Comportamento: não perca tempo com coisas que não merecem a sua atenção

“Um não nunca é aceito sem justificativa. Isso pode ser exaustivo”

Por: Beth Soares  -  19/06/22  -  14:48
Perdemos muito tempo da nossa vida com explicações
Perdemos muito tempo da nossa vida com explicações   Foto: Adobe Stock

Perdemos muito tempo da nossa vida com explicações. Se calcularmos o tempo que gastamos no processo de fantasiar as possíveis reações que nossas ações ou palavras podem causar, a maneira mais apropriada de abordar temas com as pessoas e, muitas vezes, o rodeio que fazemos para ir diretamente ao ponto, vamos perceber que deixamos uma parte considerável da nossa energia nesses momentos de não viver.


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Não quero dizer, com isso, que devemos ser irresponsáveis e inconsequentes. Mas estive pensando sobre como perco tempo me preocupando com coisas que não merecem minha atenção. Grande parte das vezes, as pessoas que esperam explicações já têm uma opinião formada, seja a seu respeito, seja a respeito do fato em questão. E dificilmente nossas explicações as convencerão do contrário. Só o tempo é que mostra as verdades, muitas vezes por meio de cenários que incluem diversos personagens em um contexto do qual não temos o menor controle. E se tem uma coisa que aprendi nestes anos de existência é que a verdade clama, grita para ser descoberta e vai acabar aparecendo em algum momento.


Em outras ocasiões, as pessoas simplesmente não estão nem aí para os seus motivos. Para elas, tanto faz qual a explicação que se tem para uma atitude. Elas são tão práticas ou insensíveis que só importa mesmo o resultado. Então, para que gastar energia tentando nos cobrir com motivos que nos blindem contra possíveis argumentos? É que, infelizmente, para muitos de nós, a necessidade de aprovação ainda morde os nossos calcanhares.


Sei que muitos vão ler isso e achar que já estão imunes a ela. Então, eu sugiro um teste. Experimente declinar o convite de um amigo ou amiga dizendo simplesmente “não”. Assim mesmo, seco e direto, sem explicações para completar a frase.


Dificilmente fazemos isso, não é? Os nossos nãos, mesmo que já tenhamos aprendido a dizê-los com mais frequência na vida adulta (algumas vezes depois de muita terapia), invariavelmente vêm acompanhados de uma explicação. E vamos ser honestos: há momentos em que nosso “não” é simplesmente “porque não quero”, “porque não estou a fim”. A questão é que raramente estamos prontos para bancar a frase seguinte, seja dizendo, seja ouvindo. Nos preparamos para justificá-lo e esperamos uma boa justificativa quando o ouvimos. E se ela não vier, vamos falar a verdade, todos perguntamos: “mas por quê?”


Um não nunca é aceito sem justificativa. Isso pode ser exaustivo e desgastante depois de um tempo de caminhada pela vida. Porque nós não queremos mais estar onde não desejamos, com pessoas cuja presença não nos agrada ou nos é indiferente. Cada minuto da vida importa, ganha mais valor. E não queremos gastar algo tão valioso desnecessariamente.


Uma das consequências dessa constatação é que, com mais frequência, abdicamos de convites, inclusive para estarmos sozinhos, para descansarmos, para não fazermos nada. Temos todo o direito a isso. Mas a maldita necessidade de dar explicações pode estragar parte desse prazer. A depender do evento a ser negado, ficamos ansiosos, pensando se a justificativa será boa o suficiente para não melindrar o outro. E quem de nós, na verdade, nunca se melindrou com o que chamamos de “desculpa esfarrapada” quando estamos do outro lado? Não seria mais simples aceitar o “não” cru e sincero? Não sei a resposta.


Mas vou continuar tentando dar cada vez menos explicações desnecessárias para os meus nãos. Eles precisam ser livres, autênticos. Só assim servirão plenamente ao seu principal propósito: o autorrespeito.


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