Dia da Mulher: conheça três artistas que fazem a diferença na cultura

As trajetórias de Daura Menezes, Juliana Bordallo e Paula Valente se encontram na luta por empoderamento e igualdade

Por: Bia Viana & Da Redação &  -  08/03/21  -  02:48
A atriz Juliana Bordallo iniciou sua carreira na palhaçaria bem cedo
A atriz Juliana Bordallo iniciou sua carreira na palhaçaria bem cedo   Foto: Divulgação

Oito de março não é um dia para distribuir flores. O Dia Internacional da Mulher é sobre conscientizar e lutar, denunciando a falta de respeito, igualdade e direitos básicos que as mulheres enfrentam através dos séculos, como herança de uma cultura patriarcal normatizada.


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O entendimento sobre termos importantes dessa causa e o apoio às pautas das mulheres são o primeiro passo para encontrarmos soluções para as desigualdades, que ainda assolam as sociedades contemporâneas de diversas formas. Para achar novos apoiadores nesses movimentos, muitas artistas têm dedicado suas vidas a projetos políticos, sociais e culturais que ajudam a amplificar vozes, educar as novas gerações e promover impactos sociais. 


Para homenagear essas mulheres visionárias que trabalham pela equidade, iniciamos uma semana de reportagens apenas com artistas do sexo feminino, da Baixada Santista e do mundo, que fazem de seus trabalhos ferramentas de transformação contra preconceitos. Conheça três delas na estreia desse especial. 


Representatividade


Legenda: Daura começou o projeto #EuSoul013 como uma forma de representatividade e reconhecimento da beleza negra. (Foto: Acervo Pessoal)


A santista Daura Menezes começou sua carreira na fotografia a partir da dança, apaixonada pelo brilhantismo dos espetáculos. “O mercado era muito complicado na época, então fiz faculdade de Publicidade e Propaganda e trabalhei no Banco do Brasil, sempre estudando fotografia de dança”. A partir do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre o papel do negro na publicidade brasileira, apresentado na Universidade Santa Cecília em 2003, Daura percebeu que aquele assunto extrapolava a teoria.


“Revisitando meu portfólio, notei  que eu não tinha mulheres negras nos meus ensaios. Conversei com algumas amigas negras e perguntei por que isso acontecia, e elas me explicaram que não gostavam de ser fotografadas por profissionais, porque o resultado era esbranquiçado na hora das edições”. 


A inquietação com o tema levou a artista aos estudos. “Pesquisei a luz e equipamento ideais para deixar a cor da pele o mais fidedigna possível. Depois de uns 30 ensaios diferentes, percebi que seria um trabalho fotográfico para evidenciar a cor natural da pele”, conta ela. “Isso foi muito profundo. A pele negra não é única. Não só pelos traços físicos como as cores, que vão do negro retinto até peles naturalmente avermelhadas. Há um colorismo tão grande que exige cuidado. A cor da pele é uma identidade muito forte que precisa ser respeitada”.


Legenda: Montagem do projeto #EuSoul013, idealizado pela fotógrafa Daura Menezes.
Legenda: Montagem do projeto #EuSoul013, idealizado pela fotógrafa Daura Menezes.   Foto: Daura Menezes

De um estudo de luz, nasceu a #EuSoul013, uma exposição digital que coloca fotos de mulheres negras santistas em outdoors da região. “Quando elas se veem fotografadas, percebem que tem uma voz. Esse projeto é um chamamento: convoco as mulheres negras a serem a referência de beleza que elas não tiveram”. Para a artista, o objetivo é combater o racismo usando a beleza.


A exposição está disponível até 4 de abril pelo site da autora e da Up Time Gallery, a qual integra uma equipe de artistas plásticos. O projeto continua em andamento, com mais de 5 mil fotos e 17 montagens em outdoors santistas, e será expandido para outros lugares do mundo em trabalhos colaborativos. 


Protagonismo


A atriz Juliana Bordallo iniciou sua carreira na palhaçaria bem cedo. Em 2001, a santista integrou a Troupe Tralha Médica como médica clown nos hospitais da Baixada Santista. Em 2016, após integrar a Bella Cia., descobriu a Rede de Palhaçaria Feminina, uma comunidade brasileira para mulheres circenses. Desse momento em diante, percebeu que um novo movimento estava surgindo. Em 2016, nasciam As Praiaças, um grupo de mulheres apaixonadas pelo riso que compreendiam a identidade feminina no humor.


Segundo Juliana, entre o trabalho com espetáculos, os encontros da Palhaçaria Feminina possibilitaram um estudo sobre as mulheres protagonistas da palhaçaria. Conforme se aprofundava nas raízes das mulheres circenses, mais entendia a importância do protagonismo feminino e da dramaturgia feminista.“Como em tantos cenários, a perspectiva masculina nos silenciou. Nos colocou sempre na figura de auxiliar, ou quando fazia números que nos representavam, nos colocava como histéricas, loucas, invejosas ou objetificando nossos corpos. Uma ficção da imagem deles sobre nós”, relata.


A construção da narrativa feminina enfrentou muita exclusão, mas, hoje, ela se desenvolve como uma forma de potencializar a voz feminina e sua visão de mundo. “As mulheres no circo estão ocupando, existindo e se colocando com muita potência e qualidade”. Com esse pensamento, escreveu o projeto Dramaturgia Feminista Voltada à Palhaçaria, que identificou a trajetória das mulheres no circo e trouxe uma abordagem feminista sobre as produções circenses em apresentações on-line.


Para Juliana, o projeto contribui com o fomento à cultura circense santista ao reconhecer a resistência feminina na cena. “As mulheres circenses estão provando o quanto é possível aliarmos o riso às nossas histórias. Não precisamos trazer estereótipos; ressignificamos esses padrões estabelecidos pelo sistema patriarcal e tratamos da mulher real, corpos reais e todas as camadas que permeiam nossas ‘mulheridades’”, descreve Juliana.


Sororidade


Legenda: Paula Valente é saxofonista e uma das fundadoras do projeto Jazzmin's Big Band. (Foto: Paulo Rapoport)


Apoiar outras mulheres para que todas cresçam e sejam livres juntas, motivando as novas gerações a alcançarem novos espaços e serem protagonistas em áreas ocupadas exclusivamente pelos homens. Essa é a premissa da Jazzmin’s, a primeira big band brasileira formada inteiramente por mulheres, que busca tornar o sonho de atuar como instrumentista em orquestras acessível para todas.


Paula Valente, saxofonista e flautista, conta como a experiência na música profissional, há 30 anos, despertou a vontade de apresentar a música clássica para as novas gerações. “Dou aula de saxofone para muitas meninas e senti que a questão das mulheres dentro das big bands era difícil, por ser um ambiente ainda bem masculino. As mulheres estavam com falta de oportunidades para tocar como instrumentistas, especialmente nesse tipo de grupo. Em conversa com a minha amiga Liz de Carvalho, pianista na banda, nós unimos esforços e fundamos a Jazzmin’s, em 2017”.


O projeto conta com 17 instrumentistas de diferentes gerações e tendências. Essa variedade, para Paula, confere à banda uma sonoridade bem particular e reforça seu objetivo de mais igualdade na música. “Sempre buscamos esse espaço de atuação feminina, para inspirar e estimular as novas estudantes de música. Ainda estamos no caminho, mas já notamos um aumento de mulheres nesse cenário”. 


Legenda: A Jazzmin's é a primeira big band formada inteiramente por mulheres no Brasil.
Legenda: A Jazzmin's é a primeira big band formada inteiramente por mulheres no Brasil.   Foto: Acervo Pessoal

A big band conta com repertório extenso de composições originais e homenagens à música brasileira. Em março de 2020, bem no começo da pandemia, o grupo acabava de gravar um CD que contaria com shows ao vivo. Além de ter seu lançamento atrasado, as ações da banda também foram adaptadas.


Elas estarão no Festival Mulheres na Música, de 24 a 28 próximo, que contará com apresentações musicais virtuais inéditas, palestras sobre educação musical voltadas à figura feminina e mesas redondas com figuras importantes da música. O evento será transmitido ao vivo pelo canal da Jazzmin’s no YouTube.


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