Vida, leva eu: 'Eu não acredito em coincidências, mas em sincronicidade'

Escritora comenta sobre controle e intuição da escrita

Por: Beth Soares  -  16/01/22  -  12:02
Todo conhecimento, empatia, habilidade e percepção que foram geradas na altura dos acontecimentos são parte do que utilizo hoje para viver melhor
Todo conhecimento, empatia, habilidade e percepção que foram geradas na altura dos acontecimentos são parte do que utilizo hoje para viver melhor   Foto: adobe stock

Minha escrita sempre teve um “quê” de intuitiva. Por mais que eu tente, eu nunca tenho um controle total do que vai sair. E muitas vezes saem coisas bem diferentes do que eu estava disposta a escrever. Nesses casos, invariavelmente, recebo respostas de leitores dizendo que “precisavam” ler aquilo, naquele dia, naquela semana.


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Fica claro para mim, então, que eu deveria confiar na minha intuição. Mais ainda, na verdade, porque já confio, mas confesso que há sempre um embate com minha excessiva racionalidade. Perdi a conta das vezes em que essa última cortou as asas da minha escrita, com o fio pseudocerteiro da autocensura.


Mas a cada ciclo que vivencio como ser humano, morando num corpo de mulher, mais evidentes ficam aos meus olhos algumas verdades naturais. Sim, porque, para mim, nada é “sobrenatural”; tudo integra a natureza, só que, em alguns momentos, por sermos racionais, acreditamos estar acima dela. Então, deixamos de ser capazes de fazer determinadas conexões ou simplesmente aceitar que, naquele momento, a compreensão de algumas coisas nos escapa, e tudo que reside nesse espaço do “não saber imediatamente” é colocado na caixinha do “não natural”.


Eu não acredito em coincidências, mas em sincronicidade. Acredito na orquestra natural da vida. Tive inúmeras provas ao longo da caminhada de que todas as coisas estão no seu devido lugar, mesmo quando tudo parece completamente bagunçado na nossa cabeça, na nossa casa interna ou externa.


Um telefonema ou uma mensagem que chega no exato momento em que penso numa amiga, um encontro com alguém de quem sinto saudades, horas depois de saborear alguma memória compartilhada... Para mim, são indícios de que tudo trabalha em sincronia e que nós, por conta da engrenagem impiedosa da rotina, muitas vezes deixamos de estar sensíveis a isso.


Vivo dizendo que todas as experiências que tive me serviram, e é verdade. Todo conhecimento, empatia, habilidade e percepção que foram geradas na altura dos acontecimentos são parte do que utilizo hoje para viver melhor e até me safar de situações que poderiam ser bastante complicadas.


A sensação de que determinada experiência vai ser útil em algum momento é uma constante na minha vida. Ela pode significar estar no lugar certo, na hora certa, mesmo que um dos dois pareça errado — como conhecer uma escritora alma gêmea numa formação para um trabalho em call center ou perceber, num momento crítico de aperto financeiro, que pequenas oportunidades surgem para garantir o prato na mesa de todo dia e, de quebra, ainda receber algumas regalias de presente, só para valorizar cada item pelo qual trabalho, assim como cada palavra dita, seja qual for o contexto.


Há alguns dias, durante um almoço delicioso preparado para mim por uma pessoa muitíssimo querida, começou a tocar uma música do Zeca Pagodinho que virou clichê na TV, sempre que se exibia imagens de jogadores de futebol brasileiros e que, confesso, acabei erroneamente banalizando. Mas, enquanto dava cada garfada, com um prazer imenso, naquele momento degustei também aquela letra simples, de quem já passou por quase tudo nessa vida, mas é feliz e agradece por tudo que Deus (a Mãe Natureza ou seja lá como a gente nomeia essa força gigante dentro de nós que compartilhamos com nossos pares no mundo) lhe deu.


Eu me emocionei e agradeci novamente pelo presente orquestrado tão sabiamente por tudo aquilo que ainda não compreendo, mas intuo ser o melhor que a vida tem a oferecer.


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