Roteirista de Santos está por trás dos textos de séries e novelas famosas

Marcos Ferraz fala do novo momento do mercado audiovisual e da carreira

Por: Stevens Standke  -  31/07/22  -  12:37
O santista Marcos Ferraz tem construído uma carreira bem-sucedida de roteirista
O santista Marcos Ferraz tem construído uma carreira bem-sucedida de roteirista   Foto: Oliver Tibali/Divulgação

O santista Marcos Ferraz tem construído uma carreira bem-sucedida de roteirista. Além de escrever peças e musicais que contabilizaram boa repercussão de público e crítica, em paralelo ao teatro, deixa sua marca nos roteiros de novelas como Reis e Gênesis (Record), de animações como Clube da Anittinha (Gloob), Irmão do Jorel (Cartoon Network) e Sítio do Picapau Amarelo (Globo), e de séries como Cidade Invisível (Netflix) e Mothern (GNT). Detalhe: em alguns projetos, o santista de 48 anos chegou, inclusive, a chefiar as equipes de roteiristas. Na entrevista seguir, Marcos fala dos impactos positivos e negativos dos streamings no mercado audiovisual brasileiro e relembra o início de sua trajetória no teatro amador de Santos.


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O seu trabalho mais recente é a segunda temporada da série Cidade Invisível, que deve estrear na Netflix em 2023. Como foi participar da equipe de roteiristas sem ter feito o primeiro ano do seriado?


Eu assisti muito aos episódios da primeira temporada, antes de começar a escrever. Também me ajudou o fato de que a preparação dos roteiros de um seriado ou novela costuma ser um trabalho em conjunto, que envolve várias pessoas. Mas, lógico, há exceções como a Gloria Perez, que faz os textos das novelas dela sozinha. No caso de Cidade Invisível, a equipe de roteiristas contou com cerca de dez pessoas. Foi como numa novela, em que, além do autor ou chefe de roteiro liderando os textos, há outros profissionais auxiliando na escrita do material. Para se ter ideia, quando fiz Reis, antes de a novela estrear, a gente escrevia de dois a três capítulos por semana. Aí, quando a trama entrou no ar, a equipe de roteiristas passou a fazer mais ou menos um capítulo por dia.


Como são os prazos em uma série?


Às vezes, leva-se um mês para se escrever o roteiro de um episódio. Como tudo é feito com antecedência, você tem mais tempo para apurar o texto. Sem contar que tanto uma novela quanto um seriado exigem, antes de começar a escrever os roteiros, que você realize um trabalho prévio de pesquisa dos assuntos ligados à história. Na sequência, prepara-se a sinopse da trama, que é como se fosse um conto e que deve ser aprovada pelos produtores, direção e pelo canal ou streaming. Concluída essa etapa, você faz a chamada escaleta, que é quando se começa a estruturar as cenas. Só depois disso que os diálogos são inseridos no material e se tem o roteiro propriamente dito. O roteiro é o ponto de partida de tudo, a produção depende dele para ir atrás das locações etc.


Os streamings estão ampliando bem o mercado audiovisual, não é mesmo?


Sim, as plataformas têm criado mais oportunidades de trabalho, devido à demanda por produções para compor seus catálogos. Ainda tem o lado positivo de que os streamings não querem que a diversidade se faça presente apenas nos seus conteúdos. Eles também adotam a política da representatividade nas equipes que trabalham nos projetos. Há a preocupação, por exemplo, de o núcleo de roteiristas e o set terem uma diversidade, de modo que contem com homens e mulheres brancos, homens e mulheres negros, orientais, pessoas trans etc. Agora, o lado não tão bom do impacto dos streamings no mercado audiovisual é o dos direitos autorais. Essa discussão está somente no início e se mostra de caráter mundial. Houve até um congresso na Coreia que tratou do tema.


E qual o ponto principal do debate?


Antigamente, primeiro você lançava um filme ou série em um país e, depois, vendia aquele material para outros lugares do mundo. Assim, cada uma dessas etapas ia aumentando o faturamento da produção e da equipe. Com os streamings, não tem sido mais desse jeito, pois a estreia de um filme ou seriado já se dá em escala global, reduzindo o retorno financeiro para os profissionais envolvidos. Discute-se, por exemplo, se os roteiristas passarão a ganhar também levando em consideração as localidades, os views...


As plataformas estão abertas para que projetos sejam apresentados por qualquer produtora ou profissional?


Há tanto a demanda de filmes e séries que vem do próprio streaming quanto a possibilidade de as pessoas do mercado apresentarem projetos para as plataformas. Isso é bacana, porque, antes, para chegar à TV, você precisava conhecer alguém de uma emissora. Hoje, os streamings contam com departamentos mais democratizados. Basta submeter o projeto no site ou no canal disponibilizado.


Como você percebeu que levava jeito para ser roteirista?


A primeira vez que percebi que gostava de escrever foi ainda na infância, quando fiz uma redação para a escola sobre as minhas férias. Mais tarde, aos 14 anos, comecei a fazer teatro, como ator, e fiquei participando de espetáculos e grupos amadores de Santos. Até que fui cursar a graduação do Célia Helena (Centro de Artes e Educação, em São Paulo). A partir daí, fiz teatro na Capital, participações na TV e, em 2001, como não passei no teste para atuar em um espetáculo, pensei: preciso escrever os meus próprios projetos, para não depender só dos outros para trabalhar. A primeira peça que escrevi foi A Sessão da Tarde ou Você Não Soube Me Amar, que teve o Tiago Abravanel no elenco. Já minha estreia na TV como roteirista se deu em 2006, na série Mothern, do GNT.


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