'Trabalho escravo, um escândalo no vinho brasileiro', diz especialista de Santos

“Não podemos admitir tal retrocesso, em qualquer mercado”

Por: CLAUDIA G. OLIVEIRA  -  05/03/23  -  16:27
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xxxxx   Foto: avidadelito/Victória Garcia

Santé! Uma decepção na indústria do vinho no Brasil: a notícia da existência de trabalho análogo à escravidão, envolvendo mais de 200 pessoas e grandes nomes da vitivinicultura da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul.


Em Bento Gonçalves, as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, e talvez outras ainda investigadas, terceirizaram o trabalho de colheita e entrega de suas uvas. Ocorre que a empresa Oliveira & Santana, atualmente chamada Fênix, responsável por esse serviço, foi denunciada em situação de flagrante por um dos trabalhadores, que conseguiu escapar do alojamento ou prisão.


Comida estragada, péssimas condições de higiene, jornada abusiva de trabalho, espancamentos, choques elétricos, spray de pimenta e sabe-se lá mais quanta crueldade, em pleno século 21. Eu me senti péssima, decepcionada e ultrajada com tal notícia, uma vez que sou fã do vinho brasileiro e divulgo todos os rótulos que aprecio, todos muito bons.


Entretanto, que tristeza! Claro, sem generalizar, afinal não são todas as vinícolas que terceirizam, ou que são adeptas desse tipo de contrato de trabalho. Eu já visitei as vinícolas envolvidas no caso inúmeras vezes, inclusive em press trips, ou seja, viagens para visitas exclusivas de profissionais da mídia. Evidentemente, quando nós, do setor jornalístico, somos recebidos nas vinícolas, tudo é especial. O que vemos – e em detalhes – é um primor; senão, quase um primor.


As envolvidas se inocentam e alegam não ter conhecimento dos fatos. Oi? Como é possível não saber do que ocorre na linha de frente, num dos momentos mais importantes do processo de vinificação, que é a própria colheita da uva? Como não existe uma fiscalização da colheita e da entrega das uvas, ato tão importante? Não é possível!


A mídia divulgou que o proprietário da Fênix foi preso e liberado ao pagar fiança. Os trabalhadores voltaram para os seus estados, sem a devida remuneração. Quem vai se responsabilizar? Quem vai ser punido?


O marketing, sem dúvida, pode trazer bons resultados. Quando acessadas em sites e/ou visitadas, as vinícolas destacam seu trabalho sustentável e social relativos ao meio ambiente e às comunidades, uma maravilha! Será que teremos que checar todos esses detalhes para termos certeza da responsabilidade desses produtores? Nosso papel como consumidores é saber separar o joio do trigo? Penso que sim! Não podemos nos calar diante do que é malfeito.


Espero que se faça justiça. É muito importante que todos os fatos aqui narrados sejam devida e legalmente analisados e todos os envolvidos, punidos. E que os trabalhadores sejam ressarcidos. É sabido que o trabalho análogo à escravidão, inclusive o infantil, nos cerca, mundialmente, em ilimitados setores, só que como repudiar? Temos que estar atentos e não consumir tais produtos.


Eu acredito no ser humano, eu acredito nos pequenos produtores, mas acredito também na indústria, que fomenta a economia. Fiquemos de olho! Não podemos admitir tal retrocesso, em qualquer âmbito de trabalho ou mercado.


Fica aqui meu desabafo. Até a próxima taça, com boas notícias do mundo do vinho! momentodivino@atribuna.com.br
@claudiaenoamigos


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