
Ericsson ajudou a construir parte dos cenários de Arrakis em Duna: Parte 2 (Arquivo Pessoal e Divulgação/Warner Bros)
O que começou nas ruas da Náutica III, em São Vicente, no litoral de São Paulo, alcançou os palcos de Hollywood. Após se mudar para o Canadá, um menino transformou a paixão por tecnologia em profissão e integrou a equipe de produção do filme Duna: Parte 2, adaptação cinematográfica da saga de livros de ficção científica de Frank Herbert, que venceu o Oscar de Efeitos Visuais e de Som. O técnico de escaneamento 3D, Ericsson Santos, de 37 anos, também trabalhou na primeira temporada da série The Last of Us, que fez grande sucesso na Max. A adaptação do jogo homônimo da PlayStation foi vencedora de três Emmy Awards e terá a estreia da segunda temporada no próximo dia 13.
O interesse de Ericsson por tecnologia e videogames sempre esteve presente em sua vida. Desde a infância, ele buscava aprender e conhecer sobre esse universo, mesmo com as limitações de acesso à internet da época. “Minha carreira começou quando eu desenvolvi muita curiosidade sobre como construir sites. Aprendi praticamente sozinho, com a ajuda de livros. Nos anos 90, o acesso a conteúdo gratuito na internet era muito limitado, então era preciso buscar bastante o que se queria aprender. Eu gostava muito de videogame e sempre me perguntava como os jogos eram feitos”, relembra Ericsson.
Ao decorrer dos anos, cada vez mais ficando interessado no assunto, Ericsson iniciou uma faculdade em São Paulo, focada no desenvolvimento de jogos, mas acabou migrando para um curso de 3D, especializado na produção de curtas-metragens. “A partir dali, minha paixão pela área de 3D cresceu e até hoje vive em mim”.
Para se destacar no mercado de trabalho, decidiu ir para o Canadá fazer um curso em Toronto. “Eu vim com a minha esposa e nosso cachorro para cá e fiz um curso focado em produção 3D para efeitos visuais. Isso abriu um novo mercado para mim”, conta.
Após concluir o curso e se estabelecer em Toronto, ele trabalhou para diversas empresas até receber um convite da DNEG, considerada a maior produtora de efeitos visuais do mundo. “A base de Vancouver me chamou, então me mudei de Toronto para Vancouver. O primeiro filme no qual trabalhei foi Duna: Parte 2”.
Ericsson considerou a experiência um divisor de águas em sua carreira. “Eu pude ver ali com os meus próprios olhos como é complexo e como exige que todo mundo esteja em sintonia para que uma produção desse tamanho saia do papel. É gigantesco! A equipe é enorme. O meu time mesmo era só composto por cinco pessoas, o meu chefe e outros quatro colegas, que faziam a mesma coisa que eu. Mesmo assim, a minha equipe era uma das menores. É muita gente. Ver todo mundo nesse clima de colaboração para poder fazer uma obra tomar o resultado e a grandiosidade que o filme tomou é uma coisa que encanta”.
O técnico de escaneamento contou que uma das partes mais emocionantes de sua carreira foi quando ele viu os créditos do filme no cinema. Ao final dele, no letreiro, estava escrito: “Shoot Support Ericsson Santos”

O Vicentino ficou emocionado quando seu nome apareceu no letreiro do filme (Arquivo Pessoal)
Futuro
Além de estar produzindo projetos pessoais, Ericsson também está trabalhando em outras produções profissionais. “Tudo que eu posso dizer é que vem coisa muito legal por aí. Tenho certeza que a galera vai curtir e eu vou ter o maior prazer quando ficar pronto”, destacou o vicentino, sem dar detalhes devido a cláusulas contratuais.
O trabalho
O técnico de escaneamento 3D trabalha nos bastidores do filme, na produção de 3D, através de escaneamento 3D.
“Ele captura objetos reais através de fotos, de outras tecnologias, a laser, por exemplo, o LiDAR, que é um tipo de tecnologia que é muito utilizada para engenharia, mas também tem sido cada vez mais utilizado para jogos e para filmes. Eu capturo esses objetos, esses cenários, ou até mesmo as pessoas através das tecnologias, de fotos e de LiDAR, e depois reconstruo em 3D, para que a gente tenha uma cópia digital perfeita, baseada em uma pessoa, no objeto, no cenário real”, explica.

Ericsson faz o escaneamento 3D de pessoas, objetos e outros elementos para otimizar a produção do filme (Arquivo Pessoal)
Ele conta que pode realizar alterações e substituições, tudo isso num computador. “Eu posso filmar um personagem num fundo verde, vamos dizer assim, no estúdio, e depois digitalmente eu incluo, por exemplo, uma praça, uma estátua, que eu tirei fotos".
Segundo ele, esse processo ajuda a otimizar tempo de produção do filme. Ele explicou que ficou responsável por pegar fotos e escaneamentos para a produção, processar todo o conteúdo e fazer ele virar cópia digital. Um exemplo é o cenário Arrakis, como espadas e outros objetos que aparecem na trama. “Tem algumas partes que tem uns close-ups, tem escaneamento dessas sandworms ali que eu trabalhei".
Inspirações
Na trajetória no Canadá, um dos grandes pilares de apoio foi a esposa, Caroline Lemke. Após a mudança para Toronto no final de 2019, o casal enfrentou a chegada da pandemia em março de 2020, o que resultou no desemprego do profissional. Diante da incerteza, o apoio de Caroline foi fundamental para manter o foco e a motivação, incentivando Ericsson a se reinventar profissionalmente.

A sua esposa, Caroline Lemke, é uma das grandes inspirações de sua vida (Arquivo Pessoal)
Durante esse período, ele começou a estudar técnicas de captura 3D por conta própria, inspirado por cursos de um profissional brasileiro da área. Mesmo em meio às dúvidas, Ericsson conta que Caroline esteve ao seu lado, encorajando-o a seguir aprendendo, praticando e buscando novas oportunidades.
Participação no filme
Ericsson Santos trabalhou por cerca de oito meses na produção de Duna: Parte 2. Embora não tenha estado no set de filmagem, ele colaborou diretamente com profissionais que participaram das gravações.
Segundo ele, participar dessa produção exigiu ser rigoroso e responsável, já que qualquer erro podia comprometer materiais filmados em outros países, gerando retrabalho e custos elevados. Apesar dos desafios, ele considera a experiência positiva, pois estimula sair da zona de conforto e dar o melhor de si.