Pandemia muda forma como as pessoas se exercitam

Profissionais e clientes tiveram que se adequar à nova realidade imposta pela covid-19

Por: Por Alcione Herzog  -  17/01/21  -  15:21
O educador físico Pablo Seixas e sua aluna, Letícia Borges Taveira
O educador físico Pablo Seixas e sua aluna, Letícia Borges Taveira   Foto: Carlos Nogueira

Reinventar é a palavra de ordem neste período totalmente novoque estamos vivendo. E isso vale para tudo. Seja honesto comvocê mesmo: qual foi a última vez em que, em nome da sua saúde, pensou em mudar ou readequaro jeito como pratica atividadefísica e encara o cuidado como seu corpo e a sua mente?


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O educador físico epersonaltrainerPablo Seixas e sua aluna,a terapeuta Letícia BorgesTaveira, de 35 anos, se adaptaram de uma forma bem criativa à realidade imposta pela pandemia. Especialista em treinamento desportivo e em prevençãoe lesões e de doenças musculoesqueléticas, Seixaspropôs para Letícia práticasao ar livre para substituir arotina de exercícios comaparelhos na academia.


A equipe da AT Revistaencontrou os dois na subidada Ilha Porchat, em São Vicente,e acompanhou uma dessas aulas.O convidativo cenário com sol,mar e o verde da naturezaprovou que dá para sair dacaixinha sem desrespeitar os protocolos sanitários. A duplausou o banquinho da praça,a mureta da praia e pranchasde standuppaddlecomo ferramentas para uma sequência diferenciada de movimentos.


“Precisamos tomar todosos cuidados necessários paranos protegermos da covid-19,sem esquecermos de mantero nosso sistema imunológico fortalecido para reagirmos mais positivamente a um possível contágio. O treino externo é importante nesse momento,pois potencializa os ganhosda atividade física e mental”,explica opersonaltrainer, que já prezava por esse modelo antes.


A pandemia, portanto, somente intensificou o objetivo do educador físico de conectar os alunos com a sensação de prazer nas atividades, afastando o conceito do esporte como uma obrigação, como algo extremamente exaustivo,sempre em ambientes fechados.


Estímulo de fácilacesso


Pablo Seixas faz parte do time de preparadores que insistem em mostrar que a atividade físicapode ir muito além do que a maioria das pessoas imagina.“Tem gente que se identifica e se beneficiacom o padrão de musculação na academia e está tudo bem. Mas não podemos deixar de experimentar novas formas de se movimentar. Proponho justamente esse desafio para os meus alunos”, observa.


Para Seixas, os treinos quenão ficam tão presos ao relógio ea metas severas, e que mesclam diferentes métodos e estímulos,sãosuperválidose importantes, ainda mais nos dias atuais. “Perdemos ferramentas grandiosas quando não fazemos experiências que estão ao nosso alcance, como se exercitar na ciclovia, na praia,no mar”, resume opersonaltrainer, que percebeu o aumento no número de adeptos do ciclismo, da corridae da caminhada com a pandemia.


Antídotos para a ansiedade


Em tempos decoronavírus, que tal dar uma maneirada na cobrançapor resultados mais expressivosno cronômetro, na balança e


na fita métrica? Fazer uma trilha, caminhar na orla, acordar mais cedo para treinar e ver o sol nascer de um ponto diferente da cidade também são atividades físicas bacanas, que funcionam como poderosos antídotos contra a ansiedade decorrente da pandemia.


Foi essa maleabilidade na escolha dos exercícios que pratica, aliada à integração com a natureza, o que permitiu a Letícia Borges vivenciar algo que já sabia enquanto terapeuta. Ela conta que fazia treinos ao ar livre no máximo uma ou duas vezes por mês. Com a covid-19, essa sua rotina mudou. Mesmo nos dias com chuva, as suas aulas são externas.


“Eu tenho buscado cada vez mais a conexão com o natural. No meu trabalho, sempre falo da diferença queexiste entre o normal, que éo que segue a norma, e o natural, que é aquilo que tem a ver coma nossa natureza. Esquecemosque fazemos parte da natureza. Quando nos exercitamos aoar livre, fica mais fácil para lembrarmos disso. E esse contexto diferenciado acaba refletindono nosso corpo e na nossa saúde como um todo”, aponta Letícia.


Funcional, aula remota...


Mesmo assim, há quem nãoquer abrir mão dos exercíciosde força com aparelhos, só que ainda não se sente confortávelpara voltar a compartilhar espaços fechados, como o da academia.A boa notícia é que tambémexistem alternativas interessantes para esse tipo de situação.


Uma delas: recorrer aos exercícios funcionais, que já andavam em alta desde antes da pandemia e que consistem em utilizar o peso do próprio corpo para realizar séries de movimentos.


Além disso, as aulas remotasvêm se popularizando cada vez mais. Pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF)para os segmentos de saúde,beleza e bem-estar mostra que os treinos prescritos pela web e outras estratégias digitais foram a armade sobrevivência adotada por 89% das empresas do segmento fitnesse esportivo durante a quarentena.


Individuais ou coletivas, as aulas a distância também alcançaramum grupo de pessoas que, antesdo período de isolamentosocial,nãocostumavam se exercitar,por não se identificarem com o ambiente da academia ou por sentirem que destoavam dos demais, em termos estéticos.


CauSaad,personaltrainerpaulistana e criadora do circuito funcionalWorCAUt, aliou asduas coisas no que chamou deCauExpress. Trata-se de um programa de exercícios funcionais em que o professor treina remotamente junto com o aluno. Nele, a pessoa usa o que tem em casa: cadeira, sofá, cama, mesa... Até os livros ganham utilidade extra.


E tudo é feito com muitaatenção e calma para garantirque as posturas e os movimentos sejam realizados corretamente. Para quem preferir ou necessitar,o treino também pode contar com o acompanhamentopresencial de um educador físico.


“O meu método inclui um mixde estímulos, como peso do próprio corpo, elástico e outros itenspara exercícios multifuncionais.Se a pessoa não tem nada em casa, eu crio alternativas e soluçõescom o que ela possui paraadaptar o treino e conseguir os mesmos efeitos de resistência física, tonificação muscular, emagrecimento, melhora da postura e força”, explicaCauSaad.


A cada aula, o aluno aindadeve indicar o seu nível de cansaço físico e mental, por meio deuma escala que vai de um a cinco.De acordo com as respostas,o professor ajusta as características e a intensidade do treino.


Atenção aos riscos


É fato:a prática regular de atividadefísica associada a uma alimentação balanceada, à hidratação adequada e ao sono de qualidade melhoraa respiração, a circulação e aparte hormonal. Sem falar que fortalece o sistema imunológico.


Mas não basta escolher uma modalidade e se jogar nas aulas.Além de cumprir os protocolos sanitários contra a covid-19,é fundamental respeitar as limitações do seu organismoe não exagerar na dose.


Segundo Rogério Neves, médico do esporte com especializaçãoem Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo pela <QA0>


Escola Paulista de Medicina,da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se a pessoa não realiza corretamente a atividade física, com o tempo terá um efeito adverso, em vez de colher os resultados desejados. E a piorada imunidade está nessa lista.


“Observamos que a prática de exercícios em casa provocou um aumento no número de lesões, principalmente no caso de quem não conta com o suporte de um profissional da área. É importante frisar o seguinte aspecto: a pessoa que nunca fez nada não pode <QA0>


insistir em exercícios para osquais ainda não está preparada”, alerta o médico Rogério Neves.


Tem mais: independentemente de você estar habituado (ou não)a treinar, não pode deixar de“olhar para dentro”, para entendero que realmente sente e busca.


“Os cuidados gerais não mudam, são os mesmos para todo mundo. Deve-se fazer exames e uma avaliação médica antes de começar ou recomeçar uma atividade física. A partir do objetivo – emagrecer, modelar o corpo, melhorar o condicionamento ou bater recordes pessoais – e do nível de saúde de cada um, é traçada uma estratégia segura e eficiente”, destaca Neves.


O passo seguinte, vale reforçar,é providenciar o suporte de um profissional qualificado, que vai orientar sobre qual treino émais indicado para o seu perfil.Seja ele indoor, ao ar livre ou uma combinação das duas propostas.


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