Está chovendo meteoro e podemos aprender com esse fenômeno

Estudo pode nos ajudar a entender as mudanças no clima e melhorar as previsões do tempo

Por: Marcus Neves Fernandes  -  23/01/22  -  10:51
As raras nuvens noctilucentes são formadas a partir de meteoros  
As raras nuvens noctilucentes são formadas a partir de meteoros     Foto: Adobe Stock

Há duas semanas, um meteoro cruzou o céu do Brasil, destruindo-se antes de alcançar o chão. Seu rastro e posterior clarão ao explodir acabaram registrados por diversas câmeras e o flagrante foi motivo de repercussão internacional. O que poucos sabem, porém, é que, diariamente, bilhões de meteoros atingem a Terra.


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Isso mesmo, bilhões. Na verdade, dependendo da época, podem ser dezenas de milhões por segundo. Apenas os maiores se tornam perceptíveis e se transformam em manchetes. Mas todos são tão importantes que influenciam o clima, geram curiosos fenômenos e fazem até chover.


Essas e outras descobertas integram o que alguns cientistas chamam de engenharia reversa dos meteoros – ou seja, um modelo de pesquisa que tenta entender os desdobramentos dessa interação com o planeta. E, ao fazer isso, vamos desvendando detalhes da nossa própria atmosfera.


Nuvens
É o caso das chamadas nuvens noctilucentes. Elas se formam na parte mais alta da atmosfera, a cerca de 80 quilômetros do solo, só nos polos, infelizmente. Com um tom azul metálico, são constituídas por cristais de água que se agrupam na poeira de meteoros.


Todo ano, sempre em determinada época, elas são vistas. Neste, porém, demoraram a aparecer, motivando várias especulações.


O problema de estudar essas nuvens é justamente onde se formam – a mesosfera, onde posicionar satélites é impossível devido ao arrasto da atmosfera, que derrubaria o veículo.


Analisando os meteoros, sejam de que tamanho forem, os cientistas podem obter informações sobre o regime de ventos nessas altitudes, a temperatura, a densidade e as suas direções. Em outras palavras, a química da atmosfera.


O que não conseguem deduzir pela observação, os pesquisadores o fazem por meio de simulações. Nesse sentido, um dos aspectos mais fascinantes desses estudos é a ablação, o cone de calor que surge à frente dos meteoros quando colidem com o ar e outras partículas atmosféricas.


Usando poderosos computadores, esses estudos também ajudam a desvendar a composição, molécula por molécula, da atmosfera, o que resulta em simulações cada vez mais acuradas nas previsões climáticas.


Isso permite, por exemplo, determinar com maior grau de certeza a influência de gases gerados pela atividade humana no clima, como o dióxido de carbono e o metano, afinando os modelos matemáticos que preveem os desdobramentos das mudanças climáticas.Por isso, se você conseguir ver um meteoro cruzar o céu, pense que está sim observando uma raridade, mas pelo seu tamanho e não pela quantidade e diversidade desses bólidos que nos rodeiam.


Siga o calendário
As fontes de meteoros são os asteroides e, principalmente, as sucessivas passagens recentes de cometas cujas caudas cruzam a órbita da Terra. Como todos os anos, nosso planeta passa por essas regiões, em sua órbita ao redor do Sol, é possível prever as chuvas de meteoros. A intensidade desses fenômenos muda de um ano para outro. Quem quiser conferir deve só seguir a tabela abaixo e procurar um local com baixa luminosidade artificial. Os nomes referem-se às constelações de onde elas parecem se originar. Boa caçada!


Líridas: 21 e 22 de abril
Eta Aquáridas: 4 e 5 de maio
Delta Aquáridas do Sul: 29 e 30 de julho
Alfa Capricornídeos: 30 e 31 de julho
Perseidas: 11 e 12 de agosto
Oriónidas: 20 e 21 de outubro
Táuridas do Sul: 4 e 5 de novembro
Táuridas do Norte: 11 e 12 de novembro
Leónidas: 17 e 18 de novembro
Gemínidas: 13 e 14 de dezembro
Úrsidas: 21 e 22 de dezembro


Dinheiro que cai do céu
Dos bilhões de meteoros que atingem a Terra, menos de 20 mil chegam ao solo e um número ainda menor pode ser recuperado. Resultado: encontrar um meteorito é um prêmio de loteria. Um grama, dependendo das características, pode alcançar cifras na casa de R$ 5 mil. A maioria é encontrada nos polos, pela facilidade do contraste da pedra com o solo coberto de neve. No Brasil, o maior deles, conhecido como Pedra do Bendegó, foi encontrado em 1784 no sertão da Bahia e pesou 5.360 quilos. Ele está no acervo do Museu Nacional (RJ) e resistiu ao incêndio que destruiu o local em 2018.


Meteoro e meteorito?
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Planetários, José Roberto de Vasconcelos Costa, quando se observa somente o traço luminoso no céu, diz-se meteoro. Porém, quando o fragmento atinge a superfície, ele é um meteorito. Já aqueles que vagam pelo espaço recebem a denominação de meteoroide. A maioria dos meteoroides possui ferro e silício, entre outros elementos. Dependendo de sua densidade, velocidade e ângulo de penetração, um fragmento do tamanho de um punho já é o bastante para atravessar a atmosfera e chocar-se contra o solo. Para saber mais: www.zenite.nu.


No final do ano passado, astrônomos brasileiros flagraram um raro earthgrazer
No final do ano passado, astrônomos brasileiros flagraram um raro earthgrazer   Foto: divulgação

Caçadores de estrelas cadentes
Há muito já se popularizou o termo estrela cadente. Afinal, luzes que cruzavam o céu pareciam “cair” e algumas realmente “caíram”, como mostra o registro geológico da Terra.


Sendo assim, seja por precaução ou pela primazia de encontrar um corpo celeste, seja um asteroide ou cometa, muitos cientistas e leigos dedicam horas prescrutando o céu ou comparando fotos de diversos observatórios pelo mundo.


Há, inclusive, olimpíadas para observação desses objetos, inclusive no Brasil. Por aqui, aliás, várias contribuições importantes nos colocam em posição de destaque no universo da astronomia.


Entre os não cientistas, jovens como a mineira Laysa Peixoto Sena e a paulista Verena Paccola são alguns exemplos. Aos 18 anos, Laysa descobriu recentemente um asteroide, que já teve a sua rota calculada. Verena, aos 22 anos, já registra 25 dessas descobertas, uma façanha digna de um caçador experiente.


Ambas participam de programas on-line, em que os voluntários passam por um curso e, depois, analisam imagens tiradas de uma determinada região do céu, com intervalos de segundos.


Qualquer mudança observada nos pontos da imagem é relatada. Caso seja inédito, o objeto terá sua rota determinada. Uma vez confirmada, será possível batizá-lo.


Outra recente contribuição, envolvendo um meteoro muito raro, veio do Rio Grande do Sul, do observatório espacial Heller & Jung, em Taquara.


Tratou-se de um earthgrazer, um tipo de asteroide que atinge a atmosfera de raspão e, nesse rasante, pode percorrer mais de 300 km, atravessando vários estados, viajando a cerca de 45 km/s ou quase 300 mil km/h.


Aliás, a velocidade desse bólido trouxe outra informação inédita. Era um meteoro que veio de fora do Sistema Solar, o primeiro já registrado pela Rede Brasileira de Meteoros, que conta com 93 estações em 20 estados.


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