Outubro Rosa revela histórias de força e determinação no combate ao câncer de mama

Mês lembra da importância do autoexame e das consultas preventivas

Por: Willian Guerra  -  10/10/21  -  07:46
 Outubro Rosa foi criado na década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen For the Cure, dos Estados Unidos
Outubro Rosa foi criado na década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen For the Cure, dos Estados Unidos   Foto: Reprodução

“Quando eu senti um carocinho no peito, a última coisa que pensei foi que seria algo ruim por conta da minha idade. Eu estava tranquila. Depois que o médico leu o resultado da biópsia e esboçou uma cara preocupada, comecei a ficar assustada. Quando ele falou que as chances de eu ficar boa eram muito baixas, meu mundo caiu”. Este relato é de Guilianna Nardini, comunicadora visual e designer, de 23 anos, que tinha 21 quando descobriu o câncer de mama.


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Assim como Guilianna, muitas mulheres se espantam com essa doença chegando de forma precoce. Campanhas publicitárias focam em pessoas com mais de 40 anos. No entanto, o câncer de mama não escolhe faixa etária. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a previsão é de que 66 mil novos casos sejam diagnosticados neste ano. E assim como todo tipo de câncer, a descoberta precoce é a melhor maneira de vencer a doença.


O Outubro Rosa, mês de conscientização da saúde da mulher, foi criado na década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen For the Cure, dos Estados Unidos, justamente para compartilhar informações e promover testes para esse diagnóstico precoce. Junto a toda campanha, há também um símbolo universal: o laço rosa, que hoje estampa fôlderes e portais na internet. Ele foi desenvolvido pela norte-americana Charlotte Haley. Indignada com a falta de ações e pesquisas sobre o câncer de mama na década de 1980, ela liderou um movimento local em Los Angeles reivindicando maior atenção à saúde feminina. Para que todos soubessem da sua causa, criou um laço de fita cor-de-rosa, sua cor favorita, para as pessoas prenderem junto à lapela. Quando perguntada sobre o que se tratava o item, cabia a cada pessoa explicar o motivo, criando assim uma rede de conscientização.


Fertilidade


O susto vivido por Guilianna Nardini é uma prova dessa necessidade. Mesmo jovem, ela chegou a ouvir de médicos que não sobreviveria devido à agressividade do câncer. “Descobri na quinta e no domingo ouvi que ia morrer”. Ela superou a doença após dois anos de tratamento, com 16 ciclos de quimioterapia, 25 sessões de radioterapia, quatro cirurgias, incluindo uma mastectomia bilateral. Assim como Giulianna, Marília Buccini também precisou encarar de frente o diagnóstico do câncer de mama. Aos 31 anos e se preparando para o primeiro filho, a servidora do Ministério Público de São Paulo descobriu o tumor durante um ultrassom de mama.


“Eram exames de rotina, mas que mudaram a minha vida”, conta. Junto à doença, veio também o medo da infertilidade. Marília optou pelo congelamento de óvulos, técnica oferecida a mulheres que querem ser mães, mas que estão enfrentando a doença.


Isso acontece porque, segundo o Inca, o câncer de mama pode afetar a fertilidade feminina. No entanto, não se trata de uma regra e Marília é exemplo disso. Hoje, aos 35 e sem evidências da doença, ela está grávida de sete meses (sem precisar usar os óvulos congelados) e se prepara para ter sua filha.


Para ajudar Giulianna, Marília e tantas outras mulheres que todos os dias recebem a impactante notícia, o Instituto Quimioterapia e Beleza (IQeB) atua para que a jornada dessas pessoas seja percorrida com mais leveza. Criado em 2014 pelas amigas Flávia Flores e Deborah Duarte, busca o bem-estar físico e psicológico. Deborah, diretora do instituto, explica que a luta precisa ser diária. “Sabemos o quão importante é o Outubro Rosa, mas precisamos chamar a atenção todos os dias do ano para essa causa. O diagnóstico precoce é a melhor forma de combater a doença e, por isso, não há data. Temos que nos cuidar diariamente”, afirma ela.


Suporte


Enfrentar um câncer não é fácil. Seja quem viveu na pele ou quem esteve ao lado de alguém que enfrentou um tumor. Ciclos de remédios, quimioterapia e radioterapia machucam muito mais do que o corpo. Também impactam a mente. Por isso, a importância de um acompanhamento psicológico.


Há ainda uma parcela da população que vira o nariz para esse suporte. Buscar ajuda do tipo não faz ninguém mais fraco, pelo contrário. Segurar essa barra não é mole. Mesmo quem se sente forte mentalmente precisa desse auxílio para tornar o caminho mais leve.


Giulianna Nardini e Marília Buccini são prova disso. “Foi algo fundamental. Não sei como seria se não tivesse essa ajuda. Enquanto você enfrenta o câncer, só pensa coisas negativas, como a própria morte”, observa Marília.


Já Giulianna teve suporte dentro e fora de casa. Mesmo com a mãe psicóloga, fez sessões de terapia. “Mesmo com o acompanhamento desde o começo, havia momentos em que achei que ia morrer. Nem tanto pelo câncer, mas pela medicação que precisava tomar. Acredito que um tratamento só é completo quando tem todos esses profissionais andando juntos: os que cuidam do corpo e da mente”.


A psicóloga Diana Vilas Boas atua há quatro anos no Instituto Quimioterapia e Beleza. E conta que justo no período mais difícil de suas vidas estas mulheres acabam se superando. “Isso é algo que me chama a atenção e encanta. A força dessas mulheres. Muitas chegam ao consultório duvidando se vão conseguir derrotar o câncer. Pouco tempo depois, elas se engrandecem e se surpreendem com a própria força de vontade”.


Diana explica que é normal se sentir perdido e desamparado após o diagnóstico de câncer. “Algumas pessoas não sabem nem para onde ir. Você ter alguém para te ajudar a pensar, até em coisas do dia a dia, é importante”. Segundo a psicóloga, não há uma fórmula a ser seguida, pois cada mulher carrega uma história única. “O mais importante é receber essa pessoa com carinho, atenção e amor”.


Autocuidado


Assim como o auxílio psicológico, cuidar de si mesma e se sentir bem é uma das chaves para superar essa fase com leveza. Para o Instituto Quimioterapia e Beleza, a autoestima elevada faz com que o tratamento seja ainda mais bem-sucedido. “É por isso que produzimos lenços e apostamos no autocuidado, com dicas para essas mulheres se maquiarem. Ainda fazemos ensaios fotográficos e temos parcerias com tatuadores (para quem perdeu a auréola da mama)”, diz Deborah Duarte.


A executiva afirma que hoje o instituto é o maior produtor de lenços do País, enviando os artigos para todos os estados. Ela revela ainda que a chegada da pandemia acelerou um movimento que já vinha se desenhando: o atendimento virtual. Para ajudar pessoas de todos cantos do Brasil, o instituto, que tem sua sede em São Paulo, aumentou o seu espaço nas redes sociais. Por meio de lives, quem mora longe da capital paulista pode ter todo suporte de quem frequenta a unidade. “Realizamos as oficinas de beleza e os atendimentos psicológicos. Tudo de forma remota”, ressalta Deborah.


Padrão cultural de feminilidade passado para diversas gerações, o cabelo acaba mexendo com a autoestima. A diretora reforça a importância do lenço na vida dessas mulheres. “Para muitas, o lenço é a redescoberta da vaidade”.


Reinserção profissional


Os impactos de um tratamento quimioterápico são agressivos. Muitas vezes, a pessoa mal consegue ficar de pé; quem dirá ir trabalhar. Por isso, o afastamento do ambiente profissional acaba sendo uma consequência na vida de qualquer paciente com câncer.


Marília Buccini precisou lutar para ter seus direitos garantidos. Durante o tratamento, ela havia passado no concurso público para o Ministério Público de São Paulo, mas aguardava a nomeação. “Quando fui convocada, notaram que eu estava com câncer e me consideraram inapta”. A situação só foi revertida após o auxílio do Instituto Quimioterapia e Beleza. Após divulgar o caso e ir à Justiça, o IQeB novamente contribuiu com a vitória de Marília. Hoje, além do seu cargo no Ministério Público, ela integra a equipe do instituto e formulou um Manual de Direito de Pacientes Oncológicos.


Assim como Marília, Giulianna contou com a ajuda da instituição para voltar ao mercado de trabalho. Além da página no Instagram, onde cria conteúdo para alertar mulheres jovens sobre a doença, foi indicada pelo IQeB para trabalhar em ilustrações para a campanha de uma marca de joias e acessórios.


“Jamais vou ser grata ao câncer, mas ele me trouxe uma nova visão”. A afirmação é de Giulianna, dada como desacreditada pela equipe médica quando ainda tinha 21 anos. Para ela, todo o tratamento fez com que pudesse ver a vida por outro prisma. “Hoje, encaro um problema do dia a dia de outra forma. Antes do câncer, estar atrasada um minuto para uma reunião era o fim do mundo. Levo a vida mais leve”.


Mais informações pelo site www.quimioterapiaebeleza.com.br.


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