Renata Carvalho lança livro baseado na peça 'O Manifesto Transpofágico'

Por 11 anos, ela trabalhou especificamente com travestis e mulheres trans na prostituição, em Santos

Por: Júnior Batista  -  09/03/21  -  10:48
Renata faz um paralelo com a pandemia e a vida das travestis e trans
Renata faz um paralelo com a pandemia e a vida das travestis e trans   Foto: Carla Caniel/Divulgação

Quando as pessoas entendem seus talentos e decidem viver da arte, quem ganha é o público. E Renata Carvalho faz isso além da conta. Ela lança, neste semestre ainda, o livro inspirado em uma de suas peças mais conhecidas, O Manifesto Transpofágico. 


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Com direção de Luiz Fernando Marques, a peça narra a história do corpo travesti contada por Renata. Em cena, ela lança um manifesto sobre o nascimento desses corpos, mostrando a construção social e a criminalização que os permeia, do imaginário à concretude. “Os corpos trans são excluídos de espaços artísticos”, define ela.


A pesquisa, chamada de Transpologia, foi iniciada em 2007, quando Renata tornou-se Agente de Prevenção Voluntária de ISTs, Hepatites e Tuberculose. Por 11 anos, ela trabalhou especificamente com travestis e mulheres trans na prostituição, em Santos. A partir dessa experiência, em 2012, ela levou aos palcos o solo Dentro de Mim Mora Outra, no qual contava sua vida e travestilidade. Desde então, vem reunindo histórias, filmes, livros e peças de teatro sobre o tema.


“Discuto, em cena, os estereótipos viciados que nos colocam nessas únicas narrativas de erro, posição sexual, discriminação estética, da ausência... Estou nomeando essas narrativas que nunca foram estudadas”, diz Renata, ao contar que, desde que começou a estudar feminismo negro com a filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira Djamila Ribeiro, autora de Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras, 2019), percebeu como as formas de preconceito caminham juntas. O estudo trouxe lucidez à artista. 


“Descobri que as opressões estão interligadas. A questão do feminismo negro mostrada pela Djamila me impactou muito e me possibilitou entender meu corpo travesti”. Além do livro que está prestes a lançar, Renata foi incluída no Bichas Brasileiras - a história de 30 ícones LGBTQIA+, escrito por Patrick Cassimiro. Nele, dentre a série de ilustrações e histórias, está Renata. 


A atriz também é a organizadora de Prólogo, que inaugura a Coleção Traviarcado, lançado pela Editora Monstra. O texto Trans na política, não é um fenômeno, é luta! é de autoria de Bruna Benevides, travesti cearense, sargenta da Marinha, 1ª Mulher Trans na ativa das Forças Armadas no Brasil, autora da pesquisa anual sobre violência contra pessoas trans brasileiras desde 2017 pela Antra. O livro traz ainda a doutorando em Educação Sara York, ativista da causa LGBTI+ e o homem trans Ian Habib, artista cênico, artista visual e pesquisador.


Em paralelo


Ainda sobre a transexualidade, Renata faz um paralelo com a pandemia e a vida das travestis e trans. “A saúde trans é muito debilitada. Essa é a vida da travesti sem pandemia (na quarentena). Por isso, a grande maioria das pessoas trans está em estado depressivo ou com problemas ligados à saúde mental. A violência é quase estatuto para você ser travesti, um corpo trans”, diz ela, que remete o corpo trans a um julgamento incessante: “O corpo trans não é julgado, ele já é culpado. O corpo é criminalizado. É fácil torná-lo vilão”.


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