Primeiro palhaço negro do Brasil tem história contada em espetáculo vicentino

"Benjamin – O Filho da Felicidade" será transmitido on-line todos os domingos do mês de forma gratuita, sempre com bate-papos sobre o protagonismo negro na sequência

Por: Beatriz Araujo & Colaboradora &  -  07/02/21  -  12:45
A peça se inspira na história real do primeiro palhaço negro do Brasil, que morreu em 1952
A peça se inspira na história real do primeiro palhaço negro do Brasil, que morreu em 1952   Foto: Fausto Franco/Divulgação

Uma criança negra que vivia com sua família em regime semi-escravo, fugiu com o circo e seguiu sofrendo o racismo na pele. Este é o início da história de Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil, hoje visto como referência por sua trajetória transformadora na área. Essa história de vida e obra, que inspira gerações, está sendo retratada na temporada on-line do espetáculo Benjamin – O Filho da Felicidade, por artistas de São Vicente.


“Nós precisamos falar sobre esse homem que teve sua história apagada pelo racismo estrutural que vivemos até hoje”, ressalta Miriam Vieira, que é atriz, diretora de teatro, afro-empreendedora e a idealizadora do projeto sobre Benjamin, que teve início em 2018.


Ela explica que Benjamin Oliveira, que faleceu aos 83 anos de idade em 1952, teve uma vida artística e rompeu preconceitos, sendo também o responsável por criar o circo-teatro. “Ele tem uma importância ímpar na história do teatro brasileiro”.


A peça que traz um recorte da biografia dessa consagrada figura será transmitida durante todos os domingos do mês, às 19 horas, de forma gratuita. Após o espetáculo, sempre haverá um bate-papo sobre questões diversas em torno do protagonismo negro na região, com pessoas que apoiam e batalham pela causa.


A programação pode ser acompanhada nas páginas do Facebook Benjamin O Filho da Felicidade, Produção Preta, Zopp Criativa Plataforma #JairMoreirae Movimento Amplo Cultural de São Vicente .


A produção de Benjamin – O Filho da Felicidadeé da Cia Trilha de Teatro, em sua maioria composta por artistas negros. O circuito on-line do projeto é realizado por meio da Secretaria da Cultura (Secult) de São Vicente, com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc.


Protagonismo preto


Neste domingo, o tema do bate-papo será O Protagonismo Preto na Cidade de São Vicente, com mediação de Miriam Vieira, idealizadora do projeto; Ronaldo Fernandes, responsável pela dramaturgia da peça; e Jair Moreira, que interpreta Benjamin na juventude.


“A Baixada Santista é uma região extremamente racista. Então temos que discutir quais são as políticas públicas voltadas ao povo preto nos campos da educação, cultura e além deles”, ressalta Miriam. Para ela, este cenário não é diferente no restante do país, mas, agora, há mais possibilidade de discussão.
Ao longo das semanas, os convidados para participar dos bate-papos também serão negros, explica Miriam.


“Precisamos discutir as questões sobre o nosso ponto de vista. A contribuição que o povo preto deu para a formação do povo brasileiro é infinita, mas embranqueceram nossa cultura. Então temos que falar de nós e criar referências para as gerações futuras”.


Inspiração


Miriam Vieira se deparou com a história de Benjamin pela primeira vez na década de 90 e estuda sobre o artista desde então
Miriam Vieira se deparou com a história de Benjamin pela primeira vez na década de 90 e estuda sobre o artista desde então   Foto: Danilo Tavares

“A história de Benjamin cruza muito com a história de artistas pretos, inclusive com a minha. É uma satisfação muito grande quando, depois da peça, alguém vira para mime fala ‘esse espetáculo fez com que eu me enxergasse negro’.Ou ouvir de uma criança, ‘eu não sabia que podia terpalhaço preto’. Esse reconhecimento é muito importante”, complementa Miriam Vieira, idealizadora e diretora da peça.


Circo nos dias atuais


Outra reflexão que o Benjamin – O Filho da Felicidadetraz ao público, de acordo com a idealizadora do projeto, é sobre as dificuldades que os artistas de circo enfrentam.


“Os circos estão abandonados pelas políticas públicas. Não os grandes circos, mas o pequenos, que viajam para o interior do interior”. Os artistas de circo que trabalham na rua, “sem lona”, também precisam ser reconhecidos, complementa Miriam.


Além disso, a questão da velhice e aposentadoria dos artistas também ganha destaque na narrativa.


Bate-papos


Confira os temas dos bate-papos que ocorrerão aos domingo do mês, após as transmissões do espetáculo Benjamin – O Filho da Felicidade:


- Este domingo (7) - O protagonismo preto na cidade


- Dia 14 - Circo sem lona, e a dificuldade dos artistas em trabalhar na baixada


- Dia 21 - Dramaturgia Preta


- Dia 28 - Escritas Pretas


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