'O Brasil precisa de mais rock'n'roll', diz Dinho Ouro Preto

Em entrevista exclusiva, vocalista do Capital Inicial fala do início da carreira e de novos projetos da banda

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  06/03/20  -  10:05
Será a primeira apresentação da banda desde que Dinho Ouro Preto foi diagnosticado com covid-19
Será a primeira apresentação da banda desde que Dinho Ouro Preto foi diagnosticado com covid-19   Foto: divulgação

Entre o show desta sexta-feira (6) à noite na Casa de Portugal, em Praia Grande, e a banda Aborto Elétrico, na Brasília do fim dos anos 1970, há um longo caminho aplainado por uma expressão, um estilo, um jeito de ser: o rock’n’roll. A jornada de Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, que apresenta o show Sonora, é uma ode ao rock. Ele, aliás, afirma que o Brasil, hoje, precisa de mais rock'n'roll.


“Acredito que o rock é uma parte intrínseca da Música Popular Brasileira; é injusto falar de MPB sem falar do rock”, resume, em entrevista exclusiva, por telefone, para A Tribuna.


Não por acaso, Dinho lançou em janeiro a terceira edição do projeto solo Roque em Rôu, em que faz releituras de canções de vários nomes do gênero, de Rita Lee e Raul Seixas, a Skank e CPM22, por exemplo. “Rita Lee tem uma relevância que ninguém pode ignorar, transcende o gênero”.


Eterno retorno


Mas tudo começou com o Aborto Elétrico. A banda durou de 1978 a 1982. Ao terminar, foi a semente para dois dos grupos de maior relevância do chamado Brock dos anos 80: Legião Urbana e Capital Inicial. Os dois, além da Plebe Rude, colocaram Brasília no eixo da música nacional, tão acostumado à dobradinha Rio-São Paulo. 


Nesse aspecto, a participação da banda Scalene, formada em Brasília nos anos 2000, na faixa Parado no Ar, do álbum Sonora, de 2019, é um retorno emocional às raízes de Dinho e do Capital. “Procuro me informar da cena de um modo geral, mas olho com mais carinho para a de Brasília”. 


O tempo passa, as cenas mudam e é inevitável a comparação. “Me lembro de quando a gente começou. O rock era inexistente. Não tinha rádio que tocava, internet, os gringos não vinham se apresentar no Brasil”. 


Hoje, apesar da facilidade e independência que a internet possibilita na divulgação de músicas e clipes, Dinho avalia que, paradoxalmente, é mais difícil aparecer para o grande público. Isso se dá pela dispersão que qualquer conteúdo sofre na rede. “Tem muita gente de grande talento que não consegue aparecer”. 


Ponte rodoviária


Nos idos dos anos 80, Dinho não fazia ideia do que aconteceria, nem de onde estaria, quase 40 anos depois. “Quando a gente começou a gravar, a gente pensava que tudo aquilo era efêmero, que uma hora ou outra, a gente teria de procurar uma ‘profissão de verdade’, como as famílias diziam”, gargalha. “Fomos muito além do que poderíamos imaginar”. 


Fomos, do verbo ir. Nessas andanças, Santos esteve várias vezes na rota. “A gente tocava em São Paulo, a dobradinha era Santos. Pegávamos um ônibus na rodoviária e vínhamos, com instrumentos e tudo”, ri. 


Nesses primeiros tempos, os shows eram na lendária danceteria Heavy Metal, que ficava no térreo de um prédio, na Avenida Vicente de Carvalho, 18, na praia. Por ali, passaram também Paralamas do Sucesso e Titãs em começo de carreira, entre outros. 


Com o sucesso sorrindo ao Capital Inicial, a casa que os recebia em Santos já era o antigo Clube Caiçara, maior. “O público pulava, o piso balançava tanto, parecia que ia cair tudo”. 


Que país é esse?


A conversa flui, mas o rock volta à baila. Muito mais do que um ritmo musical, Dinho vê o rock como um estilo de vida que abraça a contestação e um caráter libertário. “O Brasil tá precisando de mais rock hoje”, dispara. 


Dinho considera que o País passa por momentos perigosos. Sobre a polarização, analisa ser fruto de uma minoria radical, tando de direita quando de esquerda. “A maior parte da população é moderada. O ruído produzido é muito grande, mas não acho que represente a maioria da população”. 


Serviço


Casa de Portugal
(Avenida Paris, 1.500)
Horário: 20h30
Ingressos: a partir de R$ 250,00, em mesas, com bebida e comida inclusos. Só vendas antecipadas, pelo telefone (13) 99788-3166, com Célia 


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