Neurocirurgião de Santos explica sobre método eficaz no tratamento contra o Parkinson

Médico dá detalhes sobre o procedimento que tem forte impacto na qualidade de vida dessas pessoas

Por: Cláudia Duarte Cunha  -  13/08/23  -  07:09
Doenças que desencadeiam tremores já podem ser controladas
Doenças que desencadeiam tremores já podem ser controladas   Foto: Adobe Stock

De acordo com o neurocirurgião Bruno Burjaili, implantes cerebrais milimétricos já são usados rotineiramente para o controle do Parkinson, da distonia e de outras doenças que desencadeiam tremores. A seguir, o médico dá detalhes sobre o procedimento que tem forte impacto na qualidade de vida dessas pessoas.


Como funciona esse tratamento?
É como se fosse um marcapasso cerebral. O eletrodo é implantado no cérebro por meio de uma incisão de cerca de três centímetros e um orifício de sete a oito milímetros. Por essas passagens, é colocado um fio de um milímetro e meio de diâmetro e, com o paciente acordado, fazemos vários testes que vão localizar a região onde o eletrodo deve ficar de forma precisa. Para fazer esse ajuste, é fundamental que o especialista conheça bem toda a anatomia cerebral. É importante ressaltar que, apesar de se manter acordada durante o procedimento, a pessoa recebe anestesia local e, portanto, não sente dor.


De que material é feito esse eletrodo?
Os principais materiais de que o eletrodo é composto são a platina e o irídio. O procedimento, que se mostra muito pouco agressivo ao cérebro, também inclui o implante de uma bateria, que fica debaixo da pele da região peitoral e gera estímulos elétricos delicados e precisos.


Quanto tempo demora para que o tratamento traga algum efeito?
O resultado já pode ser estimado imediatamente, durante a própria cirurgia, mas ainda de modo parcial. Após algumas sessões de programação pós-operatória, no consultório, atingimos o maior potencial dessa terapia.


O procedimento pode ser realizado logo depois do diagnóstico da doença?
Não. É preciso que a pessoa esteja, no mínimo, há quatro anos com sintomas. Até porque, com menos tempo do que isso, em alguns casos, o diagnóstico ainda precisa ser otimizado. E também é preciso levar em conta que, na fase inicial do Parkinson, os remédios resolvem bem os sintomas e o paciente consegue ter qualidade de vida. A cirurgia costuma entrar em cena quando já são necessárias doses mais altas ou frequentes de medicamentos, evitando flutuações (altos e baixos), que são comuns na doença em estágio intermediário ou um pouco mais avançado. Nessas etapas, os remédios fazem efeito por menos tempo e as vezes em que a pessoa usa ao longo do dia aumentam, além da própria variedade de tipos e formulações dessas substâncias.


Como, de fato, é feito o diagnóstico de Parkinson?
Na própria consulta. Alguns exames específicos ajudam, mas o diagnóstico é basicamente clínico.


O tratamento com o eletrodo se mostra definitivo ou é preciso trocá-lo de tempos em tempos?
O eletrodo é definitivo. Porém, a bateria convencional precisa de troca em um período de três a cinco anos. Existe um outro modelo, recarregável, em que a pessoa usa um dispositivo por indução eletromagnética, em torno de uma vez por semana; nesse modelo, a troca pode demorar mais tempo para ser necessária, mas deve-se levar em conta o desconforto das recargas.


Além do Parkinson, o procedimento ainda tem efeito em outras doenças que provocam tremores?
Sim. Esse tratamento também é indicado para o tremor essencial, que é a doença com tremor mais comum que existe, e para a distonia (distúrbio do sistema nervoso que causa agitação rítmica e pode afetar mãos, cabeça, voz, braços e pernas).


Após a cirurgia, o tremor é interrompido completamente?
A ideia é chegar o mais próximo possível disso. Mas, sem dúvida, a redução de sintomas é muito grande.


Pessoas com dores crônicas e doenças que comprometem a marcha também podem ser beneficiadas quando submetidas a essa técnica?
Teoricamente, qualquer caso de dor neuropática pode ser beneficiado com o uso do eletrodo. Para Parkinson, tremor essencial e distonia, isso está fundamentado há décadas. Já para pessoas que perderam o movimento das pernas, o eletrodo terá que assumir a função de mandar o comando cerebral, fazendo uma conexão entre o cérebro e os músculos. Dentro de alguns anos, isso deve estar na prática médica, já que essa tecnologia é promissora e pode ser estendida para o tratamento de diversas outras condições. Quando fazemos algum movimento, o comando sai do cérebro e passa pela medula para chegar aos membros. Por isso, quando alguma doença danifica esse “caminho”, isso impede que o paciente tenha controle sobre os movimentos dessas partes do corpo. Já há métodos que visam transmitir pensamentos a membros mecânicos para restaurar o movimento. No entanto, essa nova técnica pode ser capaz de realizar ligação direta entre o cérebro e uma região da medula que está danificada, sem a necessidade de próteses robóticas.


Logo A Tribuna
Newsletter