Straight Edge: Conheça os artistas sóbrios do hardcore punk de Santos

O movimento, considerado como um ato político, é livre de álcool e drogas

Por: Beatriz Araujo  -  17/07/21  -  09:01
   Movimento Straight Edge passa longe de drogas e álcool
Movimento Straight Edge passa longe de drogas e álcool   Foto: Divulgação

Reconhecido pelo som agressivo e energético, repleto de pessoas tatuadas e contestadoras, o hardcore punk pode ser sinônimo de subversão. Mas não, necessariamente, de vícios. A prova disso é o movimento Straight Edge (caminho reto, em tradução livre), uma subcultura do hardcore que desde os anos 80 ultrapassa estereótipos em pessoas sóbrias para enfrentar seus desafios – internos e externos.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


“Acredito que o Straigth Edge me levou para o lado positivo do hardcore”, afirma Leonardo Prado, de 39 anos, conhecido como Choco. Apesar de morar nos Estados Unidos desde 2011, ele nasceu em Santos e na adolescência começou a frequentar shows de hardcore na região e a andar com punks. “A galera era muito de beber e eu ia junto, mas não era minha vibe”. Até que ele conheceu o movimento e, aos 17 anos, se decidiu. Agora, são mais de 20 anos que não ingere bebidas alcoólicas, nem fuma. “Fui convicto de que levaria isso para sempre comigo”, o que não significou, porém, abandonar os velhos amigos.


Apesar de transformador, o Straight Edge não é uma filosofia de vida. Mas, assim como o hardcore, é um movimento político e social. Isso é o que acredita Milton Aguiar, santista de 35 anos e vocalista da banda de hardcore Bayside Kings. Ele é Straight Edge há cerca de 20 anos e para ele foi algo natural – unindo seu emergente interesse pelo hardcore e, em contrapartida, sua falta de curiosidade por bebidas e drogas. “Eu não preciso me autodestruir para bater de frente com o que não acredito”, ressalta.


Também foi assim para Juliana Salgado, santista de 31 anos, que apesar de não integrar uma banda diz ter crescido em meio à cena hardcore punk. “Foi onde eu fiz 90% das minhas amizades, aprendi a questionar tudo à minha volta e cultivei minha personalidade”. Ela conheceu o Straight Edge por conta de uma prima, que a levou a alguns festivais. Mas foi apenas aos 19 anos que ela se considerou parte do movimento.


“Nunca senti preconceito por fazer parte da cena. Mas, sim, por ser mulher dentro dela”, comenta. Além disso, ela diz que esperava mais inclusão e acolhimento no hardcore, justamente por ser um ambiente que estimula o senso crítico. Mas, com o passar dos anos, ela sente que as mulheres têm ganhado mais espaço. “Já no Straight Edge, especificamente, eu não vejo tanto esse avanço”.


Adriessa de Souza, santista de 38 anos, também diz já ter se deparado com preconceito por parte de alguns integrantes. Seus primeiros contatos com o movimento foram no final dos anos 90, na Baixada Santista. “Era uma cena bem forte, mas quase elitizada e não tinha muita diversidade”.


Atualmente, ela diz reconhecer a cena mais consciente, mas também sente que, no Brasil, o Straight Edge é muito menor do que era há 10 anos.


Hoje, Adriessa mora em Berlim e toca guitarra nas bandas Anti-Corpos e Eat My Fear. Ela nunca largou o punk, mas passou a se reconhecer como Straight Edge há apenas 6 anos, aos 33 anos. “Eu bebi desde os 13 anos, mas comecei a me questionar sobre o consumo de álcool”. Pensando sobre questões políticas e em amigos próximos com graves problemas com o alcoolismo, Adriessa ficou sóbria.


Já para Willians Cruz, santista de 33 anos, conhecido como Jurema, ser Straight Edge não tem um significado político, filosófico ou espiritual. Ele toca bateria na banda Asco e está imerso no hardcore punk desde os 14 anos de idade. Aos 18 ele se tornou Straight Edge e, poucos anos depois, tatuou um ‘X’ em suas duas mãos – . Mas tudo isso sem ‘romantismo’ envolvido: “só percebi que poderia me divertir estando sóbrio, que aproveitaria melhor os momentos dessa forma. E segui assim”.


   Leonardo, Adriessa, Milton, Filype, Willians e Juliana
Leonardo, Adriessa, Milton, Filype, Willians e Juliana   Foto: Divulgação

Leonardo Prado, ‘Choco’ - 39 anos, encanador e músico


“O Straight Edge me ajudou a enfrentar muitas coisas que eu poderia simplesmente ter fechado os olhos e usado algo para lidar. Acabei enfrentando tudo de frente e aprendo muito com isso”


Adriessa Souza - 38 anos, guitarrista da Anti-Corpos e Eat My Fear


“Não vivo livre de drogas por questões de corpo e mente. Mas, para mim, renegar ao álcool é algo super político. É continuar fazendo o que faço e seguir minha vida sem depender disso”


Milton Aguiar - 35 anos, músico, vocalista da Bayside Kings


“Na música eu interpreto meus conflitos, sendo sincero comigo mesmo. Ser sóbrio é uma forma de resistência. O mundo é muito pesado, mas o que eu faço é ser eu nos piores e nos melhores momentos”


Filype Ruiz - 38 anos, músico, designer gráfico e idealizador do podcast Diehard


“O que eu faço é só não consumir (álcool e drogas). Pensar que isso não é o mais comum e conseguir passar ileso por tudo isso, para mim, é muito bacana”.


Willians Cruz, ‘Jurema’ - 33 anos, operador de áudio e músico


“Quem está sóbrio tem à sua disposição o total de suas capacidades de compreensão, debate e proposição. Quem está sempre sóbrio tem essa totalidade disponível o tempo todo. O nome é só um detalhe”


Juliana Salgado - 31 anos, idealizadora da Super Vegan


“Eu acredito que o Straight Edge seja uma filosofia de vida que também é um ato político. É mais difícil derrubar o capitalismo quando se está alterado”


   O
O   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Logo A Tribuna
Newsletter