Documentário mostra rotina da produção artesanal de violão japonês feito por luthier de 92 anos

O produtor musical Robson Toma, de Praia Grande, nasceu e cresceu vendo seu pai, Kamemitsu Toma, confeccionar o sanshin

Por: Natalia Cuqui  -  06/10/21  -  09:26
 Kamemitsu Toma tem 92 anos e começou a produzir manualmente os sanshin, instrumento de corda japonês.
Kamemitsu Toma tem 92 anos e começou a produzir manualmente os sanshin, instrumento de corda japonês.   Foto: Arquivo Pessoal

Na cultura japonesa, há um instrumento musical muito comum, parecido com um banjo, chamado de shamisen, ou sanshin. O produtor musical Robson Toma, de Praia Grande, nasceu e cresceu vendo seu pai, Kamemitsu Toma, confeccionar o sanshin. Dessa história pessoal, e amorosa, veio a inspiração para realizar um documentário dessa tradição. O projeto é um dos selecionados na terceira temporada da Colaboradora – Artes e Comunidades, do Instituto Procomum.


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Kamemitsu, que atualmente mora em São Paulo, tem 92 anos de idade e sempre tocava e cantava ao som do instrumento japonês. Ele é um dos poucos luthiers que confeccionam o sanshin.


“Em Okinawa, é o sanshin que representa a alma da família. O sanshin representa o símbolo da ilha, é um lance de tradição, porque se passa de pai para filho. Okinawa, diferente do resto do Japão, não tem uma cultura de guerra, por ser um povo que já era dominado. A resistência deles era o instrumento, era a forma de cantar, a dança, as vestimentas”, explica Robson.


Instrumento Sagrado

O sanshin é um instrumento de cordas, parecido com um banjo, esculpido na madeira de forma totalmente manual (veja ao lado). Ele surgiu na China, mas foi em Okinawa, no Japão, que se tornou um objeto sagrado, que representa a alma da família. Cada luthier possui uma técnica de confecção, e nunca são produzidos dois sanshins iguais, por serem um produto artesanal.


O pai de Robson começou a se dedicar a essa tradição há cerca de 30 anos, quandose aposentou como engenheiro. Foi então que seu filho decidiu gravar a produção e criou o documentário, batizado de Sanshin – Memórias e Resignificações. Robson também está aprendendo a confeccionar o instrumento, para passar o conhecimento para as próximas gerações – como também é de praxe.


“O documentário é uma necessidade. A maioria dos luthiers que fabricam o instrumento tem mais de 80 anos e são raríssimos. Dos amigos do meu pai, quetambém faziam os sanshin, vários já se foram. É um conhecimento muito artesanal, não é um instrumento fabricado em série. Por isso, tinha que tirar a ideia da minha cabeça”, contou.


Memórias

Kamemitsu nasceu no Brasil, mas seus pais vieram de Okinawa. Ele guarda em casa fitas cassete com gravações de reuniões em família nos anos 1950, onde todos passavam o dia cantando e dançando ao som do sanshin.


Robson, que também é músico, lembra que era bem novo quando viu seu pai esculpir os primeiros shamisen e que conversava bastante sobre o tipo de madeira que deveria usar, para que o som ficasse melhor.


“Meu pai é como se fosse um guardião de um conhecimento que é um símbolo da identidade de Okinawa, um símbolo da família. Toda família de Okinawa tem um sanshin em casa, que foi do pai, do avô, e isso é repassado. Tem instrumentos aqui com mais de 80 anos”.


A estreia do documentário está marcada para a primeira quinzena de novembro, ainda sem data específica, nas plataformas do Instituto Procomum. Por conta da pandemia, ainda não se sabe se amostra será presencial.



A palavra sanshin quer dizer, literalmente, ‘três cordas’. A grande semelhança, em aparência e nome, com o sanxian chinês sugere a origem, já que Okinawa era governada pelo reino chinês de Ryukyu antes dos japoneses. O sanshin evoluiu no Japão para tornar-se o shamisen, instrumento similar, mas de maior porte. Há quem se refira ao sanshin como jabisen, que quer dizer ‘três cordas de cobra’, porque o revestimento tradicional é feito em couro de cobra.


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