Violinista de Santos conquista oportunidade em conservatório musical britânico

Bruno Robalo está na reta final para conseguir o montante necessário para custear sua viagem à Inglaterra, em setembro

Por: Bia Viana  -  30/08/21  -  08:09
 O violinista santista conquistou duas bolsas para estudar no conservatório musical de Manchester
O violinista santista conquistou duas bolsas para estudar no conservatório musical de Manchester   Foto: Acervo Pessoal

Apaixonado por música, o violinista santista Bruno Robalo, de 19 anos, segue uma jornada marcada, em suas palavras, por “amor e dedicação”. Devido à pandemia, viu sua vida mudar completamente quando em dezembro de 2020 foi aprovado no Royal Northern College of Music, conservatório de Manchester, na Inglaterra, para realizar um bacharelado em Música com especialização em instrumentos de cordas. Na reta final para realizar esse sonho, ele busca arrecadar os custos totais para embarcar rumo a um dos quatro colégios associados ao Conselho Associado de Escolas Reais de Música.


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Inicialmente, Bruno tinha se aplicado para outra bolsa, nos Estados Unidos, que foi cancelada por conta da pandemia. O artista descobriu a oportunidade no Reino Unido com sua professora e resolveu arriscar. “A sorte é que as inscrições ainda estavam abertas. Foi tudo em cima da hora, mas tive tempo. Graças à pandemia, o processo foi facilitado: teria que ir a Manchester tocar pessoalmente na avaliação, mas pude mandar um vídeo ao invés disso”.


Passadas as etapas de inscrição, o maior desafio ainda estava por vir: conseguir o financiamento para todo o processo. Com vaquinhas, rifas e se apresentando ao público, Bruno conseguiu uma boa parte do montante. “Quando recebi em dezembro a resposta, fiquei feliz, mas ao mesmo tempo preocupado, com medo, porque só receber a confirmação de que você foi aceito não significa que acabou. Eu sabia que ainda tinha mais coisa pra poder chegar lá, então não fiquei na potência máxima. Só vou poder comemorar de verdade quando estiver na faculdade”.


Mesmo com duas bolsas de estudo, sendo uma para calouros e a outra para trabalhar na Universidade enquanto frequenta as aulas, ainda falta dinheiro. “Quem é do Reino Unido paga 9 mil libras [de anuidade no curso], mas quem é estrangeiro paga 24 mil. Todo ano é esse preço. Não vai ser fácil, foi muita pressão para conseguir a bolsa, mais as dificuldades e custos para entrar no país”. Ele corre contra o relógio: em meio à pandemia, na espera da confirmação do visto, ele pretende viajar dia 5 de setembro para se preparar para o começo das aulas, dia 20. Por isso, tem movimentado uma campanha de doações via PIX em suas redes sociais. Para mais informações sobre como ajudar, acesse o perfil de Bruno Robalo no Instagram.


Passo a passo


O processo para entrada no conservatório levou praticamente um ano, somados os estudos e todas as etapas de inscrição. A primeira delas foi o envio de duas cartas de recomendação, dos professores e tutores de violino. “Também escrevi uma carta sobre o porquê queria estudar lá. Depois, tive que mandar os vídeos. Todo esse processo é pago; na época, acho que foram 100 libras”.


Os três vídeos têm que compor diferentes estilos musicais, para provar a versatilidade do músico. Portanto, Bruno escolheu a sinfonia espanhola de Édouard Lalo e duas peças contrastantes de Bach. “Uma é rápida e a outra mais lenta, mostrando vários estilos de tocar e tempos diferentes”. O vídeo de 15 minutos teve que ser feito sem cortes. “Foi difícil! Eu gravava, a primeira música saía legal e a segunda feia, aí tinha que gravar tudo de novo. Fiquei um mês tentando e conversando com meus professores”.


Depois de conhecerem o aluno, era hora do teste de teoria musical para saber o nível do aluno e uma entrevista com dois professores. Veio então a leitura à primeira vista, uma prova onde o candidato deve tocar uma partitura que nunca viu antes ao vivo para os examinadores. “É sempre um susto, porque você não sabe o que vai aparecer. Quando a gente estuda e toca, a gente já fica nervoso, imagina com uma música que você não conhece? Quando fiz essa parte da leitura lembro de ter tocado muito bem, mas a professora disse 'olha, não deu pra te ouvir, travou. Consegue tocar de novo?', e eu pensei 'poxa, a primeira foi bem melhor' (risos)”.


Relação pessoal


Quando era um garoto de sete anos arriscando suas primeiras notas no piano, Bruno não imaginava que estava há poucos anos de viajar o mundo e começar uma carreira artística de sucesso. A primeira professora particular o dispensou por “não servir para música”, pois o pequeno passava mais tempo balançando na rede e comendo gelatinas do que estudando. Pouco depois, nas aulas de violão, Bruno encontrou a fagulha que precisava. “Foi meu primeiro contato real com a música. A aula particular era em casa, então eu cantava, dançava, pulava, me divertia muito. Foi ali que descobri a música como algo maravilhoso”.


A afinidade com violino e música clássica veio cedo. Sua avó, Beth Robalo, o colocava para dormir ao som de Bach desde bebê. Nessa escalada de paixão pela arte, foi natural que aos 14 anos Bruno já integrasse a orquestra do Instituto Grupo Pão de Açúcar e assumisse como spalla, o primeiro violino do conjunto.


Nos últimos cinco anos, tocou em vários eventos nacionais e internacionais. Ele sempre morou com a avó, que fez artes plásticas e restaurava quadros e estátuas. O contato mais próximo da família com a música era do bisavô que Bruno nunca conheceu, um cantor lírico. Mesmo assim, Beth sabia que esse era o sonho do neto. “Graças a ela, eu sou músico. Minha avó sempre me apoiou e sempre soube que era isso que eu queria”.


O encontro com o violino é momentâneo, mas sua entrega é eterna. “Eu amo o violino, ele está comigo agora, mas não sei se vai estar depois. Todo músico é apaixonado por transmitir o amor pela música, não só pelo instrumento. É uma coisa tão pessoal! Cada som que você tira é seu, cada nota tem o seu DNA. Tenho vontade de aprender outros instrumentos, como acordeão, que acho lindo. E também quero ser maestro”, revela.


Oportunidades para todos


Ainda pensando em sonhos, Bruno deseja retribuir todo o incentivo que tem recebido de amigos, colegas de profissão, professores, familiares e até desconhecidos espalhando conhecimento. Por isso, quando concluir os estudos no Royal College, pretende voltar à comunidade e ensinar tudo que sabe. “A gente sabe que não é fácil alcançar essas coisas, mas quanto mais pessoas vão alcançando, a gente vai criando uma energia, um incentivo coletivo, e através do nosso exemplo, ajudamos outras pessoas”.


“Por isso, vejo no futuro poder passar tudo que aprendi, além da esperança de que é possível a gente conseguir tudo que a gente quiser. Dizer que eu tive muito apoio no começo, não tive, ainda mais na pandemia. Eu vim de projeto social, aprendi totalmente de graça e sou totalmente grato, por causa deles pude alcançar várias coisas. Quero dar a mesma oportunidade que eu tive e mostrar que é possível e importante investir na música”.


O músico ressalta a importância da arte na educação, destacando que a carreira musical deve ser valorizada e não vista como um hobby. “Todo mundo fala 'ah, música não dá dinheiro', mas o que vale é você fazer o que você gosta. Se você vai atrás, se dedica, dá certo. É preciso se perguntar 'será que é isso mesmo que eu quero?', e se a resposta for 'sim', se agarrar nessa proposta”. Para quem busca aprender um instrumento, Bruno ressalta que amor e dedicação são os principais ingredientes. “É possível”, destaca: “Só com amor e dedicação você constrói o mundo”.


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