Nova expedição da Família Schurmann terá parada em Santos

A família, que já deu três voltas ao mundo, pretende divulgar as consequências do descarte de plástico no mar

Por: Brenda Bento  -  06/06/21  -  10:46
  Foto: Divulgação

Na semana do Dia Mundial dos Oceanos, comemorado em 8 de junho, ninguém melhor do que a família Schurmann, de Santa Catarina, que já deu três voltas ao redor do mundo para falar do assunto. Comandada pelo casal Vilfredo e Heloísa Shurmann, que está há quase 40 anos se aventurando pelos oceanos do Brasil e do mundo, a família se prepara para a quarta expedição, prevista para agosto. Entre os objetivos estão a pesquisa científica e principalmente ajudar a difundir a importância da preservação da vida marinha, com a redução do descarte de resíduos, principalmente o plástico, que tem afetado os plânctons, fundamentais para a produção de oxigênio do planeta. Ativistas ambientais, consideram que o conhecimento in loco e o aprendizado adquirido junto às diferentes culturas, seja o melhor para que eles tenham uma formação sobre o oceano, não acadêmica, mas de experiência. Com o projeto Vozes do Oceano, que terá uma parada em Santos, entre o final de agosto e começo de setembro, a família Schurmann tem o objetivo de coletar dados e informações que possam ajudar pesquisadores do Brasil e do mundo, que queiram avançar nos estudos em relação aos mares e oceanos do planeta. Isso, além de lançar uma luz para o grave problema que o descarte de plástico causa aos oceanos.


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Qual objetivo da Voz dos Oceanos?


Vilfredo: Nós queremos, a Heloísa e eu, deixar um legado para se fazer algo pelos oceanos. Nós somos embaixadores da ONU Internacional e da Unesco também. Então, estamos fazendo um grande movimento, que é a Voz dos Oceanos. No nosso projeto, temos três pilares: o pilar de estar in loco, vendo o que está acontecendo nos oceanos, dar entrevistas e divulgar mundialmente. Possuímos banda larga dentro do barco, a partir de onde cientistas vão falar, pessoal local vai falar, não só das coisas ruins, mas também das soluções de cada lugar. Nós queremos mostrar de cada lugar o que tem sido feito e o que deve se fazer.


Como é viajar em família? Tem desvantagens e vantagens?


Vilfredo: Na primeira viagem tínhamos filhos com sete, 10 e 15 anos. Já tínhamos as crianças na época, imagina? Trinta e sete anos atrás as crianças estudaram por correspondência. Você vê agora com a pandemia muita gente em casa, como nós fizemos, esse jogo de cintura que nós tivemos que ter.


Heloísa: Viajar com toda a família durante a primeira viagem foi um grande aprendizado, de paciência, de administrar nosso espaço, de divisão de tarefas, responsabilidade e disciplina também. Então, foi assim uma experiência de vida de conviver com a família dentro de um espaço pequeno. Nós fomos porque nós quisemos. Foi uma experiência maravilhosa.


Qual o trajeto da quarta volta ao mundo?


Vilfredo: Vamos sair de Balneário Camboriú e iremos parar em Paranaguá, Santos, Ilhabela, Ubatuba, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Búzio, Vitória, Salvador, Recife, Fernando de Noronha e aí nós vamos para o exterior direto ao Caribe. Em Cuba vamos ficar umas três semanas, Miami vamos fazer um grande evento. Nova York, Ilha de Bermudas, Golfo do México e Cartagena na Colômbia. Estamos dependendo de Honduras ou Guatemala, mas lá tem um problema de político e assaltos, então não é muito seguro, então devemos ir para Cartagena na Colômbia, aí vamos atravessar o Canal do Panamá, Ilha do Coco na Costa Rica, onde tem muito tubarão-baleia, a fauna marítima é exuberante e vamos ver o que o plástico já está naquela área. Vamos para Galápagos, Ilha Dulcie, que é o ponto mais distante de toda a terra, está mais distante que a estação espacial, está no meio do oceano pacífico, nós já passamos por lá e quando chegamos nessa Ilha Dulcie você não imagina o quanto de plástico tinha nessa ilha. Aí depois para a Polinésia Francesa, aí começa a época dos ciclones, vamos para várias ilhas do Pacífico Norte onde realmente essas ilhas pequenas estão sendo afetadas pelo plástico. Antes de retornar para o Brasil, o barco vai para Nova Zelândia. E depois vamos continuar a viagem, mas aí para outra finalidade.


Qual a produção de plástico no Brasil?


Vilfredo: Para você ter uma ideia, hoje nós produzimos de plástico no Brasil 110 milhões de toneladas. Nós estamos atrás dos Estados Unidos, China e da Índia. Nós reciclamos somente 6%. Os EUA reciclam 30%, a China 32% e a Europa mais de 50%, então a nossa batalha nessa costa brasileira é conscientizar isso, que precisamos fazer alguma coisa, precisamos reciclar. Uma garrafa pet pode ser reciclada 17 vezes e nós não reciclamos uma. Então é essa conscientização que nós queremos. A Voz dos Oceanos é uma grande onda que estamos levando para o Brasil e para o mundo.


Vocês acreditam que vão enfrentar desafios diferentes dos que já enfrentaram por causa da pandemia?


Heloísa: Vai mudar bastante porque, por exemplo, nós não podemos fazer aglomerações. A pandemia não nos limita, mas ao mesmo tempo nos faz ser mais criativos e pensar em outras maneiras de se comunicar e agir.


Vilfredo: A ideia que estamos levando a cada município, como aí para Santos, nós não poderemos fazer todas essas ações em plena pandemia, mas no ano que vem no verão serão feitas essas ações nas praias e nós vamos divulgar via satélite. Vai ter um telão nas praias, estamos fazendo isso para o próximo ano, mesmo que a gente esteja longe, o pessoal vai fazer perguntas e respostas e nós vamos responder. Mas vamos fazer essa ação sim, mas vai ser ano que vem quando todo mundo estiver vacinado. A pandemia, claro, nos limitou um pouco.


O que a tecnologia beneficiou para vocês ao longo das expedições?


Heloísa: O que eu posso dizer é que a tecnologia beneficiou de uma certa maneira na meteorologia. Nós podemos ter uma previsão do tempo por um período maior. Beneficiou na comunicação, por exemplo, nessa última viagem eu ligava para o meu neto. A comunicação melhorou infinitamente, a tecnologia nos ajudou muito. Foi uma mudança muito grande.


Vilfredo: Nós gostamos muito de desafios, a cada viagem a gente tenta inovar. Nós fomos os primeiros a transmitir via satélite no Brasil, lá da Patagônia, só que a velocidade era tão baixa que não podíamos nos mexer. O Bial estava no Fantástico na época. Foi um negócio espetacular. Hoje temos mais velocidade e qualidade melhor.


Como estão os oceanos ao redor do mundo?


Heloísa: Eu vejo uma degradação muito grande, uma falta de respeito do ser humano. É isso que eu vejo, um desamor. E justamente com a Voz dos Oceanos nós queremos que as pessoas se conscientizem. Nós temos mais ou menos seis anos para restaurar nossos oceanos, então ele está realmente muito doente, mas cabe a nós mudarmos nossa atitude no dia a dia.


Vilfredo: Se fala muito da Floresta Amazônica, que eu acho que é importante, mas o mundo inteiro está falando da Floresta Amazônica, mas ela nos dá 13% de oxigênio. Todas as florestas tropicais do mundo fornecem 34%. Os oceanos nos dão — pela fotossíntese, captando gás carbono e emitindo oxigênio — 54%. Na sexta-feira, estávamos em Biguaçu com nosso barco fazendo uma série de inovações e manutenção e nós presenciamos as cheias no rio e você não imagina o quanto de plástico vimos indo para o mar por esse rio, que é pequeno. Imagina na costa brasileira toda? Na costa brasileira toda de 70 a 80% do lixo que está no mar vem da terra e dos rios. A USP, desde 2012, está fazendo um levantamento que 95% do lixo nas praias brasileiras é plástico. O microplástico e o nanoplástico já estão afetando os plânctons porque ele impede de se fazer a fotossíntese. Então, com isso, é menos oxigênio que se está produzindo e não é só isso, os plânctons são também alimento para os peixes, que por sua vez estão sendo contaminados. Nós estamos consumindo pescados e estamos sendo contaminados também.


Quantas pessoas viajam com vocês? São só pessoas da família?


Heloísa: No momento as nossas expedições são para oito pessoas, quatro da família e as outras quatro que foram contratadas.


Qual a viagem mais marcante?


Vilfredo: Que pergunta difícil. Cada lugar é um lugar muito especial que nós tivemos. Não sei, olha, tem tantos lugares marcantes, como o Chile, a Patagônia, Nova Zelândia, Polinésia Francesa. É muito difícil um lugar ou outro. Tem um lado humano que é muito legal e que a gente sentiu na Polinésia Francesa, onde as pessoas te tratam como se você fosse irmão. Na Nova Zelândia a mesma coisa. As crianças aprendem na escola que turista é um amigo. Esse lado humano é muito forte em vários países.


Heloísa: Eu posso dizer que a Antártica me impressionou muito. É um lugar que para mim nem estava na lista de lugares que quero conhecer porque não gosto de frio, mas muito lindo e desafiador. O casal já teve cinco veleiros, hoje tem dois: Kat, que será usada na próxima expedição e o Aysso, que já fez duas voltas ao mundo.


Qual a mudança deles?


Vilfredo: Nós queríamos fazer um veleiro novo com tecnologia, principalmente, de transmissão via satélite para receber mais pessoas e tendo uma equipe de filmagem no nosso outro barco não teríamos condições de fazer isso.


Existe alguma preparação antes da viagem?


Vilfredo: A Heloisa fez curso de primeiros-socorros e eu fiz curso de primeiros-socorros para dentistas, então nós temos uma farmácia completa dentro do barco. A rotina é clara, o barco não para no meio da noite, é 24h direto. Fazemos turno de 4h em 4h com a equipe.


Heloísa: A questão de alimentos é feita uma distribuição muito criteriosa. A gente sempre compra para mais tempo, vai que acontece alguma coisa e a gente tem que ficar mais tempo. Agora nós temos geladeira e um freezer de bom tamanho. Temos lugar para colocar as frutas. É um planejamento bem minucioso.


Estão ansiosos com a próxima expedição?


Vilfredo: Ansiosos a gente sempre fica. É muita coisa, vamos ficar dois anos fora, então a gente tem que se preparar para isso, principalmente, o barco tem que ficar em condições plenas. Temos dois motores, se falha um tem outro. Temos dois geradores, se falha um tem outro. Agora temos três pilotos automáticos. É muito importante em uma expedição como essa. Eu fico muito contente, essa energia das pessoas trabalhando conosco para o bem do projeto.


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