Saiba como escolher o melhor tipo de ensino para seus filhos

Segundo educadora de Santos, é preciso ter em mente o que cabe na rotina e nos valores familiares para fazer a escolha

Por: Willian Guerra  -  26/09/21  -  10:32
 Pais precisam saber o que cabe na rotina dos filhos antes de escolher um tipo de ensino
Pais precisam saber o que cabe na rotina dos filhos antes de escolher um tipo de ensino   Foto: Adobe Stock

Escola é investimento no futuro. Se você é pai ou responsável, certamente já ouviu essa frase ao visitar um colégio antes de matricular uma criança ou adolescente. Na ânsia de ofertar uma educação melhor, buscamos um “ambiente escolar perfeito”, mas, com a variedade de propostas pedagógicas existentes hoje em dia, é fácil se sentir perdido em meio a esse mar de opções. Uma escolha tão importante demanda conhecimento além dos currículos escolares. É preciso ter em mente o que cabe na rotina e nos valores familiares para auxiliar a criança a trilhar sua caminhada na estrada do saber.


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No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) explica que a educação escolar é opcional até os 3 anos e 11 meses. A partir dos 4 anos, a frequência passa a ser obrigatória e o responsável que não efetuar a matrícula fica sujeito a multa ou a detenção de 15 dias a um mês.

Mesmo sendo em parte opcional, a Educação Infantil (dos 4 meses aos 6 anos de idade) funciona como um alicerce. Quem garante é a doutora em Educação e professora universitária da São Judas – Unimonte Elaine Vidal. “A escola é o primeiro espaço de socialização da criança depois da família. É lá que ela aprende a interagir no mundo. É onde ela não tem todas as suas vontades atendidas, aprende a viver em coletividade e a respeitar regras. A escola é a instituição social que transmite não só o saber, mas também a cultura de geração para geração”.


Ainda sobre a Educação Infantil, Elaine reforça que os anos iniciais dentro de uma instituição de ensino vão muito além de um assistencialismo à criança. Ela lembra que, embora tenha surgido com esse viés, hoje a etapa transcende essa ideia. “Se a gente concorda que a escola é um espaço de socialização, na Educação Infantil isso é ainda mais importante. É nessa fase que as crianças aprendem a se relacionar, brincar, resolver conflitos, fora os conceitos básicos do ensino”.


Para quem teve filhos em plena pandemia será preciso tomar cuidado extra. Já que a adaptação a qualquer escola poderá ser mais difícil com o “novo normal”. “A tendência é que essas crianças estranhem mais e chorem mais. Nesse momento, os pais e responsáveis devem ficar atentos também a diagnósticos precipitados de autismo. Muitas dessas crianças não sabem interagir não por serem do espectro, mas por causa do isolamento social provocado pela pandemia”, esclarece a doutora em Educação.


Na medida certa


O que, de fato, é importante para você na hora de matricular o seu filho? Para Elaine Vidal, essa é a pergunta principal que os pais e responsáveis devem se fazer. Com tantas abordagens e métodos de ensino diferentes, cabe uma análise para decidir qual se adapta melhor à cultura da família.


Nesse quebra-cabeça, algumas opções são colégio confessional, militar, bilíngue, com foco no preparo para os vestibulares, que proporciona maior contato com a natureza e por aí vai. Como encontrar o lugar perfeito? “Escola perfeita não existe. Você pode achar um ótimo colégio, mas sempre terá um ponto que vai te desagradar. Seja na socialização, no ensino ou no espaço físico. Por isso, os pais precisam analisar e ver o que, de fato, é importante para eles”, alerta a professora universitária.


Nessa hora, Elaine Vidal recomenda que os pais e os responsáveis estudem sobre as propostas pedagógicas de cada escola. “A direção precisa dizer claramente qual é a concepção de aprendizagem adotada e em que ela consiste. Isso é importante porque hoje vemos equipes pedagógicas dizendo que o colégio é construtivista, só que ele utiliza apostila... Isso não existe. Uma escola construtivista não usa apostila”, afirma a docente.


De acordo com a educadora, é possível ter diversas práticas pedagógicas em um mesmo colégio, mas, assim como acontece em um barco, é preciso haver um norte, que é o método de ensino. “É muito comum se dizer que não se segue um método ou abordagem fechada, mas que se mescla técnicas. Quem fala isso quer agradar a todo mundo, mas não assume, de fato, qual é a sua direção. Você pode ter diferentes práticas pedagógicas em uma mesma escola, mas não diferentes concepções de aprendizagem, pois você acredita que se aprende de um jeito e não de outro. Se o colégio não consegue responder tal pergunta, é sinal de que a sua equipe não tem essa clareza. E isso é um problema!”


Compreendendo os métodos


Portanto, é preciso que a escola, além de deixar claro qual método de ensino adota, informe aos pais e responsáveis como ele é aplicado no dia a dia. Afinal, o método pode ser definido como o caminho que o aluno vai trilhar até atingir as metas de socialização e aprendizagem.


Tem mais: os métodos ainda são uma forma de tornar a aula mais dinâmica. Sabe aquela clássica concepção de chamada ou de sala com cadeiras enfileiradas, uma atrás da outra? Nem todo colégio segue esse roteiro, por mais que seja o que surge logo na nossa mente quando lembramos de uma instituição de ensino.


Tais práticas, por sinal, fazem parte do mais conhecido método: o tradicional. “Nele, o professor figura como o detentor do saber. “Nele, o professor figura como o detentor do saber. Quem transmite o conhecimento ao aluno. Na Pedagogia, essa metodologia vem da concepção empirista, na qual o conteúdo é passado de fora para dentro. No caso, do professor para o aluno”, explica Elaine Vidal.


Focada na exposição verbal de conteúdo e em demonstrações, a vertente tradicional foi criticada por Paulo Freire, que chamava-a de “educação bancária” – quando apenas se “deposita” o conteúdo nas cabeças dos alunos, sem se preocupar com o contexto em que aqueles estudantes vivem e com os seus conhecimentos anteriores sobre o assunto.


Mais opções


Sob o regimento da Antroposofia – ciência que propõe uma forma livre e responsável de pensar –, as escolas que adotam o método Waldorf não focam em livros ou recursos didáticos tradicionais, mas em técnicas e materiais que colocam o aluno em contato com a natureza e com atividades do dia a dia. “Aqui, temos uma concepção inatista. Essa vertente defende que tudo está dentro da pessoa e que precisamos apenas lapidar o indivíduo para que todo o saber apareça. Na pedagogia Waldorf, por ser uma proposta de extensão da casa, se respeita também o tempo biológico da criança, com elas, por exemplo, sendo alfabetizadas só quando começam a cair os dentes”, destaca Elaine.


Já na escola construtivista, o professor tem o papel de mediar as atividades que estimulam o aprendizado. “É uma vertente interacionista. Ela acredita que o saber não está nem dentro do indivíduo, nem fora. Ele se dá na interação. No momento em que interage com o outro, você constrói seu conhecimento”, diz a docente.


Para o pensador suíço e referência em educação Jean Piaget, no construtivismo o desenvolvimento cognitivo tem um movimento de assimilação e acomodação. Ao contrário do que as palavras sugerem, esse movimento é um constante processo de novas descobertas, questionamentos sobre o que foi consolidado e modificações para acrescentar informações à bagagem prévia.


O método sociointeracionista acrescenta as ideias de Piaget às do psicólogo Lev Vygotsky e avalia como o ambiente influencia nos processos de aprendizagem. Nessa vertente, aspectos objetivos e subjetivos presentes no cotidiano impactam no desenvolvimento e na formação do aluno dentro da sociedade. Assim, o conhecimento é adquirido por meio da interação social e da troca de experiências.


No centenário de Paulo Freire, não poderíamos deixar de citar o método freireano. O patrono da educação brasileira alfabetizou, em apenas 40 horas, mais de 300 trabalhadores rurais, permitindo que exercessem plenamente os seus direitos – entre eles, o de voto –, fato que incomodou a elite de Angicos (RN). Essa metodologia, muito utilizada na Educação de Jovens e Adultos (EJA), consiste em considerar os conhecimentos prévios e a realidade em que o estudante está inserido e, por meio de palavras comuns no seu cotidiano, promover a alfabetização e a participação na vida social e política. Essa vertente ainda é conhecida como educação libertadora. Para Paulo Freire, o professor não é só um mediador do conhecimento; ele aprende com o aluno através do diálogo. O desenvolvimento da autonomia também é o coração do método montessoriano, que foi criado pela educadora italiana Maria Montessori. Nele, a criança é estimulada a aprender e a desenvolver seus conhecimentos pela curiosidade e independência, em ambientes que possibilitem viver experiências diversas.


O mobiliário, portanto, é pensado para promover a autonomia e o fácil acesso do pequeno. Assim como em outras vertentes, aqui o professor é um mediador e guia, que ajuda os estudantes em suas dificuldades.


Ensino Bilíngue


A oferta da língua portuguesa com a inglesa tornou-se comum, principalmente em instituições de ensino da rede privada. Estudo da Universidade Stanford, dos EUA, revelou que, por estimular a neuroplasticidade – capacidade de adaptação cerebral quando se é exposto a novas experiências –, o ensino bilíngue tende a conferir à criança ou adolescente uma maior capacidade de bloquear distrações, reter a atenção e priorizar, analisar, focar e organizar a informações. Já pesquisa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, apontou que os bilíngues levam vantagem em habilidades cognitivas, de comunicação e interação social.


Mas é preciso ficar atento à propaganda enganosa. “Não adianta falar que é bilíngue e colocar duas aulas de Inglês por semana. Isso está errado. Seria necessário oferecer a mesma quantidade de horas/aulas semanais em ambas as línguas”, enfatiza Elaine Vidal.


Rede pública


“Infelizmente, hoje, quando pensamos em escola pública, a primeira coisa que vem à nossa cabeça é uma imagem ruim”, comenta a professora universitária. Só que, apesar de todas as dificuldades, ainda existem pequenos oásis de esperança na base do ensino público.


“Principalmente nos colégios de Educação Infantil, o espaço físico existente é bem maior e melhor do que o de muitas escolas particulares”, ressalta Elaine.


E com a crise econômica gerada pela pandemia de covid-19, diversos jovens migraram da rede privada para a pública. Para a doutora em Educação, esses estudantes podem contribuir com um processo de transformação. “Esses novos alunos da rede pública vêm de uma outra realidade. Então, tenho a esperança de que eles sejam mais unidos e cobrem melhores condições de ensino”.


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