Luthiers de Santos afirmam que especialização constante é rotina na ‘arte de reviver instrumentos'

Alguns luthiers chegam a trabalhar por mais de 15 horas por dia

Por: Giovanna Corerato  -  15/01/22  -  09:23
Atualizado em 15/01/22 - 18:00
Lucas Petrarchi conserta os instrumentos em sua oficina em casa.
Lucas Petrarchi conserta os instrumentos em sua oficina em casa.   Foto: Divulgação Lucas Petrarchi

Construir um instrumento ‘do zero’ ou trazê-lo de volta à vida: é pelas mãos dos luthiers, com sua técnica e experiência musical, que esse ‘milagre’ acontece. Justamente por esses detalhes, não é qualquer um que pode, ou consegue, exercer essa arte. “Muitos curiosos que ficam mexendo e não têm habilidades nem experiência com o instrumento”, diz Marcelo Oliveira Santos, proprietário de um centro musical onde realiza serviços de luthieria. O músico e produtor de 46 anos afirma que, para exercer a função, o interessado tem que saber tocar pelo menos um pouco do instrumento a que irá se dedicar na luthieria.


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O instrumento de Marcelo é a bateria e ele presta serviços para os músicos do Charlie Brown Jr. “Eu faço desde o Pelado, o primeiro baterista, passei pelo Graveto, e também pro Pinguim”.


O interesse de Marcelo pela arte começou justamente porque ele já tocava alguns instrumentos e queria mantê-los regulados e em boas condições. Após um ano trabalhando apenas com o conserto e manutenção, decidiu investir em um curso de luthier, em São Paulo, o qual pagou com ferramentas que ele mesmo desenvolvia.


“Os instrumentos nem sempre vêm da maneira mais adequada para serem tocados. O ideal é passar por um luthier primeiro, antes de começar a tocar”.


Percalços


Além da bateria, trabalha também com instrumentos de corda. Já ousou construir um baixo e uma guitarra - além de vários de percussão, a sua praia. Mas não vê muito mercado para o artesanal. “O brasileiro não tem esse costume de valorizar os feitos a mão. O que interessa é mesmo o preço”.


Melhor do brasil


Em meados dos anos 2000, Vitor Gomes, de 35 anos, que já se dedicava ao contrabaixo elétrico, começou a estudar luthieria na concorrida Universidade Livre de Música Tom Jobim (ULM) de São Paulo. Fez cursos também na Unversidade Federal do Paraná (UF-PR). Desde 2007, atua como luthier em Santos.


“Nos cursos, aprendemos as técnicas e teorias, mas a mão para o fazer artesanal só é conquistada com muitos anos de dedicação”, afirma, do alto de seus já 15 anos de experiência.


A especialidade são os instrumentos de corda, desde os dedilhadas, como violões, guitarras e contrabaixos, até os de cordas friccionadas, como violinos, viola erudita, e violoncelo.


Muita calma


Tempo e atenção. Essa é a combinação mágica para o sucesso no trabalho de luthier, avalia Vitor. “Tudo deve ser feito com muita calma. Quando fazemos o serviço com pressa, detalhes importantes, tanto para a qualidade sonora, quanto mecânica, acabam passando desapercebidos. Isso tudo exige tempo, muito tempo. Às vezes, trabalhamos mais de 14 horas por dia. Só quem é luthier sabe”.


Médico de instrumentos


“O luthier é um médico de instrumentos”, afirma o jovem que já abria suas guitarras para fazer regulagens aos 16 anos, Lucas Petrarchi. Hoje, com 22, é músico profissional e realiza serviços de luthieria em instrumentos de corda há 3 anos.


Além de ‘fuçar’ seus próprios instrumentos, Petrarchi também se dedicou a vídeo-aulas sobre o assunto. Hoje, faz um curso em São Paulo. “É muito legal acompanhar de perto esse processo de criação do instrumento. Eu pego um pedaço de madeira e, depois de muito trabalho, a vejo fazendo som”.


Em sua visão, um dos maiores desafios na arte são as particularidades de cada cliente. “O instrumento é muito particular, cada músico tem um jeito de tocar. Acaba sendo um desafio entender e se adequar ao gosto do cliente”.


“Chegaram pra mim durante a pandemia muitos instrumentos que estavam há mais de 5 anos parados. As pessoas ficaram muito tempo dentro de casa, olharam para aquele instrumento e decidiram voltar a praticar”.


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