Se alguém diz adeus... o voo de Patrick Dimon

Pigeon without a Dove, sucesso do cantor, está de volta com Pai Herói

Por: João Pedro Feza, especial para A Tribuna  -  17/10/21  -  20:25
 Patrick Dimon fez imenso sucesso com a canção, incluída na trilha sonora internacional da novela Pai Herói, de 1979, agora no Globoplay
Patrick Dimon fez imenso sucesso com a canção, incluída na trilha sonora internacional da novela Pai Herói, de 1979, agora no Globoplay   Foto: Reprodução

Um grego cantando em inglês numa novela brasileira. A inesperada combinação amplificou o sucesso do cantor Patrick Dimon assim que suaPigeon Without a Dove estourou em Pai Herói – clássico de Janete Clair que acaba de chegar ao Globoplay. “É a minha música na telinha de novo”, festeja Dimon – que já morou em Santos.


A canção em questão até poderia ter sido “engolida” por um dos outros 13 hits da trilha sonora internacional da novela – como I Will Survive, de Gloria Gaynor, e How You Gonna See Me Now, de Alice Cooper –, mas imediatamente invadiu as rádios. “Tanto AM quanto FM. A aceitação foi geral”, relembra.


Pigeon Without a Dove (“Pombo sem uma pomba”) foi tema de Aline Gonçalves e Cirilo Baldaracci – personagens de Nádia Lippi e Jorge Fernando. “Minha carreira tinha começado dez anos antes e decolou de vez. Fiz programas do Chacrinha, do Bolinha, caravanas, festas... Rodei o Brasil dando entrevistas”.


Aliás, Dimon atribui boa parte do êxito justamente aos divulgadores da música espalhados por diferentes estados. “A gravadora sugeriu que eu ficasse três meses seguidos percorrendo as cidades. Começamos por Porto Alegre e parecia que não íamos parar mais”.


Romantismo

Ou seja: não foi obra do acaso ter se diferenciado numa trilha internacional tão bem-sucedida – e cuja capa se tornaria uma das mais emblemáticas da teledramaturgia. “Teve muito da minha força de vontade. De topar o desafio de levar a música a todos os lugares possíveis”.


Inegável também é que Pai Herói, já exibida pelo canal Viva, continua sendo uma “mãe” – ou “heroína” – para a carreira de Patrick Dimon. “O brasileiro é muito noveleiro. Isso não mudou. E, naquela época, o romantismo imperava. O público fazia questão de canções intensas e envolventes. A minha, modéstia à parte, é assim”.


Adaptação

E pensar que tal sucesso poderia jamais ter existido, não fosse a “sacada” do produtor e compositor Toninho Paladino. Foi ele, assinando como Anthony, o responsável por adaptar um trecho da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, para criar o que viria a ser o refrão da canção. Especificamente, a ária (parte cantada) “Sento Uma Forza Indomita”.


Em seu recente livro de memórias, 80 Anos Passam Depressa, lançado em 2017, Paladino cita Dimon entre aqueles talentos que ajudou a decolar.


“A verdade é que, pouco após a gravação, em estúdio na Avenida Paulista, e o efetivo lançamento, já passei a receber ligações de diferentes partes do mundo”, ressalta o cantor. “Foi mesmo incrível”.


No presente

A música se tornou responsável direta para que o primeiro “bolachão” completo de Dimon, com 11 canções, em 1980, faturasse discos de ouro, platina e diamante. Hoje, pode ser encontrada em todas as plataformas digitais – com destaque para vídeos no YouTube.


“É uma canção que não deixa os corações indiferentes. Foi assim que ganhou não só o Brasil, mas também cerca de cem países onde passou a ser executada. Aliás, toca até hoje. E, agora, novamente na TV”.


Nada mal para um pombo sem uma pomba: nas asas da novela que volta ao ar, segue voando longe.


De Samos a Santos

Nascido em Vathi, capital da ilha grega de Samos, terra do filósofo e matemático Pitágoras, Konstantynos Kazakos, ou Patrick Dimon, também viveu dois anos em Santos. Foi no final da década de 1960. “Meu pai, Níkolas Kazakos, era o equivalente a vice-cônsul da Grécia aí e também teve uma pequena fábrica de conservas na Cidade. Enfim, eu e minha família moramos no Boqueirão, Rua Soares de Camargo, perto da Conselheiro Nebias”. Ele enfatiza: “As lembranças de Santos são de um lugar ótimo que, depois, passei a rever nos shows. Foram vários e também em São Vicente, Praia Grande... É um público exigente o do Litoral, que não abre mão de qualidade”.


Seis idiomas

Dimon diz que, em suas apresentações, busca ser abrangente: canta em seis idiomas – e, assim, mergulha na emoção rasgada de clássicos em italiano, espanhol, grego, português, inglês e francês. “Muita gente achava que eu era de Paris por conta do nome artístico”. Ele também alcançou as paradas com She’s a Lady, assim como Eternal Love, da antiga novela mexicana Los Ricos También Lloran – a mesma que, nos anos 2000, ganharia uma versão no SBT.


Aristóteles Onassis era fã de carteirinha

Num tempo sem celulares e redes sociais, resta acessar a memória. Não sai da lembrança de Patrick Dimon o dia em que cantou para Aristóteles Onassis – magnata grego que também passaria para a história por ter se casado com Jacqueline Kennedy. “Havia outros cantores da Grécia, mas ele ficou surpreso comigo, porque apresentei boleros em espanhol”.

O feito, segundo Dimon, foi outras vezes repetido – inclusive na presença da ex-primeira-dama dos Estados Unidos. “Passaram a me convidar para alguns eventos”.


Do iate de Onassis na ilha privada de Skorpios a shows no Uruguai, Argentina, Itália... “Já fui bem nômade na carreira, inclusive em cruzeiros”, fala. “Assim, você conhece outras culturas e amplia a sua própria forma de ver o mundo”.


Nos últimos tempos, Dimon, hoje com 65 anos, vinha retomando a agenda de shows e entrevistas com alguma regularidade – esteve, por exemplo, nos programas de Jô Soares e de Ratinho. Com a pandemia, foi diretamente afetado.


Ele, que atualmente mora em Indaiatuba, região de Campinas, e mantém um programa semanal pela rádio Prima FM, na vizinha Monte Mor, avisa: está voltando aos palcos. “O canto é o meu sustento. E quero cantar novamente em Santos. Será emocionante”. Contatos para shows: (11) 9 9277-5004.


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