositor, e é autor do livro Gilberto Mendes, Notas Biográficas, lançado ano passado, a importância da obra de Gilberto transcende os meros parâmetros estéticos e dialogo com o seu tempo e lugar, para tornar-se universal – aliás, como ocorre a toda obra de arte com vocação à eternidade.

“Ele teve uma ação política pela arte. Foi uma arte de resistência. Do ‘hit’ Beba Coca-Cola (1967) Vila Socó, Meu Amor (1987). Embora composições eruditas, elas traziam impregnadas a crítica ao consumismo, no caso da primeira, e a indignação à exclusão social, na segunda, em que ele evoca uma das maiores tragédias da nossa região, o incêndio da Vila Socó (em Cubatão, 1984)”.

Flávio considera as duas obras, ao lado de O Anjo Esquerdo da História, do poeta Haroldo de Campos, homenagem aos 19 sem-terra mortos em 1996, em Eldorado dos Carajás, em 1996, e musicado em 1997 por Gilberto, como a tríade da expressão política, pela arte, do compositor. “Esse é o tripé salvador, de um Brasil mais justo e livre (com que Gilberto Mendes sonhava)”.

Tecno

Música erudita, mas descolada, Flávio relembra certa vez uma reportagem em que Gilberto era citado como o ‘DJ erudito’. E não foi por menos. “Ele introduziu na música erudita brasileira a eletrônica, a eletroacústica, que desembocam em quê? No ‘bate-estaca’, na estética dos DJs”.

“Nosso elemento lúdico é o mundo. É cosmopolita, pela presença do Porto. Ele bebeu na fonte do Atlântico. Mesmo assim, cultua a tradição”, encerra Flávio.

Márcio Barreto, curador da Semana Gilberto Mendes, corrobora esse encanto do erudito pelo popular. “Eu sou do Percutindo Mundos (grupo de música contemporânea com ascendência caiçara), ele, nos shows, cantava, dançava... se aproximava da cultura caiçara. Assim, a gente vai deslocando o eixo cultural”, analisa.

Desafio on-line

Márcio também é, ao lado do maestro Rubens Russomanno Ricciardi, do Departamento de Música, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em Ribeirão Preto, coordenador do Festival de Música Nova. Criado em Santos, ainda em 1962, por Gilberto Mendes, é um dos mais prestigiados festivais do gênero no mundo.

Ano passado, pela primeira vez, o Música Nova foi inteiramente realizado on-line – assim como será esta edição da Semana Gilberto Mendes. “Dificulta, mas, por outro lado, permite novas conexões”, avalia. “Não precisa trazer uma filarmônica, com todos os custos que isso implica, e, com essa vida on-line, ampliam-se as fronteiras”.

Nesse conceito, de “ampliar fronteiras”, o formato on-line é bem-vindo. “Esse é o objetivo: tornar a obra de Gilberto Mendes mais acessível”.

Programação

Quarta-feira (13)
-18 horas - Oceanos: concerto de abertura com o pianista Fábio Luiz Salgado e o coletivo Percutindo Mundos, direto da Pinacoteca Benedicto Calixto
-19 horas - Rumo aos 100 Anos: live com o escritor Flávio Viegas Amoreira sobre a vida e a obra de Gilberto Mendes
-20 horas - Burned Instruments Orchestra (Suíça): concerto com Lívio Tragtenberg, Marco Scarassatti e Emerson Boy

Quinta-feira (14)
-18 horas - Mar Azul: vídeodança com Alícia Aguiar, direção de Márcio Barreto
-19 horas - A importância de Gilberto Mendes: com a vereadora Telma de Souza

Sexta-feira (15)
-18 horas - Música Cinema: concerto com as músicas preferidas de Gilberto Mendes do cinema mundial. Com a USP Filarmônica, de Ribeirão Preto, regência de Rubens Russomanno Ricciardi, e a Orquestra Ouro Preto, regência de Rodrigo Toffolo
-19 horas - Paisagens Marítimas: concerto com o pianista Antonio Eduardo Santos
-20 horas - A Música e as Políticas Públicas: com Braz Antunes, autor da lei que inclui a Semana Cultural Gilberto Mendes no calendário oficial de Santos