Talento múltiplo, o ator, produtor e diretor Allan Souza Lima fala de sua carreira

O frei João, da novela global Amor Perfeito, fala dos novos projetos e do passado na música

Por: Stevens Standke  -  24/09/23  -  15:20
O ator, que acaba de se despedir da novela Amor Perfeito, também se dedica aos papéis de produtor, diretor e fotógrafo
O ator, que acaba de se despedir da novela Amor Perfeito, também se dedica aos papéis de produtor, diretor e fotógrafo   Foto: Adri Lima/ Divulgação

O ator, produtor e diretor Allan Souza Lima não para. Depois de dar adeus neste fim de semana ao frei João, da novela global Amor Perfeito, o pernambucano de 37 anos volta aos holofotes já no mês que vem, com o terceiro filme sobre Suzane von Richthofen: A Menina Que Matou os Pais – A Confissão, com lançamento previsto para o dia 27 no Amazon Prime Video – streaming para o qual Allan também fez a série Cangaço Novo, já disponível no catálogo. Na entrevista a seguir, o artista, que é louco por plantas e diz ter uma “Floresta Amazônica” em casa, fala ainda da recente paixão pela fotografia, que rendeu, inclusive, a exposição Sertão Íntimo – ela chega a São Paulo em outubro.


Qual é o balanço do seu trabalho na novela Amor Perfeito?
Particularmente, ela foi um reencontro com as coisas tranquilas da vida, porque eu vinha de processos intensos de composição na série Cangaço Novo e no filme A Menina Que Matou os Pais – A Confissão (ambos do Amazon Prime Video). Quando você passa por processos como esses, é natural que eles tragam à tona algumas sombras. Por isso, eu estava sentindo falta de um lugar de serenidade, que foi o que o frei João, de Amor Perfeito, me proporcionou. Conversei com a direção artística da novela, quando recebi o convite, e disse que iria fazer o papel sem nenhuma preparação, que interpretaria com base no que achasse necessário para o personagem.


Como se preparou para a série e o filme?
Eu comecei a me preparar para Cangaço Novo em agosto de 2021 e terminamos as filmagens em 19 de abril de 2022. Fiquei oito meses no sertão, foi uma arte visceral que só potencializou o que acredito ser melhor para o processo criativo e de composição de um personagem. Detesto rótulos, não gosto de pôr nomenclaturas nas coisas, mas o processo de trabalho com o qual me identifico é o do ator metódico, que consiste em você embarcar e viver literalmente o universo do personagem, entender o dia a dia dele. A partir disso, a interpretação flui de modo natural. Então, Cangaço Novo foi algo cansativo, que exigiu em termos físicos e principalmente emocionais. Depois da série, fiquei três meses me preparando para rodar A Menina Que Matou os Pais – A Confissão. Emagreci de 12 a 14 quilos para fazer de novo o Cristian Cravinhos e, nesse processo de perder peso, entrei até em um estágio de fadiga, de sofrimento. O filme levou menos tempo para ficar pronto – acabamos em outubro de 2022 –, só que uma diária interpretando o Cristian valeu por dois meses de trabalho em Cangaço Novo. Teve uma sequência de cenas em especial, a do interrogatório, que demorou um dia inteiro e me causou um desgaste emocional muito forte. Chegou uma hora que, de tão exaurido, já não conseguia mais demonstrar emoções e me desesperei. Depois dessa diária, até vomitei. Tem gente que é ator técnico, o que eu super-respeito, porém não partilho desse pensamento. Acho que quanto mais verdade e entrega, mais grandiosidade há no trabalho.


Esse terceiro filme sobre a Suzane von Richthofen estava programado desde o início?
Lá atrás, no começo de tudo, esse longa não estava escrito. Eram apenas os dois primeiros filmes, com as versões de cada um. Mas o sucesso foi tão estrondoso que essa sequência logo foi aprovada. Esse se tornou o case de sucesso do Amazon Prime Video no Brasil. O novo filme gira em torno do interrogatório, da visão da Polícia Civil. A gente nunca teve acesso aos personagens reais. Bem no início do projeto, eu tentei esse tipo de contato, só que a produção me vetou automaticamente. Todos os roteiros se baseiam nos autos processuais.


Você nasceu em Recife. Mudou-se de Pernambuco para a cidade do Rio de Janeiro com quantos anos?
Fui com 18 anos. Mas, antes disso, meu primeiro contato com a arte se deu na infância e pela música. Fui vizinho do Chico Science; ficava em cima do muro de casa observando os seus ensaios. Por causa dele, fui estudar bateria e tive banda. Aí, um colega de banda me apresentou o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). Frequentei o curso. Tornar-me ator foi algo natural, quase osmótico. E como minha avó morava no Rio, sempre tive uma relação com a cidade. Aos 18 anos, resolvi me mudar para lá. A minha avó me ajudou bastante nos dois primeiros anos. Galguei degrau por degrau, as coisas não aconteceram de uma hora para a outra.


Sente falta do teatro?
Já fiz muitas peças, só que hoje, se você perguntar o que quero, direi que é me dedicar mais ao cinema, porque me descobri demais nele. Ando com vários questionamentos e receios de ser ator de teatro. Principalmente no Rio, é triste a desvalorização das artes cênicas. Falo isso por ter uma produtora de teatro e audiovisual. Há seis anos, vi o início de uma decadência do teatro: com espetáculo que trazia gente conhecida no elenco, viajávamos pelo País buscando bilheteria – tirávamos R$ 300 numa cidade, R$ 400 em outra... Hoje, se você me chamasse para fazer uma peça, aceitaria se fosse para dirigir, que é do que sinto falta. O meu próximo projeto de cabeceira, no qual estou colocando força total, é um longa distópico que desenvolvi e que vou dirigir. Pretendo tocá-lo em 2024.


Também tem gostado bastante de fotografia, não é mesmo?
Comecei a fotografar na novela Novo Mundo, fazia registros dos personagens e locações com meu celular e mandava para a galera. Um colega montou até um quadro com uma das imagens. A partir daí, passei a tirar fotos durante os trabalhos. Decidi levar a fotografia a sério, tanto que carreguei minha câmera para o sertão, na série Cangaço Novo. Resultado disso, a exposição Sertão Íntimo – minha e do Jota Andrade – esteve no Rio há dois meses e vem para São Paulo, de 21 de outubro a 4 de novembro. Debato muito o seguinte: existe um preconceito bem forte nesse mercado, porque os galeristas e compradores das obras acham que o fotógrafo não pode ser ator. Eu sou artista e é por isso que estou aqui.


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