Guilherme Briggs reforça amor à dublagem e fala sobre personagens icônicos em Santos

Um dos maiores dubladores do País conversou com A Tribuna; confira a entrevista

Por: Anderson Firmino  -  20/03/23  -  13:59
Dublador conversou com fãs durante apresentação no Anime Santos Geek Fest
Dublador conversou com fãs durante apresentação no Anime Santos Geek Fest   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Ele tem a força do Superman, a coragem de Buzz Lightyear, a simpatia de Scooby-Doo, a sensibilidade de Brendan Frasier. E a introspecção de Guilherme Briggs. Um dos dubladores mais famosos do País, com mais de 850 mil seguidores no Instagram, se diz tímido, tem fala mansa, mas ideias bem sensatas. Consegue lidar com o amor dos fãs - e o "hate' de alguns poucos - e se consolida em uma indústria cada vez mais em expansão, com o crescimento de conteúdos em streaming, animes e jogos. Ele conversou com A Tribuna antes de sua apresentação no Anime Santos Geek Fest, no último sábado.


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O dublador, por muito tempo, preferiu o anonimato, sendo reconhecido apenas por sua voz. Hoje, vocês são celebridades junto ao público. O que mudou?

Isso começou no final dos anos 1990 e início dos 2000, quando muita gente começou a criar perfil no Orkut, por exemplo. Foi uma coisa bem inesperada, porque eu não contava com que a gente fosse conhecido por foto. Inclusive, alguns dubladores falavam 'Não vou colocar foto', para manter um pouco do mistério. Hoje, é a cosia mais comum. É gostoso ser reconhecido como pessoa, não só como profissional.


Tem o outro lado da moeda, quando as pessoas não o reconhecem, como o repórter durante um ao vivo em um telejornal em Teresópolis/RJ. Como foi?

Eu fiquei amigo dele. O repórter não me reconheceu. Ele estava distraído, eu de cabelo comprido. Ainda trolei ele. Quando me encontrou pela segunda vez, e o pessoal o havia avisado 'É o Guilherme Briggs!'. Resolvi sacanear ele, dizendo que dublava o The Rock e o "irmão gêmeo" dele Dwayne Johnson (nome verdadeiro de The Rock). E ele me disse 'Você é um canalha' (risos).


O mercado de dublagem vem crescendo muito e indo em várias direções, como os jogos e animes. Você deixou de dublar recentemente um personagem do anime Chainsaw Man, por conta da ação de haters (por haver mudado uma expressão). O que dá para tirar dessa história?

Fica de lição para mim é que devemos tomar cuidado com a internet. A gente não sabe quem está do outro lado. Às vezes, você fala uma coisa com toda boa vontade, explicando, colocando seus pontos de vista, o que você acha de uma situação, e há pessoas do outro lado que não vão entender e podem até te atacar. Aprendi que tenho que ficar mais resguardado. Postar minhas coisinhas, ficar quieto. Falar coisas edificantes, não revidar, sem reação. É o mundo que vivemos hoje. As redes sociais são muito pesadas hoje, embora também possam ser deliciosas. Não vou ficar me machucando mais com isso.


Para encerrar: como foi narrar um vídeo do Vasco em homenagem ao Roberto dinamite, por conta de sua morte?

O pessoal do Vasco procurou a minha agente. Não torço para nenhum time. Eles me mandaram um texto que me emocionou. Aceitei na mesma hora. Agora, querem marcar um dia de eu ir ao estádio, conhecer os jogadores, ganhar uma camisa. Acho que sou vascaíno (risos).


Um dos atores que você dubla é o Brendan Frasier, vencedor do Oscar de Melhor Ator por A Baleia. Como foi emprestar a voz a um personagem tão delicado, numa história dramática?

Acompanho a carreira do Brendan, inclusive com esse hiato que teve, sei do assédio que sofreu, problemas de divórcio... Não foi fácil a trajetória dele. Vê-lo retornando, e tendo uma interpretação tão madura, me impressionou. Sei que ele é bom ator, mas não que era tão espetacular assim. No filme, em todas as cenas que ele chora, eu choro junto. Tive a ajuda do estúdio e a diretora de dublagem foi maravilhosa. Me deu todo apoio, me deixou totalmente livre, chorava comigo. Com isso, pude puxar do meu íntimo tudo o que ele estava sentindo, aos ponto de ter que parar porque estava chorando muito. É uma dublagem de entrega.


Cada ator tem um processo criativo, de composição. E isso também se aplica aos dubladores, não? Como foi no caso do Henry Cavill, o Superman?

O Henry Cavil tem o estilo dele. procuro tentar humanizá-lo ainda mais. Ou tentava, porque ele não é mais o Superman. Mas sempre o humanizava ainda mais, como faço nas animações. O Cavil é sempre bom fazer. Porque vou sempre associá-lo ao Superman.


Qual o personagem icônico de outro dublador que você gostaria de fazer?

Já estou fazendo. Queria muito homenagear o Orlando Drummond. Desde o final dos anos 1990, ele queria que eu fizesse o Scooby-Doo. 'Quero que você me substitua', dizia. Era um cara muito generoso. Quando consegui fazer, finalmente, o Scooby-Doo, ele ainda era vivo, e contei ao seu Orlando, que ficou muito feliz. Ver a empolgação dele com isso, para mim, foi o ápice.


Como é ser a voz da Disney? Você dubla o Mickey Mouse, que é a cara de uma empresa centenária. Sem falar no Buzz Lightyear, outro marco da animação.

Ser a voz do Mickey Mouse é o sonho. a voz da empresa. Tanto que quem fazia era o próprio Walt Disney. Levo muito a sério isso e acho muito lindo o que ele representa: criatividade, bom humor, os bons ensinamentos. Acho lindo, gosto muito dele. E O Buzz Lightyear é meu sonho de criança. Quem não gostaria de ter um brinquedo daqueles? Para mim, além da parte técnica, é um filme de computação gráfica que revolucionou em 1995. E me surpreendi com a história, com as falas, o enredo, as interações, os personagens. Tudo é muito rico. Toy Story é incrível tecnicamente, mas de coração, é ainda maior .


E como foi com o Marcos Mion (ele assumiu a voz de Buzz no primeiro solo do personagem, gerando inúmeros comentários nas redes sociais)?

O Marcos Mion entrou porque, no original, o Chris Evans (o ator de Capitão América) passou a fazer o Buzz real. Eu sou o de brinquedo. E o Marcos Mion me tratou com extrema elegância e carinho. Foi muito bom conhecê-lo, é uma pessoa muito boa. Não me incomodo dele fazer, de forma nenhuma. É outro Buzz. Falei para ele: 'Faça da melhor forma, com seu estilo, seja feliz e cuide do Buzz com amor e carinho'. É isso que importa.


Hoje em dia, há um grande número de estúdios de dublagem no Brasil, ao contrário de 30 anos atrás, por exemplo. Que dica você dá para quem gostaria de começar no trabalho de dublagem?

Que não vise fama, vaidade, e faça porque gosta mesmo de cinema, de teatro. É como o cara que deseja ser um grande cozinheiro, mas quer ser famoso apenas, a comida dele não vai ter gosto. Não adianta ser famoso se a comida é ruim. Você precisa pensar na qualidade artística, e não na fama. Ela pode ser consequência.


Mesmo com o tempo de estrada, ainda se cobra muito?

Me cobro, mas entendo também que a imperfeição é legal. Quando, às vezes eu erro, ou a coisa não fica tão perfeita, eu digo 'Tá bom, não tem problema'. A perfeição total não existe.


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