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Pop Art

Itapuã tem museu da vida de Vinicius de Moraes e de sua mulher, Gesse Gessy

No que hoje é um hotel de luxo, está parte do acervo do boêmio, inspirado e apaixonado poeta

Ernandes Caires

22 de fevereiro de 2024 às 09:59

( Foto: Ernandes Caires )

Salvador já foi chamada de Roma Negra por Caetano Veloso, por ser a cidade com a maior população negra fora da África. Dos seus 2,5 milhões de habitantes, mais de 80% se declaram pretos, segundo o último Censo do IBGE. Mas, em sua multiplicidade de cultura, Salvador também pode ser a Nova Iorque Cultural. Numa mistura religiosa, a mãe de Santo reza para Nossa Senhora e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, uma das ladeiras do Pelourinho, abre as portas para o babalorixá se ajoelhar diante do altar, tal qual estivesse defronte a um Congá do candomblé.

Cosmopolita na religiosidade, não é menos diversa na música. Sua playlist mistura o som simples e sofisticado da bossa nova de João Gilberto ao axé rasgado de Daniela Mercury. O tambor africano do Olodum divide palco com o som do pai do rock nacional Raul Seixas e sua herdeira Pitty.

Na mais perfeita síntese dessa babel musical, Caetano e Gil, tropicalistas por essência, viajam do pop ao samba duro, do rock ao afoxé.

Essa diversidade se mistura por ruas, avenidas, vielas e ladeiras da capital soteropolitana. Na ladeira do Curuzu, sobe o canto forte do Ilê Aiyê, primeiro grupo afro da cidade, que completa este ano cinco décadas de existência. No Pelourinho, Olodum e uma série de grupos de percussão sacodem as construções históricas.

Passar uma tarde...

Mas é longe desse agito, de frente para o lindo mar de Itapuã, que está um verdadeiro museu da MPB. No que hoje é um hotel de luxo, está parte do acervo do boêmio, inspirado e apaixonado poeta Vinícius de Moraes.

Entrar na casa do poetinha é imergir num recanto romântico, como nos versos de Samba da Benção. Ali, a vida é a arte do encontro. Encontro com a música, a poesia, os amores e as crenças de quem se descreveu como poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô, saravá!

Nas paredes do Casa di Vina, como é chamado, estão imagens dos orixás como a abençoar cada cômodo. Ali ao lado, datilografadas na velha máquina de escrever que também está em exposição, estão os originais de obras-primas da música brasileira: Regra Três e Para Viver um Grande Amor.

Há, ainda, quadros com as deliciosas histórias de como foram criadas outras composições não menos inspiradas. Como a hilária maneira com que Toquinho surrupiou a letra de Tarde em Itapoã e a musicou (leia acima). Vinícius já havia dito que caberia ao mestre Dorival Caymmi fazer a música, mas a qualidade da composição de Toquinho fez o velho amigo se conformar com a molecagem do parceiro que roubou a letra.

Vivência

Para quem quer ir além de apenas da apreciação, é possível viver uma experiência única. Numa das salas, está à disposição do visitante um violão que pertenceu a Vinícius. Os mais ousados podem dedilhar canções, sejam elas quais forem, se bem que soa a sacrilégio não respeitar a qualidade musical do antigo dono do imóvel.

E a cada passo surgem mais relíquias, como móveis, objetos pessoais e fotos de Vinícius, inclusive um enorme quadro onde ele aparece ao lado da atriz Gessy Gesse, companheira com quem viveu na casa, à beira do mar de Itapuã. Aliás, foi a baiana Gessy que, ao conquistar o coração do carioca Vinícius, o convenceu não só a se casar em Salvador, como a ir morar na Bahia.

O tórrido romance do casal também pode ser visto na mais pura intimidade, no quarto onde os dois viveram. Quem quiser, pode se hospedar e dormir na mesma cama dos ilustres moradores.

Nas gavetas da velha cômoda, uma relíquia: lingeries de Gessy onde o atrevido marido escrevia poemas. Viviam juntos em tudo, menos na hora do banho. Na suíte há um banheiro para ela e outro para ele, inclusive com um suporte na banheira, caso uma inspiração momentânea se apossasse do escritor e ele precisasse externar seu talento enquanto se banhava.

Visitar a Casa di Vina é passeio obrigatório para quem quer conhecer um pouco da poesia, da música e até da malandragem brasileiras que Vinícius sempre trouxe consigo.

O restaurante do local serve pratos típicos da culinária baiana, com aquele tempero quente e delicioso. A piscina à beira-mar e o grande jardim ao redor compõe o cenário que deslumbra qualquer visitante. Vale para quem quer dias de sossego ou, apenas, passar uma tarde em Itapoã.

A história

Projetada por Jamison Pedra e Silvio Robatto e construída em frente ao Farol de Itapuã, a casa foi batizada por Vinicius como Principado Livre e Autônomo de Itapuã, do qual ele era o príncipe consorte – a princesa, claro, seria Gesse.

Juntos desde 1969, os dois oficializaram a união em 1973, na Bahia, em um ritual cigano em que cortaram os próprios pulsos para misturar o sangue. Os padrinhos foram Jorge Amado e Zelia Gattai e Calasans Neto e Auta Rosa.

A poesia brotava no dia a dia da casa: Gesse conta que costumava encontrar surpresas na xícara de café da manhã, como uma rosa ou um poema. Além de Tarde em Itapuã, na casa foram compostos outros clássicos, como Na Tonga da Mironga do Kabuletê e Onde Anda Você.

O casal permaneceu junto por sete anos e não teve filhos. A visitação ao Memorial Casa Di Vina é gratuita, de segunda a domingo, do meio-dia às 22 horas. O Casa Di Vina Boutique Hotel fica na Rua Flamengo, 44, Farol de Itapuã, Casa de Vinicius de Moraes, Salvador. Informações sobre preços de hospedagens [pela internet, rel:noreferrer](http://www.casadivinabahia.com.br" aria-label="pela internet," target="_blank) telefone (71) 3285-7339 ou, ainda, o WhatsApp (71) 9971-3374.

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