Mulheres que enfrentam câncer podem optar por preservar a fertilidade

Nova técnica pode ser a solução para aquelas que precisam adiar o sonho da maternidade

Por: AT Revista  -  29/10/18  -  20:03
  Foto: Adobe Stock

Uma técnica relativamente nova tem sido a possível solução para mulheres que alimentam o sonho da maternidade mas são acometidas por algum tipo de câncer antes mesmo de engravidar.


O congelamento de óvulos ou do tecido ovariano é um método utilizado há menos de 10 anos no mundo, capaz de preservar a fertilidade da mulher após tratamento com quimio ou radioterapia, que afetam diretamente a saúde de parte do sistema reprodutor.


Segundo o ginecologista e especialista em Reprodução Humana Condesmar Marcondes de Oliveira Filho, esses tratamentos podem prejudicar o funcionamento pleno do ovário. “Já estamos usando esta técnica para casos de câncer, antes que a mulher inicie o tratamento”, afirma o médico, diretor do Núcleo Santista de Reprodução Humana.


A vitrificação, como é chamada a técnica de congelamento, pode ser realizada com os óvulos ou até mesmo com o ovário. O primeiro caso, conforme Condesmar, é recomendável para qualquer circunstância na qual a mulher deseja manter a idade dos óvulos intacta por alguns anos, até que esteja pronta para engravidar.


“É o caso da paciente que está se dedicando à sua formação, ou à carreira, e só vai querer engravidar após os 40 anos. A partir de uma certa idade, a fertilidade começa a cair. Mas tirando óvulos dela e mantendo-os congelados, eles permanecem com a idade que tinham antes da vitrificação”, explica o ginecologista.


Diretor do Fertility Medical Group, em São Paulo, o especialista em Reprodução Humana Assumpto Iaconelli Jr. ressalta que a taxa mensal de fecundidade em mulheres entre 20 e 30 anos é de cerca de 25%, enquanto depois dos 35 anos, cai para menos de 10%. Após os 40, as chances de engravidar diminuem ainda mais.


Segundo Iaconelli Júnior, um óvulo pode ficar congelado por tempo indefinido pois é mantido em nitrogênio líquido a 196 graus Celsius. "Tudo nesta temperatura permanece imutável ao longo do tempo". A procura em sua clínica triplicou nos últimos três anos.


A vitrificação se aplica também para a doação de óvulos, cujas estatísticas dos procedimentos realizados, conforme o médico, apontam o êxito em metade das tentativas de fecundação a partir de material mantido sob congelamento.


O especialista Condesmar Marcondes de Oliveira Filho confirma taxa de sucesso de 50% nos procedimentos de utilização de óvulos que foram congelados.


Tecido ovariano


O congelamento de óvulos também pode ser a solução para mulheres vítimas de neoplasia e que passam por tratamentos menos agressivos. Já a técnica de vitrificação do tecido ovariano ainda é considerada experimental e é recomendada exclusivamente a pacientes acometidas por câncer e submetidas a procedimentos mais severos, pois podem ocasionar a infertilidade.


“É questionável tirar um pedaço da mulher que está saudável e não precisaria deste procedimento”, ressalta Condesmar. Em sua clínica, em Santos, uma das referências na especialidade no Brasil, já existem casos como este. A extração deve ser realizada antes do tratamento e a devolução do tecido para o organismo, por cirurgia com videolaparoscopia, é realizada após três a seis meses do fim do tratamento.


O procedimento, entretanto, não garante êxito. “Normalmente o ovário volta a funcionar, mas o corpo pode rejeitar. E o ovário pode perder vascularização e não funcionar”. As possibilidades de dar certo são de 20%.


Há outro procedimento, entretanto, que pode representar uma tentativa, a pacientes restabelecidas após o câncer, de realizar o sonho da maternidade: o transplante de ovário. A taxa de sucesso também está em 20%, mas deve crescer na medida em que as pesquisas avançam.


Até outubro de 2017, cerca de 60 crianças nasceram graças a esse método de preservação da fertilidade. A técnica passou a ser utilizada em 2004 nos Estados Unidos. No Brasil, é realizada por membros do Instituto Brasileiro de Reproduçao Humana Assistida.


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