"Gambiarra" reúne poemas de Ademir Demarchi

Situação política do País está presente nas páginas da coletânea

Por: Da Redação  -  06/11/18  -  15:56
  Foto: Divulgação

Fazer poemas é, por si só, resistir. Em tempos bicudos, então, os versos adquirem poder de fogo. Foi com esse espírito que o poeta Ademir Demarchi organizou Gambiarra: uma pinguela para o futuro do pretérito (Editora Urutau, 106 págs). A mais recente obra do artista de Maringá (PR) radicado em Santos traz sua poesia mais contundente do que nunca.


O escritor explica que escreveu os poemas do livro entre 31 de agosto de 2016, quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu o impeachment, e 7 de abril deste ano, dia em que o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi preso. Ou seja: a conjuntura política permeia todas as páginas da coletânea. “A intenção é registrar esse momento que o País atravessou, com tantas contradições. Meu trabalho foi expor as fraturas e absurdos”.


O nome da obra, inclusive, faz uma menção irônica ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que disse que o Governo Michel Temer (MDB) era uma ponte necessária para o futuro.


“Eu brinco no título que a atual administração é, na realidade, uma gambiarra. E que não há ponte alguma, mas uma pinguela para o passado”, comenta. “O golpe de estado aplicado em Dilma se evidencia a cada dia. Agora, com a assunção do juiz Sérgio Moro como ministro do Jair Bolsonaro (PSL). Uma ferida ética para o País”.


Demarchi cita o procurador Deltan Dallagnol como exemplo do descalabro que atingiu as instituições brasileiras. O magistrado afirmou que não tinha provas, “mas tenho convicção”, ao oferecer uma denúncia contra Lula. “A Constituição é desrespeitada repetidas vezes. Ter só convicção não permite a ninguém prender outra pessoa. Supostamente vivemos num Estado Democrático de Direito e ainda são necessárias provas para se julgar”.


O escritor concorda que o volume reúne os poemas mais virulentos de sua biografia. Assim, sobra para todo mundo – como o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) (cabral/ à deriva nas prisões/ tenta desviar umas joias/ pra sair da cadeia com/ tornozeleira de diamantes), o Congresso Nacional (mais de 80 deputados/ mudam de sigla/ na janela da infidelidade) ou Temer (michel sai à francesa/ falseando à brasileira a miguelagem/ diz que se separou/ mas à margem/ continua bem-casado/ com o cargo).


O paranaense garante que a obra não tem um caráter ideológico, ainda que manifeste críticas diretas ao atual grupo que está no poder. “O poeta tem que ser radical, contra tudo. Tem que ser independente, não pode estar dentro de um partido”, analisa. “Ao poeta é dado pensar. E não se pode ter a liberdade de pensar comprometida”.


Então, quem acha que apenas o atual presidente e companhia estão na mira, engana-se. Há petardos lançados também na direção de seus opositores. O poema Guerrilha é um exemplo (a esquerda hoje/ não pega em armas/ que não façam rir).


Por outro lado, o escritor foi convidado para integrar o livro-manifesto Lula Livro/Lula Livre, junto com artistas do calibre de Augusto de Campos, Laerte, Chico Buarque e Raduan Nassar. “O meu poema publicado lá (Enquanto Isso) é até ameno perto de outros deste livro novo”,brinca.


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