Exposição do 'Picasso brasileiro' tem 200 obras para ver em SP

A arte de Ivan Serpa está em mostra gratuita no CCBB, e explora as facetas do artista plástico

Por: Egle Cisterna  -  30/01/21  -  11:19
Ao longo da exposição, o visitante passeia pelas várias fases do autor
Ao longo da exposição, o visitante passeia pelas várias fases do autor   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O Picasso brasileiro. É dessa forma que um dos maiores especialistas na obra do artista plástico carioca Ivan Serpa, morto em 1973, aos 50 anos, o define. O mestre em História da Arte Hélio Márcio Dias Ferreira é um dos responsáveis pela exposição Ivan Serpa: a Expressão do Concreto, que abre ao público na próxima quarta-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, na Capital, e que ATribuna.com.br visitou antecipadamente.


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Em 200 obras, o público pode ver uma retrospectiva das principais fases daquele que se tornou uma referência para novos caminhos na arte visual nacional. Ao visitar a mostra gratuita, o público conhece um pouco do universo de Serpa logo no primeiro espaço, dedicado à memória, com objetos pessoais do artista, muitos deles de seu ateliê, preservado pela família até hoje. Ferreira teve acesso a esse material há 30 anos, quando conheceu a viúva do artista, Lygia Serpa, que preservava o local de trabalho em casa, como se ele estivesse presente.


Ao longo da exposição, o visitante passeia pelas fases do Concretismo, da Colagem sob pressão e calor, Mulher e Bicho, Abstração Informal, Crepuscular, Op-Erótica, Anti-letra, Amazônica, Mangueira (em homenagem à escola de samba) e Geomântica.


Jackie Kennedy


Apesar das diferenças em cada época, o que fica claro é que Serpa é a essência de sua obra, que reafirma sempre o seu cuidado com a estrutura e a ordem de cada composição. A obra Beijo, de 1966, da fase mais próxima da pop art de Serpa, em que um casal surge se beijando, é uma das obras que esconde uma história afetiva e curiosa. A pintura, em óleo sobre tela, teria sido cobiçada pela ex-primeira dama Jackie Kennedy, que não chegou a comprar a tela.

“Depois, um construtor brasileiro chegou a perguntar para Lygia qual era o sonho dela e ela respondeu que seria ter uma casa na praia. Ele, então, pediu que ela escolhesse em qual praia e como queria a casa em troca desse quadro. Mas a paixão de Lygia falou mais alto e ele continua até hoje com a família”, conta Ferreira.


Fase negra


Outra sala é a da fase Negra, que o artista preferia chamar de Crepuscular. Num ambiente de pouca luz, com paredes negras, telas mostram personagens com feições tristes, distorcidos. “Aqui, Ivan está preocupado com o mundo em guerra, com a fome. É um grito de cidadania, com um expressionismo concreto, uma geometria disfarçada de gestualidade. Muita gente não gostaria de ter um quadro assim em casa, mas o próprio Ivan dizia que ele não pintava para salas de visitas”, diz Ferreira, que divide a curadoria da exposição com Marcus de Lontra Costa.


O artista


Serpa foi um dos responsáveis pela criação e liderança do Grupo Frente, que contou com Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Abrahan Palatinik, Hélio Oiticica e Aluísio Carvão. Também teve papel fundamental na difusão e formação de novas gerações da arte, com projeto de aulas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.


O potencial do artista foi reconhecido desde cedo. Em 1951, foi premiado como melhor pintor jovem na primeira edição da Bienal de São Paulo. A mostra que passou pelo Rio e Belo Horizonte, tem em São Paulo uma montagem exclusiva. Depois, segue para Brasília (DF).


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