Bertha Lutz: A mulher na Carta da ONU é lançado pela HBO

Pesquisadoras se aprofundaram por dois anos na trajetória de Bertha, o que resultou no documentário sobre o seu papel na Conferência de São Francisco, em 1945

Por: Beatriz Viana  -  11/03/21  -  13:00
Mais de 70 anos após o encontro histórico na Conferência, Bertha foi reconhecida pela ONU
Mais de 70 anos após o encontro histórico na Conferência, Bertha foi reconhecida pela ONU   Foto: Divulgação

Mesmo que o nome de Bertha Lutz evoque um reconhecimento automático de sua relevância política, poucos realmente entendem seu papel na história. Por isso, as pesquisadoras Fatima Sator e Elise Luhr Dietrichson se aprofundaram por dois anos na trajetória de Bertha, o que resultou no documentário Bertha Lutz: A mulher na Carta da ONU, dirigido por Tatiana Isso e Guto Barra, e lançado pela HBO.


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As acadêmicas atravessaram uma verdadeira batalha diplomática para conseguir o reconhecimento oficial do papel de Bertha Lutz e Minerva Bernardino, da República Dominicana, na Conferência de São Francisco, em 1945, que formalizou a Carta da ONU. Esse foi o primeiro documento da história mundial a igualar homens e mulheres em direitos básicos, uma batalha decidida por Bertha, que enfrentou oposição das delegadas dos Estados Unidos e Reino Unido, que consideravam “vulgar”, na época, a inclusão de mulheres na carta.


Em uma de suas falas, Fatima conta como é necessário “descolonizar nossas mentes” quando tratamos das grandes conquistas de mulheres latino-americanas na história. Por meio de seus estudos junto à colega de pesquisa, ela demonstra como o pensamento feminista sempre foi considerado um conceito ocidental, mas que, mesmo no Brasil, encontravam resistência das pessoas em se proclamarem feministas, dizendo que o movimento era “coisa de fora”. As pesquisadoras apontam Bertha como uma das principais feministas do mundo e lutam por esse reconhecimento merecido em viagens às embaixadas e órgãos oficiais das Nações Unidas em Nova York, Genebra e Brasília. A narrativa se desdobra nesse roteiro, evidenciando como muitas pessoas ainda não reconhecem a importância da bióloga em nossa história. Com o argumento de que as latinas foram as responsáveis por colocarem as mulheres na ONU, provaram como esse ato revolucionário mudou para sempre a nossa sociedade, resultando, por exemplo, na conquista do voto feminino.


Entre as entrevistas mais interessantes estão as de Teresa Cristina Marques e Rachel Soihet, duas autoras que escreveram livros sobre Bertha Lutz e sua construção feminista. Elas ajudam a humanizar a figura emblemática da bióloga e a conhecê-la melhor. Um tour nostálgico pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro, que fez parte da rota de pesquisa das autoras antes de ter todo seu acervo sobre Bertha comprometido em decorrência do incêndio de 2018, também resgata sua memória.


Setenta e quatro anos após o encontro histórico na Conferência, Bertha Lutz finalmente recebeu um pouco do reconhecimento merecido no site da ONU e em suas mídias oficiais, após uma extensa batalha das duas pesquisadoras pela valorização dessa história, que as levou em uma viagem pelo mundo. Essa jornada carrega inúmeros significados e demonstra a iconicidade de Bertha como símbolo de luta e resistência.


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