Especialistas orientam como fazer transição de carreira; confira dicas

Quantidade de profissionais que trocam de área, em busca de mais oportunidade, tem crescido ainda mais com a pandemia

Por: Willian Guerra  -  11/07/21  -  07:51
  Nova visão de carreira
Nova visão de carreira   Foto: Adobe Stock

Com que idade você começou a trabalhar e qual profissão exercia naquela ocasião? Se você não atua mais na área em que iniciou a sua trajetória profissional, saiba que essa é uma realidade que se torna cada vez mais comum no mercado. A antecipação da saída do apresentador Fausto Silva da Rede Globo, após trabalhar 32 anos na emissora, estimula novo debate nas redes sociais: até que ponto as empresas valorizam funcionários dedicados que integram por longos períodos a sua equipe?


Quem tem mais de 50 anos de idade, em algum momento da vida, certamente procurou um emprego para permanecer até o momento da aposentadoria. Essa atitude era normal e esperada até a chegada dos millennials ao mercado de trabalho. Nascidos entre 1981 e 1997, eles foram influenciados pela dinâmica da internet e disseminaram uma forma diferente de encarar a carreira profissional.


“Essa é uma geração imediatista, que busca de maneira rápida o reconhecimento profissional e um bom salário. Caso isso não ocorra, o millennial não vê problema em procurar uma outra empresa ou profissão”, analisa o especialista em carreiras, educação e CEO da Uniway School, Fabrício Vargas.


Essa inquietação ficou evidente também em uma pesquisa do Atlas das Juventudes, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). O estudo, divulgado no fim de junho, apontou que o Brasil tem cerca de 50 milhões de jovens com idade entre 15 e 29 anos. Sem a perspectiva de uma rápida melhora da economia, aproximadamente 25 milhões de pessoas dessa faixa etária planejam deixar o País para começar uma vida do zero no exterior.


Para Fabrício Vargas, a pandemia de covid-19 também afetou o modo como o profissional jovem encara o mercado de trabalho. O especialista em carreiras conta que muitos acabaram perdendo o emprego e descobriram outras aptidões.


“O trabalhador que foi desligado teve que se reinventar e dar mais espaço para habilidades secundárias. Nós conhecemos muitas pessoas que viviam em escritórios e, hoje, cozinham e vendem salgados e doces. Além de conseguir uma renda, elas se mostram mais felizes agora do que quando estavam no escritório”.


Vargas acredita ainda que a felicidade profissional é um valor cultivado pelos millennials. “Os pais desses jovens só se importavam com a estabilidade e com a remuneração. Já os millennials precisam estar felizes e satisfeitos com a política da empresa”.


Antes tarde do que nunca


Se encontrar profissionalmente não é uma tarefa fácil. Um profissional infeliz na carreira pode se deprimir ainda mais quando ouve frases como trabalhe com o que você gosta. Afinal, nem sempre é possível alcançar nossos sonhos e vontades quando queremos, mas dá para nos planejarmos para realizá-los.


Para isso é necessário ter foco e sabedoria. “Esse é um processo cauteloso. Primeiro, a pessoa deve praticar o autoconhecimento para entender o porquê da mudança. O que vai te motivar a fazer aquilo todos os dias? A partir daí, é necessário estudar e se preparar financeiramente para o início na outra atividade”, explica a consultora de recursos humanos na Complement Consultoria & Marketing, Thâmara Nascimento.


A mesma pesquisa do Atlas das Juventudes em parceria com a FGV indicou que 27% dos jovens de 15 a 29 anos fazem parte da geração nem-nem: nem estudam, nem trabalham. E para eles, fica ainda mais difícil ter um norte na vida profissional. “Isso já está internalizado neles de alguma forma, mas se o indivíduo não consegue enxergar essa vontade, sugiro um mapeamento das oportunidades existentes no mercado para ver com qual área terá uma maior afinidade”, recomenda Thâmara.


Para Fabrício Vargas e Thâmara Nascimento, a variação de setor é bem-vinda não apenas para quem está insatisfeito com a carreira. Os especialistas dizem que isso costuma ser possível e saudável para a pessoa “se aposentar” de uma profissão, começar uma outra e conseguir ser bem-sucedida. “Assim como na vida pessoal, estamos sujeitos a mudar de gostos e opiniões na vida profissional.


Portanto, essa mudança é natural. Mas devemos estar capacitados e adaptados para a transformação ser positiva”, aponta Vargas.


Faculdade como ponto de partida


A popularização do Ensino Superior é um fenômeno recente. Os programas para acesso às universidades, criados nos anos 2000, permitiram que mais e mais pessoas entrassem na faculdade. E em muitas dessas famílias, esse estudante se tornou o primeiro a obter um diploma universitário. Diploma esse que, há décadas, era visto como ponto final da capacitação profissional.


“Hoje, o que vemos é algo completamente diferente. É preciso estar em constante atualização. O diploma da faculdade é apenas o início da jornada. A partir daí, esse profissional vai buscando especializações. Esse estudo constante é obrigatório até por conta da grande exigência das empresas”, ressalta Thâmara.


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A ajuda de casa


Ter uma vida confortável é um sonho recorrente. Ou seja, não sobrar mês no fim do salário, poder programar viagens com a família e identificar o melhor estudo para os filhos... Essas são coisas que estão nos planejamentos de muitos casais. Só que, com uma vida blindada e sem a pressão para ter uma renda, esses jovens podem cair na armadilha da acomodação.


Devido ao conforto da bolha criada pela família, eles, que poderiam se dedicar a iniciar uma atividade com tranquilidade, optam por tirar um ano sabático ou postergar essas oportunidades.


“É verdade que o mercado está restrito, mas há jovens que se aproveitam dessa situação cômoda para não fazer absolutamente nada”, afirma a consultora de RH Thâmara Nascimento.


Fabrício Vargas recomenda que todos os jovens sejam iniciados no trabalho de alguma forma. “Sou a favor disso, até para que essa pessoa dê valor ao dinheiro que está conquistando”. Dessa forma, os especialistas atribuem também aos pais essa inércia geracional. “Muitas habilidades surgem ainda quando se está na infância ou na fase da adolescência. Se os pais acompanharem o desenvolvimento dos filhos, poderão ajudá-los, orientando sobre a área de maior afinidade”, arremata o especialista.


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