Produção da Querô Filmes recebe indicações ao Independent Spirit Awards

O longa-metragem Sócrates concorre a três prêmios: melhor ator, melhor filme e diretor revelação

Por: Eduardo Brandão  -  20/11/18  -  13:22
  Foto: Divulgação

O filme Sócrates, que conta a trajetória de um jovem de 15 anos, negro, homossexual, morador da periferia da Baixada Santista e que está aprendendo a sobreviver sozinho, após a morte da mãe, recebeu três indicações do prestigiado Independent Spirit Awards 2019, prêmio norte-americano considerado o Oscar do cinema independente.O longa da produtora santista Querô Filmes é dirigido pelo americano Alex Moratto e estreia nocircuito de festivais internacionais.


As indicações do evento promovido pela Film Independent, considerado um dos indicadores dos Prêmios da Academia (The Academy Awards), foram divulgadas na noite de sexta-feira (16). O drama brasileiro disputa nas categorias John Cassavetes (de melhor filme com orçamento inferior a US$ 500 mil), diretor revelação e melhor ator, para Christian Malheiros. A cerimônia acontecerá no dia 23 de fevereiro de 2019 - um dia antes da maior premiação do cinema.


O ator novato, de 19 anos, que deu os primeiros passos da carreira na região, vai disputar a estatueta com famosos como Joaquin Phoenix (Você nunca esteve realmente aqui), Ethan Hawke (First Reformed), John Cho (Buscando) e Daveed Diggs (Ponto Cego). Malheiros é formado pela Escola de Artes Cênicas de Santos. Ele foi escolhido entre centenas de candidatos e, este ano, estreou no teatro no espetáculo Fedra, do francês Jean Racine, dirigido por Roberto Alvim.


“Fui pego de surpresa (com a indicação) e estou extremamente feliz. Concorro com grandes atores. É uma felicidade que tem que ser comemorada, pois fazer arte no Brasil nunca é fácil. O longa é fruto de muito trabalho e foi feito com poucos recursos, mas com muito carinho e dedicação”, afirma Malheiros.


Na última semana, Sócrates venceu o prêmio Felix, do Festival do Rio, dedicado a obras com temática LGBT. “Quando o roteiro chegou a mim, me vi na personagem, por isso é especial. Todo mundo que assistiu ao filme se vê em algum momento, em alguma cena. O retorno do público tem sido ótimo”.


O roteiro e direção são do diretor brasileiro-americano Alex Moratto, jovem cineasta conhecido por seus curtas-metragens. “Em 2009, me voluntariei nas Oficinas Querô e me surpreendi com a trajetória de vida e os valores dos moradores das comunidades periféricas locais”, comenta o diretor.


Com orçamento de apenas US$ 20 mil (cerca de R$ 75 mil), o longa foi aplaudido em festivais internacionais como o de Los Angeles (Estados Unidos), Montreal (Canadá) e Grécia, e agraciado na categoria para títulos de baixo orçamento. Também recebeu menção honrosa na 42ª Mostra Internacional de São Paulo. “O filme está agora em circuito internacional. Na sexta-feira teve exibição dele na Alemanha. É gratificante fazer parte do projeto”, orgulha-se Malheiros.


O drama tem a participação de jovens de 16 a 20 anos das Oficinas Querô, projeto social que atua para transformar a realidade de adolescentes de baixa renda por meio de projetos culturais. “O longa é um olhar para os jovens de baixa renda que enfrentam todas as dificuldades sociais. É mais que a manutenção da chama do audiovisual no Brasil, é uma esperança para o futuro cinema nacional”, continua Malheiros.



Circuito comercial


O longa entra no circuito comercial brasileiro em 2019 e terá distribuição da O2 Play, que tem entre os sócios o cineasta Fernando Meirelles (Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira).


Embora não tenha chances de concorrer como melhor filme estrangeiro no Oscar (a indicação nacional foi O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues), o longa santista ainda pode obter indicações em outras categorias. Para isso, precisa estrear no cinema comercial de Los Angeles (EUA), este ano, e ficar em cartaz por pelo menos uma semana.


Caso isso ocorra, repetiria o fenômeno de Cidade de Deus – que teve quatro indicações à estatueta mais cobiçada da grande tela, mesmo sendo declinada para concorrer a filme estrangeiro pelo Brasil. “Fui apenas um instrumento que deu forma a essa história e essas pessoas, que são muitas no Brasil. Tenho uma trajetória no teatro há algum tempo, trabalhando, estudando. Agora, começo a ter a visibilidade que todo artista espera”.


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