Turismo: Viajar é bem mais que uma diversão na terceira idade

Com mais tempo livre, essas pessoas passam a almejar enriquecimento cultural e saúde mental

Por: Redação  -  09/01/22  -  17:49

“Se tiver condições físicas e financeiras, viaje. Você volta revitalizado, acontece uma troca de energias com outras pessoas e você exercita o seu cérebro”. A dica é da viajante Isabel Porto, aposentada de 77 anos que resolveu conhecer o Brasil de ponta a ponta na terceira idade. Moradora de Santos, ela não criou memórias afetivas com viagens enquanto mais nova e buscou rodar o País depois dos 60.


Isabel Porto fez algo que nunca havia tentado: explorar o Brasil. Paulo Sérgio Ribeiro aproveita a nova fase para aumentar as memórias afetivas
Isabel Porto fez algo que nunca havia tentado: explorar o Brasil. Paulo Sérgio Ribeiro aproveita a nova fase para aumentar as memórias afetivas   Foto: Arquivo Pessoal

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Assim como ela, muitas pessoas buscam se libertar das amarras de suas responsabilidades e rotinas quando chegam à terceira idade, seja por terem os seus filhos criados ou pela aposentadoria. E com mais tempo livre no dia a dia, passam a almejar o enriquecimento cultural, sem falar da saúde mental, que se faz necessária.


Paulo Sérgio de Moraes Ribeiro tem uma relação diferente com as viagens. Também morador de Santos, o aposentado de 74 anos costumava visitar a cidade de Santa Rita do Passa Quatro (SP) quando era criança. “Os meus pais me levavam para a casa de um parente que vivia lá. Foram algumas viagens, que ajudaram a criar uma memória afetiva”, relembra.


Público marcante em qualquer pesquisa sobre viagens, os idosos tiveram a sua representatividade no setor diminuída desde o início da pandemia e da retomada do mercado de turismo, segundo dados da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa).


“Agora que estou vacinada, tenho viajado novamente. Mas, logo que começou a pandemia de covid-19, precisei ficar em casa. Foi difícil, porém necessário. Desde que as atividades de turismo foram retomadas, viajo praticamente de quarta-feira a domingo e logo mais irei para a cidade de Olímpia (SP)”, adianta Isabel.


Temporada de verão
A Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) estima que 468 mil vagas de emprego sejam criadas nesta temporada de verão. Ao contrário do que se imaginava no começo da pandemia de covid-19, menos de 10% das agências de turismo fecharam, como mostram números da Associação Brasileira de Agências de Viagens.


Com mais de 30 anos de experiência no ramo, a Mendes Tur se manteve firme mesmo durante a crise do setor trazida pelo coronavírus. Com atuação nos campos de turismo de lazer e corporativo, a empresa está pronta para oferecer os mais diversos roteiros para os viajantes.


  Foto: Arte: Lutti Afonso

Inês Bellini, proprietária da agência, explica que a tendência de priorizar destinos nacionais é reflexo de uma combinação de diversos fatores. Para ela, o dólar mais caro e a tentativa das empresas internacionais de recuperar o prejuízo que tiveram no ano passado elevaram ainda mais os preços dos destinos no exterior.


Com isso, muitos turistas precisaram recalcular as suas rotas, programando um novo roteiro para as viagens de final de ano. “Bastante gente estava acostumada a só ir para fora e não fazer nada dentro do Brasil. Agora, com a pandemia, essa pessoa está descobrindo o País. Nós temos lugares maravilhosos para serem visitados”, conta Inês.


Na estrada
Quem é pai, mãe ou tem netos sabe muito bem: viajar com criança pequena não é fácil. Se for de carro, a missão é ainda mais árdua. Precisa preparar lanches para dar ao longo do caminho, montar uma playlist especial com todos os sucessos infantis do momento e dispor de bastante paciência para entender as ocasiões marcadas por gritos e choro, na estrada ou durante as programações do roteiro.


Vale pensar a respeito... E se os trajetos percorridos também fossem uma das atrações do passeio?


Academia mental
Manter o corpo em atividade é fundamental em qualquer etapa da nossa vida. Seja na infância ou na terceira idade, ter uma vida ativa ajuda a prevenir doenças cardíacas e a combater a obesidade e outros reflexos do sedentarismo. Especificamente entre os idosos, um exercício se faz ainda mais necessário: o mental.


Com a aposentadoria garantida e sem os amigos do trabalho para conversar diariamente, muitos idosos acabam enfrentando transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão. E hoje, com a pandemia de covid-19 – devido à tentativa de se preservar mais tempo dentro de casa –, essa quantidade de problemas emocionais aumentou. Institutos especializados em saúde mental de todo o Brasil apontaram que houve um crescimento nas queixas de idosos durante a crise sanitária. Entre os motivos que mais reverberaram estão os sentimentos de medo e solidão.


“Nesse ponto, se faz ainda mais importante o viajar. Ir a outro lugar nos tira da mesmice. É preciso relembrar que um dia o idoso foi tão ativo como qualquer adulto. A viagem movimenta essa pessoa e a tira da acomodação”, diz o psicólogo Daniel Saloes. Ainda de acordo com ele, viajar dá ao idoso uma sensação de pertencimento à sociedade. “Viajando, ele tem a percepção de que pode aprender e ensinar. Essa troca é fundamental em qualquer momento da vida, mas principalmente na terceira idade”.


Necessidade
Tal necessidade foi sentida na pele por Isabel Porto. Com uma carreira profissional ativa durante toda a sua vida, ela recorreu às viagens para não deixar a mente estagnada. “Dei aula de dança de salão, fiz faculdade de Contabilidade e de Parapsicologia, trabalhei em salão de beleza, fui estilista, sempre me mantive muito ativa. Quando parei em 2003, comecei a viajar direto e foi a melhor decisão”.


Segura de si e cheia de vontade de viver novas experiências, Isabel é prova de que viajar só costuma fazer bem. Para o psicólogo Daniel Saloes, além de manter a mente ativa, conhecer outros lugares traz mais benefícios: “Eleva a autoestima, possibilita novas vivências e dá um ar de continuidade da vida. É muito bom para o nosso cérebro”.


Estudo publicado em 2020 pelo periódico britânico Neurology indicou que manter o cérebro ativo na terceira idade pode atrasar a possibilidade de Alzheimer nas pessoas em até cinco anos. Segundo os cientistas, isso sugere que a atividade cognitiva durante essa fase da vida é o fator mais significativo no desenvolvimento da doença.


Bem-estar
É fato: a chegada da terceira idade traz necessidades específicas para essa parte da população. E com a aposentadoria, há quem decida se mudar para cidades que proporcionam maior qualidade de vida. Afinal, se tais lugares acabam sendo procurados pelos turistas para os dias de descanso, por que não morar neles?


Pensando nisso, Dimas Moura criou o portal Mais 50, com conteúdo específico para a terceira idade. Com quase 300 mil inscritos no YouTube, ele abastece o canal com vídeos mostrando a realidade de viver em cidades de todo o Brasil. “Existem milhares de canais indicando viagens para se fazer. Queria algo diferente. Então, fui estudar sobre um modelo de conteúdo para esse tema e acho que vem dando certo”, conta.


Sobre sua forma de trabalho, Dimas esclarece que tenta mostrar além do que o portal de cada prefeitura busca promover. “Outro dia, fui para Recife (PE), andei de metrô e fiquei horrorizado. Ambulantes dentro da estação atrapalhavam o passageiro que entrava no vagão. Preciso mostrar essa realidade, porque meu canal vive disso”.


Dimas defende que as pessoas procurem locais diferentes para viver ao longo da vida. Para ele, cada fase necessita de um enfoque e dificilmente uma única cidade vai acomodar toda a demanda. “Na infância, você precisa de parques e espaços abertos para brincar. Na adolescência, o objetivo são boas escolas e lugares para convivência. Na fase adulta, você busca locais que sejam adequados com a sua área de atuação. Já na terceira idade, a tendência é preferir lugares mais tranquilos e com temperatura agradável”.


Topo
Entre as melhores cidades para se viver depois da aposentadoria, ele ressalta a capital paraibana João Pessoa. Além do seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ser acima da média nacional, Dimas conta que João Pessoa reúne elementos voltados à terceira idade, como renda (custo-benefício baixo para se viver), educação e saúde. O influenciador também ressalta a infraestrutura de três municípios da Baixada Santista: Bertioga, Praia Grande e Santos.


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