Artista de São Vicente evidencia protagonismo negro no Acervo Ilustrações

Dani Emiliano participa do projeto Memórias, Narrativas e Tecnologias Negras da Baixada Santista

Por: Bia Viana  -  09/07/21  -  16:12
  Dani Emiliano trabalha com ilustrações que exaltam o protagonismo negro
Dani Emiliano trabalha com ilustrações que exaltam o protagonismo negro   Foto: Reprodução/Instagram

Por meio do Lab Procomum, o Instituto Procomum segue com o projeto Memórias, Narrativas e Tecnologias Negras, em parceria com o Instituto Ibirapitanga. A iniciativa aguça o senso crítico e aponta para o apagamento da memória e ancestralidade negra na Baixada Santista. Buscando o protagonismo negro, o projeto reúne exposições, pesquisa histórica inédita, mapeamento de pessoas, iniciativas e infraestruturas, além de uma plataforma multimídia.


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Entre as ações divulgadas no projeto, uma delas é o Acervo Ilustrações. Nela, ilustradores negros foram convidados para elaborar imagens que se relacionam com a pesquisa Memórias Apagadas da Terra da Liberdade, do jornalista Marcos Augusto Ferreira, construindo uma representação imagética sobre fatos, personagens e símbolos da história negra da Baixada Santista. Entre os artistas convidados para participar está a vicentina Dani Emiliano, ilustradora e artista gráfica com mais de 15 anos de atuação em desenvolvimento e criação de personagens, retratos ilustrados e ilustrações editoriais.


Dani sempre destacou a figura humana em seus trabalhos, com o principal objetivo de contar histórias. "Sempre gostei de criar personagens, pensar suas características, personalidades. E poder ilustrar personagens para narrar histórias, principalmente fatos históricos reais, personalidades reais, é um trabalho que exige muita pesquisa e estudo, mas no final é muito gratificante", ressalta. Ela já sonhou com o trabalho em grandes estúdios, como a Disney, mas hoje tem um objetivo maior: "colaborar com o mundo de alguma maneira através do meu trabalho, transmitindo conhecimento, ideias bacanas e inspirando as pessoas positivamente".


A exposição com o LAB Negritudes corresponde perfeitamente à essa expectativa, já que o trabalho fortalece causas sociais e ajuda a informar sobre a história da população negra na Baixada Santista. "As ilustrações retratam os quilombos e refúgios que existiam em Santos e Cubatão, os bairros do Macuco e da Vila Mathias, que se destacam na história da população negra da região, e também a segregação racial, social e territorial, que remete à divisão entre o Centro, os cortiços e a praia".


A perspectiva sobre figuras históricas fortes sempre esteve presente em seu trabalho, especialmente as femininas. Anteriormente, Dani Emiliano retratou a história da escritora Carolina de Jesus para o quadro Mulheres Fantásticas, uma série animada exibida em 2019 no Fantástico. “Foi uma honra”, destaca a ilustradora. “O processo de criação foi uma imersão na história dela. A cada cena que eu criava e compunha, eu imaginava tudo que ela viveu. Foi um processo de muita inspiração e, em alguns momentos, até de identificação com a história dela”.


Relevância social


Segundo Marina Pereira, gerente de comunidades e experimentações do Instituto Procomum, um projeto como LAB Negritudes emerge de uma lacuna na história nacional. “A Baixada Santista conta com o maior número de população negra do estado de São Paulo e também tem a cidade de Santos no ranking das cidades com maior segregação racial do Brasil. A importância [do projeto] é justamente a gente se contrapor ao apagamento sistêmico que existe quanto à história negra e à contribuição das pessoas negras na construção política, simbólica, social e cultural deste território”.


As reflexões contribuem para a formação de uma sociedade antirracista. Seguindo uma metodologia de pesquisa-ação, o projeto conta com várias frentes ativas pelo protagonismo negro. “O LAB Negritudes já tem alguns resultados a partir desta composição e dessa inteligência coletiva, como obras audiovisuais, uma exposição virtual, intervenções no território, um ensaio fotográfico, uma série de três vídeos em produção com alguns personagens dessa história negra e as ilustrações, produzidas no sentido de gerar imagens sobre esta história. Também estamos elaborando um podcast sobre a pesquisa e como também podemos entender este processo a partir do encontro, da arte, da tecnologia, da inovação”.


O mapeamento de ações, pessoas e infraestruturas negras na Baixada Santista também promete evidenciar a presença negra neste território. “Foram 114 pontos mapeados até o momento em um cadastramento que incluiu tanto um chamamento público, como também mapeamento pela própria equipe do LAB. Será uma ferramenta em atualização constante e permanente, para evidenciar que a Baixada Santista, somada a essa história de luta, ainda é um território onde essa presença negra existe”, explica Marina. Para mais informações sobre o projeto, acesse o site do LAB Procomum.


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