Com 130 filmes em programação virtual, confira destaques da 45ª Mostra de SP

Entre filmes de ficção e documentários, conheça mais alguns filmes disponíveis no streaming Mostra Play

Por: Bia Viana  -  19/10/21  -  08:33
 'As Bruxas do Oriente' retrata época de ouro nos esportes
'As Bruxas do Oriente' retrata época de ouro nos esportes   Foto: Divulgação

Seguindo a programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o evento disponibilizou a lista completa de filmes que serão exibidos pela plataforma Mostra Play. Ao todo, são 130 filmes de diferentes gêneros e nacionalidades. A partir do último domingo, foram disponibilizados pacotes de ingressos para a plataforma, mas a venda de ingresso avulso (por sessão) também está disponível. Valores e mais informações podem ser conferidos no site www.45.mostra.org.


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O festival começa nesta quinta-feira (21), seguindo por duas semanas para exibição de 264 títulos, divididos entre as salas da capital paulista e o streaming. Vale lembrar que a programação das salas é diferente da disponível virtualmente. Confira alguns destaques que estarão acessíveis na plataforma Mostra Play.


 Longa argentino 'Os Inventados' faz parte da programação da Mostra de SP
Longa argentino 'Os Inventados' faz parte da programação da Mostra de SP   Foto: Divulgação

Os Inventados (2021), de Leo Basílico, Nicolás Longinotti e Pablo Rodríguez Pandolfi

A trama misteriosa acompanha Lucas (Juan Grandinetti), um ex-sucesso mirim que busca voltar à atuar. Para voltar à ativa, ele resolve se aventurar em um retiro de quatro dias para atores com outros quatro desconhecidos. A única regra é que cada um adote um personagem por todo o evento — ou seja, que finja ser alguém diferente durante os quatro dias. A dinâmica funciona, porém, durante o exercício, seus colegas começam a desaparecer, e algo de errado pode estar acontecendo.


A narrativa aposta na extrema naturalidade para retratar os acontecimentos. Enquanto o protagonista segue tímido e até apático diante do conflito apresentado, o filme tenta emplacar o mistério com seus diálogos, mas perde o sentido por não aprofundar suas personagens. Em nenhum momento as motivações e histórias são esclarecidas, causando um distanciamento que impede o espectador de mergulhar verdadeiramente na história.


O longa argentino de suspense diverge de sua proposta inicial e desenrola sem um desfecho satisfatório — não daqueles que querem dar margem às interpretações ou os experimentais que divagam na imaginação, mas sim do tipo que se perde em sua própria história e acaba apagado. Mesmo com uma boa premissa, Os Inventados enfraquece em seu terceiro ato e deixa o espectador à deriva, na espera de um clímax que nunca chega.


 'Madeira e Água', de Jonas Bak, retrata solidão e descobertas
'Madeira e Água', de Jonas Bak, retrata solidão e descobertas   Foto: Divulgação

Madeira e Água (2021), de Jonas Bak

O longa do cineasta alemão Jonas Bak faz um retrato meditativo de uma mãe, Anke (Anke Bak), em sua busca para escapar da solidão. Distante do filho Max, que mora em Hong Kong, ela resolve cruzar o mundo para encontrá-lo, enquanto protestos pró-democráticos despertam conflitos crescentes na cidade. Entre encontros e desencontros, a protagonista faz novas descobertas e desperta, de forma contida, um novo olhar sobre a vida.


A câmera impassível condiciona um olhar contemplativo por toda a obra, detalhando os cenários em uma fotografia tão elegante quanto nostálgica. Vemos o mundo com os olhos de Anke, considerando vários contrastes que conduzem sua jornada — o mais nítido deles sendo a transição do lar bucólico na Alemanha para a vida efervescente em Hong Kong, inteligentemente conduzida em uma passagem de túnel. Com sua atuação minimalista, Anke desperta uma inquietação sobre seus pensamentos, e mesmo sem defini-las, consegue despertar empatia e compreensão ao longo da trama.


Não há grandes pontos de virada ou conflitos. A passos lentos, o filme existencialista nos apresenta quase de forma documental várias situações comuns, como velhice, nostalgia, saudade, pela viagem da protagonista. O título Madeira e Água, derivado de uma leitura de sorte em Hong Kong, enfatiza os simbolismos que a personagem carrega. Sua bela reflexão, mesmo que lenta, remete à aceleração dos novos tempos e seus reflexos sociais, emocionais e psicológicos.


 Conhecidas como 'bruxas do Oriente', equipe japonesa de vôlei fez história nos anos 1960
Conhecidas como 'bruxas do Oriente', equipe japonesa de vôlei fez história nos anos 1960   Foto: Divulgação

As Bruxas do Oriente (2021), de Julien Faraut

No documentário de Faraut, acompanhamos a história do grupo de jogadoras de vôlei japonesas que marcou história no esporte do país em 1964. Conhecidas como “bruxas do Oriente” por sua atuação — tida como “paranormal” —, essas atletas premiadas se reencontram décadas depois de seu auge esportivo para relembrar as histórias, duras rotinas e incríveis glórias dos tempos em quadra. Ao todo, desde sua estreia como time local (formado por um grupo de trabalhadoras de fábrica têxtil) até os Jogos Olímpicos, elas detêm o recorde de 258 partidas sem derrota.


A abordagem extremamente criativa mescla diferentes elementos visuais para compor a narrativa. Entre entrevistas, vídeos de arquivo e animações japonesas, conhecemos as personagens em múltiplos níveis, entendendo desde suas motivações pessoais até as histórias de vida que as conduziram ao esporte.


O filme aposta em diversos paralelos para contar sua história; entre eles, a história das Bruxas e a história do Japão, que enfrentava um árduo processo de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial — justamente quando o vôlei entraria nas Olimpíadas, onde elas fariam uma estreia marcante. A combinação das narrativas, que se dá pelo segundo ato, traz outras perspectivas à obra, deixando de lado a romantização frequente das dificuldades do esporte para evidenciar abusos enfrentados pelas jovens atletas.


Um paralelo político também evidencia a lógica da opressão, observando a luta dessas mulheres pela sobrevivência, abastecidas entre sonhos e árduas rotinas de trabalho nas fábricas. Esse recorte histórico questiona a violência nas relações de poder, seja do treinador conhecido como “demônio” frente à equipe feminina de vôlei ou dos bombardeios atômicos das cidades de Hiroshima e Nagasaki. Enfática, a produção diverte, ensina e comove na mesma medida, fazendo um retrospecto interessante sobre as raízes do esporte no Japão.


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