A discussão não é de hoje: o crescente acesso infantil às tecnologias de comunicação (como smartphones, tablets, computadores etc.) é garantia de diversão? “Aí é que nos enganamos”, avisa Rafael Godoy, psicólogo clínico com aprimoramento em Estresse Pós-Traumático e cursando especialização em Psicologia Junguiana. Segundo o psicólogo, esse recurso, amplamente distribuído e banalizado, sem controle prévio dos pais e nem restrição de conteúdo, pode se tornar prejudicial e acarretar problemas – sejam físicos, como de postura, vista e audição; sejam emocionais, como depressão e ansiedade.
No Instagram, as celebridades, aspirantes a famosos e pessoas comuns estão lado a lado compartilhando uma vida cheia de fantasias e direcionada por patrocinadores, gerando influência positiva ou negativa. Tal problema equivale, na opinião de Rafael, às antigas propagandas de cigarros e bebidas, que mostravam uma alegria sem-fim, corpos esculturais, felicidade estampada no rosto, viagens e locais paradisíacos. “Com o passar dos anos, foi caindo a ficha do mal que aquilo fazia por influenciar as pessoas a se viciarem”.
Fabiany Lima é mãe das gêmeas Lara e Laís, de 9 anos, e CEO e fundadora do Timokids, aplicativo para smartphones e tablets que leva conteúdos infantis socioeducativos, ilustrados em 3D, narrados e legendados em diversos idiomas. Para essa amante da tecnologia, supervisionar o que os filhos acessam no universo on-line é o primeiro passo. “Existem perigos na rede. Então, os pais precisam saber o que seus amores veem, quem escolhem como amigos ou seguem. É uma questão de segurança”. Sua larga experiência a faz pensar que a ostentação da vida perfeita é um problema tanto para quem expõe esse tipo de conteúdo quanto para quem vê. Coloca em xeque valores morais e questões psicológicas, e pode, sim, trazer consequências negativas à criança.
Quando os pais ostentam
Os pais devem ficar atentos para que eles próprios, sem perceber, não cultivem essa ostentação da vida perfeita em suas redes sociais. “É importante se perguntar qual a motivação para postar aquela foto: compartilhar um momento de alegria, algo interessante que aconteceu ou viu? Ou exibir-se e ganhar likes?”, provoca Fabiany. Blogueiros e celebridades fazem isso por profissão. Há motivação, na maioria das vezes financeiras, por trás de cada foto; e isso precisa estar claro para não criar uma expectativa inatingível e um mundo paralelo. “Fazendo uma analogia, tentar imitá-los é como escolher um personagem de novela e achar que é a vida real. Se perceber que deixou de ser saudável (para você ou seu filho), procure ajuda e se desconecte”, afirma a empreendedora.
É rebeldia? Tédio? Irritação com o calor?
As consequências nas crianças e adolescentes – que ainda não têm entendimento e autonomia suficientes para utilizar as redes sociais sem filtro – são silenciosas, “mas de amplo alcance e difícil percepção à primeira vista, pois estamos falando de mudanças emocionais e de comportamento, que por vezes se confundem com crises de rebeldias da idade e um certo mal-estar devido ao calor, ou até um marasmo por falta de rotina”, analisa Rafael Godoy, acrescentando que toda atenção é pouca para identificar mudanças drásticas de hábitos e atitudes.
Descanso aos celulares e tablets
É curioso saber que experts internacionais da tecnologia, como Chris Anderson (CEO de uma empresa de robótica e drones nos Estados Unidos) e Kristin Stecher (especialista em computação social casada com um engenheiro do Facebook), estão afastando seus filhos de tablets e celulares ao máximo. Kristin permite, por exemplo, durante uma longa viagem de carro ou de avião. Sextas à noite, a família vê um filme e comenta.
Reveja hábitos
Rafael preparou esta pequena lista de sugestões para um final de verão em família inesquecível:
O conteúdo completo você confere na edição do dia 3 de fevereiro de 2019 da AT Revista.