O que faz um casamento feliz?

Não existe fórmula mágica, mas há alguns fatores que tornam a convivência mais prazerosa e fácil para os dois lados

Por: Willian Guerra  -  03/10/21  -  16:12
 Não existe fórmula mágica, mas há alguns fatores que tornam a convivência mais prazerosa e fácil para os dois lados, como cumplicidade, cuidado mútuo e maior autoconhecimento
Não existe fórmula mágica, mas há alguns fatores que tornam a convivência mais prazerosa e fácil para os dois lados, como cumplicidade, cuidado mútuo e maior autoconhecimento   Foto: Arte Lutti Afonso

A música Amor e Sexo, de Rita Lee, composta por ela, pelo marido, Roberto de Carvalho, e pelo jornalista Arnaldo Jabor, afirma que amor e sexo andam juntos em um relacionamento. Ainda na canção, Rita canta: “Amor sem sexo é amizade”. Mas será mesmo que os dois precisam andar juntos para que um casal seja feliz dentro de uma relação?


Os casais Samantha Ferraz e Murilo Lima e Fatima Ferreira e Luiz Maurício Silva pensam um pouco diferente. Para eles, o sexo é algo importante em um relacionamento, mas não fundamental. Juntos há 20 anos, Fatima, de 50, e Luiz Maurício, de 51, se conheceram no Carnaval de Salvador e muita coisa mudou desde então. Além do nascimento das três filhas, eles sentem que, hoje em dia, a parceria é a chave do sucesso afetivo.


Essa situação é semelhante à de Samantha, de 47 anos, e Murilo, de 52. Ambos estão no segundo casamento e têm filhos da relação anterior. Eles, que já eram amigos, se permitiram ter um olhar além da amizade. Para Samantha e Murilo, junto ao amor construído, o fato de já terem crianças foi importante para haver uma maior aproximação. “Quando você se separa, é bem difícil se relacionar com uma pessoa que não tem filhos. Há dias em que você precisa abrir mão de muita coisa e só quem é pai ou mãe entende essa rotina”, diz Samantha.


Para a psicóloga e terapeuta sexual Ana Canosa, todos os relacionamentos se baseiam em conveniência. Em recente artigo, ela aponta que filhos, bens, família, cumplicidade, tarefas, entre outras coisas estão dentro do grupo da conveniência.


A psicóloga, terapeuta sexual e colunista da AT Revista, Marcia Atik, concorda. De acordo com ela, uma união também se faz pela conveniência. “Conveniente é quando um casal tem um projeto em comum: construir uma família, por exemplo. Se os dois mantiverem o mesmo foco, isso segura qualquer dificuldade que exista na relação, no casamento”.


Construção permanente

A mudança interior é uma constante em todas as pessoas. Marcia Atik explica que, inclusive, é saudável alguém, hoje, não ser mais a mesma pessoa, por exemplo, de dez anos atrás. E esse tipo de transformação também tende a ocorrer nos casais. É uma ilusão acreditar que o parceiro será sempre igual ao longo da vida a dois. Mais radical ainda costuma ser a mudança no casal após o nascimento dos filhos.


Além de naturais, essas transformações são necessárias para que um relacionamento não caia na monotonia. “É difícil alguém ficar numa relação por uma simples acomodação. O ‘mercado’ está cheio de opções e atrações”, analisa a psicóloga e terapeuta sexual.


Por isso, é importante se atualizar para renovar com frequência a relação, o casamento. Assim como em uma troca magnética, onde um dá e o outro recebe energia e vice-versa, deve haver esse mesmo tipo de dinâmica em um casal.


“Nem sempre é preciso trocar as mesmas coisas, as mesmas experiências, mas isso deve enriquecer a vida do outro de alguma forma. Afinal, é uma parceria. É necessário existir uma equivalência”, afirma Marcia.


Cuidado ideal

O engessamento comportamental contribui para o fim das relações. Em 2020, com as famílias tendo que conviver mais tempo sob o mesmo teto por causa do isolamento social provocado pela pandemia, o País registrou recorde de divórcios. Foram mais de 76 mil separações registradas pelo Colégio Notarial do Brasil. E não deve parar por aí. De janeiro a maio deste ano, o índice já subiu 26,9% em comparação com o mesmo período de 2020.


O médico, psicólogo e facilitador em Constelações Sistêmicas Roberto Debski pede para que as pessoas, ao entrarem em um relacionamento, questionem “para que?” e não “por que?” estão iniciando aquela relação.


Para o profissional, quando nos perguntamos “para que?”, buscamos pontos em comum que possibilitam crescimento e a construção de uma família. “Essa é a função de uma parceria saudável. Ao analisar o ‘por que?’, buscamos mais que a outra pessoa cuide de nós ou nos dê amor e carinho. Dessa forma, já entramos diminuídos no relacionamento”.


É preciso, portanto, não confundir as sintonias. Debski esclarece que cuidar do outro é importante, sim, pois isso está atrelado ao amor. “E esse cuidado deve se dar de forma horizontal. Quando nós somos pequenos, os nossos pais cuidam da gente, mas esse zelo é vertical. Não existe uma troca. É apenas deles para os filhos. Em uma relação, o cuidado é fundamental, mas um precisa zelar pelo outro”.


Lado egoísta

Quando nos abrimos e decidimos entrar numa relação, alimentamos também o nosso lado egoísta. Por mais que sonhos e projetos em comum possam aparecer pelo meio do caminho, a escolha inicial é individual. Aí, com o relacionamento estabelecido, a reciprocidade deve se tornar o núcleo desse amor.


E quando não há essa troca? “Se eu quero o outro para ter um benefício próprio, trata-se de uma relação por conveniência. Isso não é saudável tanto para quem está usando quanto para quem está sendo usado”, diz o psicólogo e médico Roberto Debski.


Para o bem de todos

Conhecer a si mesmo e saber o que nos faz feliz é fundamental também para o bem-estar do casal. “Por isso eu digo que não há fórmula para se manter um casamento. Cada casal é um. Cabe aos dois descobrirem o que é importante para que aquele relacionamento dê certo”, observa Marcia Atik.


A psicóloga e terapeuta sexual ressalta ainda a importância das brigas e crises que surgem com o passar do tempo. Para ela, uma relação sem atritos se torna chata e não dá oportunidade para o crescimento do casal.


“É preciso enxergar essas brigas como uma boa possibilidade para que essas pessoas evoluam e melhorem os pontos que são divergentes”, comenta.


Marcia acrescenta que, nessa busca, muitos casais acabam se apaixonando pela rotina da vida a dois. “Aqui não entra sexo. Podem ser casais assexuados, mas que amam a companhia do outro. Essa pessoa pode ser o amor da sua vida, mesmo que aquilo não envolva sexo”.


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