Pedro Scooby: 'O surfe me salvou'

Um grande nome do esporte quando se trata de ondas gigantes. Scooby fala sobre drama familiar e seu lado empreendedor

Por: Stevens Standke  -  11/07/21  -  18:29
  “Há dois anos, eu quase morri. Fiquei três ondas embaixo d’água... Minutos sem enxergar”
“Há dois anos, eu quase morri. Fiquei três ondas embaixo d’água... Minutos sem enxergar”   Foto: Neuronha/Divulgação

As dificuldades que enfrentou desde cedo não endureceram Pedro Scooby. Pelo contrário, a separação dos pais quando tinha 15 anos e a necessidade de se tornar a pessoa que sustentava a casa foram essenciais para amadurecer rapidamente e ser quem é hoje – um cara alegre, otimista, dedicado e preocupado em ser um bom pai para os três filhos (Dom, de 9 anos, e Liz e Bem, de 5, frutos da relação com a atriz e apresentadora Luana Piovani). Concorrendo ao título de surfista que pegou a maior onda do mundo, o carioca de 32 anos tem conciliado o esporte com uma nova faceta sua, a de empreendedor, e se tudo sair como o planejado, deseja ampliar o seu comprometimento com causas sociais, de repente até criando uma ONG. Na entrevista a seguir, que concedeu direto de Portugal, onde mora, Scooby fala, entre outros assuntos, da vontade de se aposentar no surfe antes dos 40, da carreira que Dom começa a construir no skate e do pior acidente que sofreu no mar – no qual quase morreu.


Família


O que você sente quando olha para trás e vê tudo o que conquistou?


Vivo o meu sonho de moleque. Com 5 anos, o meu pai, que surfava, me ensinou a pegar onda. Mas, dos 5 aos 9, me afastei do esporte. Foi só aos 10 anos que o surfe entrou, de fato, na minha vida, como uma fonte de prazer que foi se tornando aos poucos uma profissão. A minha inspiração foi um amigo da escola que, com 9 anos, já tinha patrocínio e viajava para competir. Sabe, algumas pessoas se assustam com a vida que a criança leva quando começa a se dedicar a um esporte. O meu filho Dom está com 9 anos e já compete no skate. Entendo o que ele está passando, pois vivi isso. Com ele, procuro preservar o lado da brincadeira da infância, mas mostro que tem que treinar e se comprometer. O primeiro salário que ganhei no surfe foi aos 13 anos.


Quando percebeu que o Dom levava jeito para o skate?


Ele gostava de surfar no Brasil, mas, quando nos mudamos para Portugal, há dois anos, o Dom falou que não queria mais pegar onda, porque a água é muito fria. Eu me cobro demais de não transformar um sonho meu em uma vontade do meu filho. Procuro deixá-lo livre para fazer o que desejar. Como tenho amigos do skate, o Dom foi comigo em uma competição e acho que isso o fisgou. De lá para cá, ele teve uma evolução rápida. Neste ano, ganhou as duas etapas da liga portuguesa. Outra preocupação que tenho com os meus filhos é evitar que as pessoas tirem vantagem deles, por terem pais conhecidos. Só que o Dom é um moleque inteligente, avançado para a idade dele.


Pelo jeito, procura ser um pai bem participativo.


Eu sempre me preocupei em ser um pai presente. A Luana (Piovani) não engravidou sem querer não. A gente começou a namorar no segundo dia em que ficou e, um mês depois, nós estávamos praticamente morando juntos. Como já tinha 34 anos, a Luana me falou do sonho de ser mãe e eu também andava pensando em ser pai, pois tive uma vida bem difícil com a minha família quando era novo. Após seis meses, a Luana estava grávida do Dom. Eu tinha 22 anos na época. Hoje, com 32, é incrível olhar para os meus filhos. Sou muito grato por tudo o que aconteceu na minha vida. Falo bastante do Dom, porque ele está numa idade em que já troca, em que já conversa mais. Com o Bem e a Liz, que têm 5 anos, é mais dar amor, carinho. Também agradeço a Deus pela minha esposa, Cintia (Dicker, modelo), ter aparecido na minha vida. É bacana a relação que ela e o namorado da Luana mantêm com as crianças.


Como fica por, às vezes, se ver no meio de polêmicas na mídia, como aconteceu recentemente por causa de posts da Luana?


A sociedade costuma achar que pelo fato de o pai e a mãe terem se separado que a família acabou. A nossa família continua. Família é amor e o Dom, a Liz e o Bem recebem amor de sobra. Procuro ser feliz, ter uma relação boa com a Luana mesmo com dificuldades e com desafios pelo caminho.


Amadurecimento


Você comentou que viveu momentos complicados em família quando era mais novo. O que ocorreu exatamente nessa época?


O meu pai saiu de casa quando eu tinha 15 anos e não foi nada fácil. Como eu já ganhava salário no surfe, me tornei o homem da casa. Por mais que eu seja um cara brincalhão, alegre, uma eterna criança, precisei amadurecer e assumir responsabilidades de adulto, de cuidar da minha mãe e do meu irmão, bem cedo. Graças a Deus, tudo foi se acertando com o tempo. Voltei a ter relação com o meu pai no ano passado. Desde que ele reapareceu, a gente ficava tentando resolver as coisas e não funcionava. Fui meio que criado pela rua, pelas pessoas que conheci na vida. O surfe me salvou. Eu não fui para nenhum caminho errado por causa do esporte. Com o meu irmão, que é um amor da minha vida, foi diferente.


O que aconteceu?


Ele seguiu o caminho errado, pagou pelo erro dele e, agora, leva uma vida nova. Não poderia existir melhor cenário do que o que eu vivo hoje: a minha família está unida e feliz, me encontro no auge da minha carreira, sou patrocinado pelas melhores marcas, me casei com uma mulher maravilhosa e os meus filhos estão cheios de saúde. Sou o tipo de pessoa que, até quando passa por problemas, agradece o que tem e é otimista. Sempre procuro transmitir alegria mesmo nos perrengues. Na minha opinião, as dificuldades também trazem aprendizados e acabam nos fazendo evoluir.


Radical


Você iniciou a sua carreira no surfe, digamos, convencional. O que o levou a pegar ondas gigantes?


Quando eu tinha 19, 20 anos, a minha mãe e o meu irmão já estavam trabalhando. Como eu já não precisava cuidar tanto deles, comecei a sair à noite, a levar uma vida de festa e curtição, e passei por uma fase em que me distanciei um pouco do mundo do surfe, pois ainda havia quebrado o pé e estava meio “pendurado”. Aí, viajei para Puerto Escondido, no México, e ao ver o pessoal pegando ondas grandes, pensei: “Acho que também consigo fazer isso”. Entrei no mar e saí aplaudido. Normalmente sou bastante criativo. Ainda moleque, inovei no surfe aéreo com manobras progressivas diferentes, mas me encontrei de verdade nas ondas gigantes. O (Carlos) Burle passou a me treinar e me ensinou demais. Em outubro, peguei em Nazaré (Portugal) uma onda que está concorrendo a ser a maior já surfada no mundo.


Qual foi o maior perrengue que já passou no mar?


Há dois anos, eu quase morri. Levei um caldo em Nazaré (Portugal) e fiquei três ondas embaixo d’água. Quando voltei à superfície, devido à falta de oxigenação no cérebro, fiquei alguns minutos sem conseguir enxergar... Já abri a cabeça e tive outros acidentes, mas esse foi o pior de todos. Nenhum me machucou tanto internamente, em termos psicológicos.


Empreendedor


E você sente saudades do Brasil?


Eu não deixei o País. Divido a minha vida entre Portugal e Brasil. Estou sempre por aí; recentemente, fiquei quase quatro meses no País, com os meus filhos. Sou apaixonado pelo Brasil. Um dos melhores lugares do mundo, na minha opinião, é o Rio de Janeiro. Mas não sou cego, tenho consciência dos problemas que existem. Todo lugar possui o lado bom e o ruim, não é mesmo? Fui morar em Portugal, porque, na época, eu e a Luana (Piovani) estávamos juntos e ela queria muito se mudar, por uma questão de segurança. Também tem o seguinte: a minha família por parte de mãe é portuguesa.


E, em paralelo ao surfe, tenho empreendido em algumas coisas no Brasil nos últimos dois anos. O que despertou esse seu lado empreendedor?


Sempre fui um cara de viver o momento, o agora, mas, de um tempo para cá, percebi que posso direcionar melhor o que ganho com o surfe, porque quero me aposentar antes dos 40 e manter a mesma qualidade de vida que tenho hoje. Primeiro criei com três amigos a Sal, Água & Alma, marca de acessórios masculinos inspirados na conexão que existe entre o homem e o oceano. O negócio está indo superbem. Também tenho uma produtora, com a qual faço vários trabalhos, entre eles o meu programa para o Canal Off e uma campanha da HStern, que eu concebi, dirigi e estrelei. E há poucas semanas, entrei como sócio-investidor da startup de biotecnologia Visto.bio. Estamos montando estratégias para fazer a empresa crescer ainda mais, e eu quero que esse negócio, de alguma forma, contribua com as atividades da Corrente pelo Bem, ONG que realiza ações que tentam diminuir a miséria e a desigualdade social nas comunidades carentes do Rio de Janeiro e a qual apoio há bastante tempo.


Engajado


Por acaso, tem vontade de montar um projeto social?


Sempre fui um cara que ajuda os outros, que divide o que tem e que se esforça para fazer as coisas acontecerem para todo mundo. Acredito que a vida é isso. Não adianta você ter tudo e a pessoa do seu lado, nada. É melhor todo mundo ter um pouco, o necessário, e ser feliz. Sou de pensar no próximo, sigo o meu coração, sabe? Dependendo de quanto o meu lado empreendedor der certo, pretendo compartilhar os resultados com os outros. Penso em criar, sim, um projeto social ou, então, transformar alguma entidade que já existe em algo bem maior. Mas procuro não falar a respeito, porque não desejo usar isso como marketing. O meu marketing é pegar ondas gigantes.


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