Escolas e universidades começam a ampliar o ensino presencial em agosto

Novo momento será marcado por adaptações nas salas e manutenção de cuidados sanitários

Por: Stevens Standke  -  25/07/21  -  10:06
 As novas regras sanitárias autorizam o retorno de 100% dos alunos, desde que seja mantida a distância de um metro
As novas regras sanitárias autorizam o retorno de 100% dos alunos, desde que seja mantida a distância de um metro   Foto: Adobestock

Com o avanço da cobertura vacinal entre educadores e idosos, alunos das escolas e universidades da Baixada Santista voltarão em maior número às aulas presenciais neste segundo semestre. Em algumas redes municipais, como as de Santos e Guarujá, esse retorno já começou. No ensino estadual e em instituições particulares, a rotina em sala de aula reinicia com adaptações e cuidados no mês de agosto.


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As novas regras sanitárias autorizam o retorno de 100% dos alunos, desde que seja mantida a distância de um metro entre as carteiras nas salas de aula e em outros ambientes escolares. Anteriormente, o distanciamento mínimo era de um metro e meio. Entre educadores, estudantes e pais, a sensação geral é de que a segunda metade do ano letivo será marcada por ensinamentos profundos gerados pela pandemia e por grandes desafios nos aspectos pedagógico e organizacional.


Ensino remoto


A dificuldade das crianças e dos adolescentes longe dos meios convencionais de transmissão de conhecimento ficou evidente em pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). Desde o início da pandemia, 67% dos alunos entrevistados não conseguem estabelecer uma rotina adequada e diária de estudos.


O levantamento foi feito entre agosto e setembro de 2020, com 5.580 estudantes, pais ou responsáveis, professores e diretores de instituições de ensino públicas e privadas do País. A pesquisa mostra ainda que 72,6% dos alunos classificam o ensino remoto como pior na comparação com as aulas presenciais.


A opinião é a mesma para 51,5% dos pais e responsáveis. Também de acordo com o levantamento, 82,6% dos estudantes afirmaram que a falta do contato presencial com os amigos afeta a absorção de conhecimento.


Para educadores, compensar a defasagem de aprendizagem inerente ao ensino remoto e, ao mesmo tempo, potencializar a rica compreensão das novas ferramentas de educação exigidas na pandemia são as principais tarefas em 2021.


Na opinião de Maria Cleonice Cafaly, diretora do Colégio São José, em Santos, não basta contabilizar os deficits no conteúdo curricular. É essencial aplicar estratégias pedagógicas que ajudem a amenizar as marcas deixadas no desenvolvimento socioemocional dos alunos pelo isolamento social e pelo distanciamento escolar.


Maria Cleonice acrescenta que, em paralelo, a equipe de docentes deve se empenhar para aproveitar o saldo positivo das novas experiências educacionais iniciadas nos últimos meses.


Esse trabalho começou no São José nas férias de janeiro, com um projeto de apoio pedagógico, no qual os alunos tiveram a opção de ir à escola duas vezes por semana. “Vimos como é grande a alegria na interação com os colegas, mesmo que a distância. Em julho, fizemos nosso curso de férias também com adaptações. Percebemos o avanço na autonomia, proveniente do ensino a distância”, conta a diretora.


No São José, o calendário escolar será retomado no dia 4, levando em consideração enquete direcionada aos responsáveis. O resultado mostrou serem poucos os alunos cujos pais ainda preferem que as aulas on-line continuem. Só que, como o Governo manteve essa permissão, os colégios devem estar preparados para manter o ensino híbrido. “Nas aulas presenciais, haverá os protocolos de segurança, que já fazem parte do dia a dia.


Com um número maior de alunos, vamos ocupar outros espaços para respeitarmos o distanciamento. A pandemia não acabou!”, pontua Maria Cleonice Cafaly.


Buscando alternativas


No Jean Piaget, o retorno ocorrerá no dia 2. Marlene Vieira, doutora em Saúde Coletiva e integrante do grupo de trabalho multidisciplinar responsável pelos protocolos sanitários do colégio, enfatiza que a retomada após as férias de meio de ano será diferente do que aconteceu no início de 2021. “Com o avanço da vacinação e a maior conscientização sobre a necessidade de manter as escolas abertas, iniciaremos com novas regras. Agora, não haverá mais a obrigatoriedade de rodízio de alunos, em contrapartida as escolas terão de respeitar o distanciamento de um metro entre os estudantes, assim como planejar as rotinas escolares evitando aglomerações”.


De acordo com o coordenador pedagógico da unidade de Ensino Médio, Bruno Joaquim, o Jean Piaget elaborou protocolo de biossegurança com base no que foi estabelecido pelos órgãos oficiais. Os principais cuidados estão relacionados ao distanciamento social, à higiene pessoal, à limpeza e higienização dos ambientes, ao monitoramento das condições de saúde das turmas e à comunicação.


Também ocorrerá uma maior valorização das atividades em ambientes abertos, no interior da escola, e de atividades externas de estudo do meio, ressalta Alexandre Thomaz Vieira, diretor e mantenedor do Jean Piaget. “Inclusive, investimos numa nova ferramenta pedagógica e de aprendizagem vivencial, que é o JP Explorer Bus, um ônibus com computadores individuais, wi-fi, lousa, mesas e cadeiras, tenda, TV, sistema de som, ar condicionado com filtro de proteção UV (sistema de eliminação de microrganismos), microscópios, entre outros itens, que visam agilizar e aprofundaras aulas e as atividades externas de estudo do meio”, explica Alexandre Thomaz Vieira.


Com direito a guia


A primeira segunda-feira de agosto também vai marcar a retomada das aulas no Colégio Objetivo. O que definirá o percentual de alunos nas dependências da escola será a capacidade das classes de manter o distanciamento exigido. Além disso, os pais também responderam a pesquisa sobre a intenção de retorno presencial. “A volta ainda não é obrigatória, mas os responsáveis que optam por não mandar os seus filhos devem assinar termo de responsabilidade para manter a frequência digital”, explica Cláudia Cafarella, diretora pedagógica da Educação Infantil e Ensino Fundamental I da instituição.


A escola preparou guia para as famílias com diversas orientações, incluindo questões mais práticas, como horários escalonados de entrada, de intervalo e de saída. “Contamos com mais de um portão nas unidades para auxiliar na separação das turmas e evitar aglomerações”, acrescenta.


Maria Dolores Alvarez, diretora pedagógica do Ensino Fundamental II na mesma instituição, ressalta como ponto positivo do último período a ênfase no papel da escola como “uma microssociedade, que prepara o educando para o mundo. As frustrações, os afetos, as amizades, o convívio social com o diferente são essenciais para uma vida saudável. Tudo isso gera um cabedal de vivências na formação do indivíduo, fator preponderante para futuras escolhas profissionais e pessoais. Retomaremos esse ambiente com toda a segurança necessária”.


Preparação intensa


Outro colégio que reinicia atividades no dia 2 com todas as turmas é o Vertex. Segundo a diretora, Elvira Panozzo, do 1º ano do Fundamental ao Ensino Médio, pode haver a necessidade de revezamentos. “As nossas salas são amplas e, em muitas delas, todos poderão ser acolhidos, sempre respeitando os protocolos sanitários”, diz.


Os pormenores serão informados aos responsáveis por meio de lives. A escola priorizou a preparação dos professores para garantir o melhor acolhimento possível aos alunos, em especial aqueles que estão todo esse tempo longe. “Temos crianças há um ano e meio distantes do ambiente escolar. Essa volta precisa ser muito bem trabalhada”.


Para isso, os docentes voltarão para a escola antes dos pequenos e passarão por reuniões, palestras motivacionais e com profissionais da área de psicologia. “A readaptação para esse momento de encontro será importante para ambas as partes. Teremos um olhar aberto, respeitando especificidades de cada aluno e trabalhando de acordo com as faixas etárias”.


Sem deixar de fazer o bem


Na Escola Americana, funcionários munidos de termômetros e álcool em gel estarão a postos desde o primeiro dia útil do próximo mês. O arsenal de segurança ainda inclui tapetes sanitizantes, uso obrigatório de máscaras e face shield e distanciamento entre as mesas e cadeiras.


A diretora, Maria Paula Bocchi Fomm, conta que o planejamento foi feito com base em um formulário enviado aos pais para medir o percentual de presenças nas classes e nos períodos. “Os responsáveis receberão um comunicado explicativo de como será o retorno de cada segmento. Teremos que respeitar as famílias que optarem pelo ensino on-line, dando a elas todo o respaldo”.


Para Maria Paula, o ensino híbrido ainda traz muitos desafios e um dos maiores é garantir o mesmo nível de respaldo, motivação e acolhimento tanto nas aulas presenciais quanto nas remotas. No balanço de aprendizados,


o saldo é mais do que positivo. “A pandemia fez com que nós desenvolvêssemos projetos voltados para famílias mais necessitadas. Nessas ações, nossos alunos e suas famílias colaboraram doando alimentos e agasalhos que ajudaram muitas pessoas”.


O último projeto, realizado no final de junho, foi o Drive Thru Solidário da Festa Country. A iniciativa ajudou os comerciantes da comunidade escolar com a venda de alimentos. “Em 2022, continuaremos com projetos que auxiliem o próximo, mostrando uma escola humanizada e acolhedora”.


Sinalização, escuta ativa...


No Colégio Kennedy & Walt Disney, a retomada no dia 2 será com 100% dos alunos, sem escalonamento. Paula Elias, coordenadora geral da instituição, enfatiza que todas as legislações vigentes e os protocolos sanitários serão seguidos, inclusive com revezamento entre os horários de entrada, saída e intervalos das atividades presenciais.


A escola estará toda sinalizada e equipada com materiais sanitários, conforme documento orientador próprio detalhando todas as medidas a serem adotadas pela comunidade escolar no dia a dia. “Além disso, encaramos como elementos essenciais para enfrentarmos esse momento o acolhimento, o cuidado, a escuta ativa e o aprendizado personalizado”, pontua.


Nas Universidades


No Ensino Superior, a tônica do segundo semestre também será a dobradinha entre cuidados sanitários e medidas compensatórias para garantir o avanço dos estudantes no aprendizado dos conteúdos. Porém, a abordagem mudará, em razão das peculiaridades inerentes a esse público.


A Strong Business School/ FGV, por exemplo, trabalha com várias faixas etárias de adultos em razão dos cursos de especialização, MBA, graduação e pós. As noções sanitárias estão bem introjetadas nesse segmento e há ainda a expectativa de que 30% dos estudantes optem por continuar os seus cursos de forma on-line nesse início de semestre (a partir do dia 2).


O coordenador da universidade em Santos, Rogério Salles, diz que o ensino híbrido veio para ficar. Por isso, a Strong investiu em salas com câmeras e captação de áudio que registram não apenas o professor em ação como também a interação entre alunos e docentes. “O objetivo é que o estudante que está acompanhando em tempo real em casa não perca nenhum lance da aula. É uma dinâmica nova de ensino, adotada no mundo todo”.


Margem de segurança


A Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) retoma o calendário letivo no próximo dia 9, trabalhando inicialmente de forma escalonada. Cursos da área da Saúde terão 50% de estudantes em classes e laboratórios. Nas demais áreas, o percentual será de 30% .


Conforme a pró-reitora acadêmica, Elaine Marcilio, além de serem submetidos à medição de temperatura e a outras medidas sanitárias, os alunos responderão a um questionário pelo aplicativo da universidade informando sobre eventuais sintomas que possam ter durante a semana. “A nossa margem de segurança vai ser maior. Garantiremos o distanciamento e salas com menor número de alunos do que o determinado pelo Governo. A entrada também vai ser escalonada”, diz Elaine.


Entre os pontos positivos dessa experiência, ela ressalta o aumento no ritmo de desenvolvimento de novas tecnologias de informação. “Diversas alternativas serão trabalhadas no segundo semestre. Temos alguns dispositivos de checagem das habilidades e competências e poderemos verificar se alguma fragilidade ficou com esse ensino remoto”.


A pró-reitora da Unaerp Guarujá, Priscilla Bonini Ribeiro, tem a mesma opinião. “Utilizamos vários mecanismos de acompanhamento, primando pela excelência no processo de ensino-aprendizagem”. Por lá, o calendário e o percentual de matriculados em aulas presenciais variam de acordo com o curso. A área da Saúde voltará com o modelo 100% presencial – veteranos de Medicina retornarão amanhã.


Nos demais cursos, a retomada se dará no dia 2, de forma híbrida, respeitando o decreto e os protocolos estabelecidos pelas autoridades governamentais e sanitárias. Já o semestre aos ingressantes de todos os cursos iniciará em 16 de agosto. “Para a volta das atividades presenciais, seguimos, desde o ano passado, as orientações estabelecidas no Plano de Retomada às Atividades Presenciais no Contexto da Covid-19.


O documento foi elaborado por uma comissão própria de especialistas – com base em regulamentações internacionais e nacionais, constantemente em atualização. Ele orienta o distanciamento e as condutas de segurança para alunos, professores e colaboradores, atendendo as recomendações governamentais e sanitárias”, finaliza a pró-reitora.


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