Publicitário da Baixada Santista ganha prêmio no festival de Cannes

Gustavo Gomes de Almeida levou um Leão de Bronze no Festival Internacional de Criatividade

Por: Stevens Standke  -  25/07/21  -  09:05
 O publicitário Gustavo Gomes de Almeida
O publicitário Gustavo Gomes de Almeida   Foto: Matheus Tagé/AT

Para um publicitário, não existe maior reconhecimento do que ganhar um Leão de Bronze, Prata ou Ouro do Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade, realizado todo ano na França (prêmio que tem peso equivalente ao do Oscar para um ator ou diretor de cinema). O publicitário Gustavo Gomes de Almeida, mais conhecido como GGA, entrou para esse seleto time, ao faturar um Leão de Bronze na edição deste ano do festival, pelo trabalho na campanha Jesus Our Supporter, da Adidas.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Natural de São Paulo, GGA cresceu entre Santos e Guarujá e cursou Publicidade na Esamc. Depois de dar os primeiros passos profissionais na região, seguiu para a Capital, onde fundou a produtora de vídeo Sailor Studio, com o sócio Luccas Oliveira.


Na entrevista, o publicitário de 32 anos, que se especializou em motion design (animação) e, devido à pandemia, voltou a ficar 100% do tempo em Santos, fala da sua evolução profissional e analisa o impacto da crise sanitária no mercado da propaganda.


Prêmio


O que representou para você ganhar o Leão de Bronze?


Foi um sonho realizado. O meu sócio na Sailor Studio, o Luccas Oliveira, costuma brincar que, se você é um cientista, geralmente tem o sonho de ganhar um Nobel. Enquanto o ator deseja conquistar o Oscar. Já para o publicitário, o prêmio máximo é o Leão de Cannes. Eu e o Luccas trabalhamos na etapa final da campanha Jesus Our Supporter. Primeiro, a agência Ogilvy elaborou a ação publicitária para a Adidas destinada à decisão da Libertadores da América de 2019, entre o Flamengo e o River Plate. Ela consistiu em projetar no Cristo Redentor a camiseta do Flamengo, time patrocinado pela marca e ganhador do torneio.


Como foi uma ideia audaciosa, a Ogilvy chamou eu e o Luccas para montar o videocase da campanha, para concorrer em Cannes.


Ou seja: não basta simplesmente inscrever a ação publicitária no festival. É preciso produzir um vídeo sobre ela, que pesa para o júri decidir quem serão os ganhadores?


Exatamente. O videocase (vídeo de apresentação da campanha) pode derrubar ou levantar aquela ideia, aquele trabalho. Além da agência de publicidade que fez a campanha, normalmente participam da elaboração do material que vai para Cannes: uma produtora de vídeo, que no caso da campanha Jesus Our Supporter, foi a Sailor Studio, e também uma produtora de áudio, que, muitas vezes, compõe uma trilha e chama até uma orquestra para gravar a faixa para o videocase.


A produtora de áudio que trabalhou com a gente foi a CANJA. Portanto, quando uma campanha de publicidade ganha o Leão de Cannes, o prêmio vai tanto para a agência quanto para a produtora de vídeo e para a produtora de áudio. As três levam o prêmio.


O que não pode faltar no videocase?


Ele deve começar mostrando o conceito da campanha. Em seguida, é preciso explicar como foi a execução daquele trabalho. E por último, detalhar a sua repercussão na mídia e nas redes sociais. O júri de Cannes gosta de ver como foi o alcance da campanha, por meio de citações em matérias de jornal, de posts de influenciadores digitais comentando e compartilhando aquela ação comercial etc.


Quanto tempo vocês levaram para desenvolver o vídeo?


Foi um processo longo, que demorou de dezembro de 2019, logo após a final da Libertadores, até meados do primeiro semestre de 2020. Íamos participar da edição do ano passado do Cannes Lions, mas veio a pandemia e ela acabou sendo cancelada. Agora, em 2021, cerca de 29 mil campanhas concorreram no festival.


A preparação para Cannes é uma loucura; ela mexe com os publicitários de um jeito...


No segundo semestre, as agências começam a pensar se têm trabalhos que podem concorrer em Cannes e, em paralelo à rotina normal, desenvolvem os seus videocases – virando, se preciso, noites em claro para conclui los. Afinal, não dá para negligenciar os clientes e os trabalhos do dia a dia e focar só no festival. É preciso conciliar tudo.


Pandemia


Como o mercado publicitário se adaptou ao “novo normal”, trazido pela covid-19?


A demanda por vídeos ficou bem alta, em especial os de animação, até porque as restrições dificultaram e encareceram a produção de vídeos gravados com pessoas e locações, com a necessidade de realizar testes na equipe inteira etc. Para você ter ideia, na Sailor Studio, chegamos a fazer um comercial inteiro com vídeos de banco de imagens, que passou nos intervalos da Rede Globo. Essas foram as soluções encontradas para manter o mercado publicitário funcionando com o isolamento social.


Algum segmento se destacou mais?


Com a pandemia, a indústria de games se tornou ainda mais importante para entreter as pessoas em casa. Nos primeiros meses de isolamento social, houve muita demanda da Sony, que, além de divulgar os jogos de PlayStation 4 que colocava nas lojas, investiu pesado na campanha de lançamento do PlayStation 5.


Na sequência, o setor de varejo, os supermercados passaram a apostar com força em material publicitário. Hoje, com o avanço na vacinação, vivemos um momento em que os comerciais voltam aos poucos a ser gravados com pessoas e locações, mas o motion design (animação) tende a seguir firme.


O mercado publicitário já vivia um processo de transformação mesmo antes da pandemia, concorda?


Sim. Os anunciantes passaram a contar com formas bem mais variadas de abordagem do cliente. Até pouco tempo atrás, as produtoras de vídeo só faziam material para, basicamente, ser exibido na televisão. Hoje, com o fortalecimento cada vez maior das redes sociais e da internet, dá para produzir uma gama de conteúdos digitais para uma marca.


Sem falar que, na web, o material pode ser mais ousado, exótico e até mais longo. Você consegue segmentar bem: um conteúdo com formato para o Facebook, outro para story do Instagram... Nos últimos anos, o mercado publicitário precisou repensar tudo o que fazia, ele se adaptou às novas linguagens e possibilidades. O que acontece bastante agora é você produzir um filme principal para a TV e desmembramentos ou variações dele para serem usados em sites e nas redes sociais. Às vezes, prepara-se para a web, inclusive, elementos extras, adicionais, que não existem no vídeo da tevê.


Baixada


Você nasceu em qual cidade da região?


Na verdade, eu nasci em São Paulo e a minha família se mudou para Guarujá quando eu tinha 11 anos. Depois que terminei o colégio, fui morar em Santos e cursei Publicidade e Propaganda na Esamc. Me formei em 2012. Como tenho apartamento e família em Santos, desde antes de abrir a Sailor Studio, quando morava em São Paulo e era freelancer, eu já tinha o costume de trabalhar alguns dias da semana em Santos. Aí, com a pandemia, a minha produtora entrou 100% em home office e, desde então, tenho ficado praticamente o tempo inteiro na Cidade. A gente usa o escritório em São Paulo mais para uma reunião ou outra. Estamos debatendo até se vamos retomar o trabalho presencial, pois o home office funcionou muito bem e a empresa cresceu do ano passado para cá. Nossa sede na Capital foi projetada para seis, sete pessoas; agora somos em 11.


Chegou a trabalhar com a publicidade, digamos, convencional ou foi direto para o motion design?


Quando entrei na faculdade, eu imaginava que ia trabalhar dentro de uma agência como o publicitário que tem ideias geniais para as campanhas. Só que um professor da Esamc, o Fernando Morini, abriu portas para o meu primeiro estágio, que foi em uma produtora de vídeo da região. Assim, percebi que levava jeito para o motion design. Até então, nem sabia que essa área existia, e comecei a gostar dela. Aos poucos, fui deixando de editar vídeos, para focar na animação para a publicidade.


E quando resolveu montar o seu próprio negócio?


Após me formar, trabalhei em duas produtoras de vídeo de Santos, na sequência fiz material para uma campanha de governador em Roraima e, quando voltei para a Baixada, em 2015, fui chamado para o meu primeiro emprego de motion designer em São Paulo. Com o tempo, passei a fazer freelances para diversas agências de publicidade da Capital e, há dois anos, abri a Sailor Studio com o Luccas Oliveira. Eu sempre quis ter a minha própria produtora, mas ficava com medo de a demanda não ser suficiente para manter a empresa. Graças aos contatos que eu e o Luccas fizemos no período em que fomos freelancers, conseguimos construir uma base bacana de clientes. Hoje, o fluxo de projetos vem quase que automaticamente, a gente praticamente não fica prospectando trabalhos.


Logo A Tribuna
Newsletter