Morte de Marília Mendonça coloca em evidência o feminejo

Rainha da Sofrência foi uma das precursoras de um dos movimentos em maior ascensão na música

Por: Bia Viana  -  13/11/21  -  09:46
  Maiara e Maraísa relembram de Marília Mendonça ao anunciar retomada de shows
Maiara e Maraísa relembram de Marília Mendonça ao anunciar retomada de shows   Foto: Reprodução/Instagram

O legado de Marília Mendonça, que morreu na semana passada em um trágico acidente aéreo, extrapola sua carreira de grandes sucessos. A Rainha da Sofrência foi uma das precursoras de um dos movimentos em maior ascensão no sertanejo, o feminejo, nicho musical feito por e para mulheres, onde elas assumem o protagonismo. O subgênero contraria a origem sertaneja, predominantemente masculina e tomada por discursos machistas.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Marília não foi a primeira das grandes artistas do sertanejo, mas pavimentou um caminho de maior empoderamento e representatividade por meio de suas letras. A cantora e compositora incentivou a expressão feminina, subvertendo e assumindo o controle das narrativas criadas por homens, que até então colocavam as mulheres em papéis submissos ou como meros objetos de desejo e ostentação.


Em A Culpa É Dele, botava fim na rivalidade feminina imposta às mulheres, colocando-se como amiga da mulher que foi enganada pelo mesmo homem com quem saía. Com De Quem É A Culpa, fala do abandono e descaso no fim de relacionamentos, que se sobressai em versos emocionantes e sinceros — “Me apaixonei pelo que eu inventei de você”, uma reflexão válida sobre as expectativas e pressões nas relações.


Respeito
Entre suas letras mais recentes, destaca-se Troca de Calçada, parte do último trabalho solo lançado por Marília. Nela, pedia respeito às mulheres na prostituição, argumentando como esse universo sombrio é retratado como escolha promíscua quando, na maioria das vezes, é consequência de uma vida de violências — abusos contra a mulher que acontecem em todas as esferas sociais e que afetam a todas nós.


O eu lírico feminino tornou-se um instrumento poderoso nessa nova geração de artistas femininas do estilo. Por meio dele, transcreveram relatos de violência, sofrimento, assédio e preconceitos, muito além da mera “sofrência amorosa”, que se popularizou com o sertanejo universitário.


Além de promover debates necessários, o feminejo também desconstruiu a narrativa do homem ‘macho’, que vai para o bar com os amigos, fita pretendentes e é ‘descolado’, enquanto a mulher espera em casa com o jantar.


Mais nomes
Além de Mendonça, duplas como Maiara e Maraísa ou Simone e Simaria, bem como artistas solo, como Bruna Viola, Paula Mattos e Naiara Azevedo, exaltam que está tudo bem em se aceitar como é, sair para o happy hour com as amigas, ficar com quem quiser e se desligar dos padrões estéticos.


Através de suas músicas, essas artistas tornaram discursos de amor próprio acessíveis às grandes massas e tornarem-se hinos populares, que ajudam muitas mulheres a se entenderem e sentirem mais livres.


Essa identificação com o público feminino, um movimento único dentro do segmento, é um feito único na história da música brasileira. Por essas e tantas outras coisas, obrigada, Marília.


Logo A Tribuna
Newsletter