Andar nas ruas sozinha, à noite. Trabalhar como caixa em um supermercado. Fazer uma entrevista de emprego. Essas podem parecer situações corriqueiras, mas para pessoas transgênero, as vivências mais básicas são negligenciadas pelas múltiplas formas de preconceito que ainda se perpetuam em nossa sociedade.
A cantora santista Lia Clark pensa no Dia da Visibilidade Trans, celebrado nesta sexta-feira (29), como uma forma necessária de provocar o debate. Entretanto, a drag queen questiona o excesso de promessas e falta de atitudes no combate ao preconceito, por parte da sociedade e de instituições públicas. "Quantas pessoas trans trabalham com você? Quantas pessoas trans você tem no seu círculo de amizade? Essa comunidade não está 100% inserida na sociedade, é uma problemática muito grande”.
Engajada na causa, Lia entende a transfobia como fruto de grande desinformação e desinteresse por parte da sociedade em conhecer todas as identidades presentes na sigla LGBTQIA+. “As pessoas insistem em colocar tudo em uma caixa, acham que ser travesti é simplesmente colocar uma peruca e sair maquiada pela rua. Não dão o devido valor às pessoas que vivem isso na pele”.
Para a artista, a música pop tem sido uma força emancipadora para muitas pessoas trans. Cantoras como Linn da Quebrada, Pabllo Vittar e Gloria Groove ajudam a colocar a causa em pauta e enaltecer as necessidades dessa população. “A comunidade LGBTQIA+ tem muito a oferecer. Não só a arte drag, mas toda a comunidade. Com a ascensão desse movimento na música de drags, trans, lésbicas e gays, a sociedade está tendo cada vez mais oportunidade de conhecer quem são as pessoas por trás da sigla”, reflete.
Em um dia tão importante nessa luta, criado pelo Ministério da Saúde como parte de uma campanha em reconhecimento aos direitos desta comunidade, Lia menciona boas práticas para pessoas cisgênero (indivíduos que se identificam com o sexo biológico que nasceram) ajudarem na luta contra o preconceito.
“A primeira coisa que as pessoas precisam fazer é reconhecer seus privilégios. O segundo passo é dar voz às pessoas trans. Se você é artista, coloque artistas trans no seu palco, compartilhe informações nas redes sociais. Reconheça essas pessoas como desfavorecidas, marginalizadas, e entenda as violências que elas sofrem”, aconselha Lia.
Big Brother Brasil
Lia Clark também ressalta a importância de programas como o BBB 21 na disseminação de informação sobre a comunidade. Nesta semana, a cantora se posicionou nas redes sociais sobre uma denúncia feita por Lumena, participante do reality, sobre transfobia. "Tentei conscientizar ao máximo meus seguidores sobre o que estava acontecendo. Odiscurso dela é muito importante, não só porque é um programa de entretenimento que debates sérios não podem ser discutidos", comenta.
Na ocasião, Lumena foi descreditada por internautas nas redes sociais e taxada como "militante demais". Para Lia, esse efeito também é fruto de preconceito racial. "Ano passado teve toda a guerra do machismo e vi muito essa comparação. Ano passado teve a ascensão da Marcela logo no começo como super 'sensata' e agora a Lumena, uma mulher preta, está sendo demonizada".
Além disso, Lia Clark ainda ressalta a falta de presença de pessoas trans no Big Brother Brasil. "Falta a representatividade trans dentro do programa. Seria muito impactante uma pessoa trans falar em rede nacional sobre suas experiências e vivências. Fica a dica, Boninho!", conclui.