Dr. Bactéria aponta mitos e erros comuns de limpeza durante a pandemia

O biomédico Roberto Figueiredo ensina ainda uma fórmula infalível para higienizar a casa e o carro

Por: Stevens Standke  -  20/06/21  -  10:38
Atualizado em 20/06/21 - 11:30
 Biomédico Roberto Figueiredo ensina fórmulas para higienizar a casa e o carro
Biomédico Roberto Figueiredo ensina fórmulas para higienizar a casa e o carro   Foto: Divulgação

Com a participação no Fantástico, o biomédico Roberto Figueiredo se tornou conhecido do grande público, como o Dr. Bactéria. E a pandemia de covid-19 alavancou ainda mais o interesse por seu trabalho e por suas orientações. Para se ter ideia, no início da crise sanitária, o especialista tinha cerca de 200 mil seguidores no Instagram e, hoje, está com 627 mil. Sem falar que, em 2020, fez 684 lives – às vezes, sete ou oito por dia. Na entrevista, o Dr. Bactéria, que tem cinco livros publicados e posta dois vídeos por semana no seu canal do YouTube, dá toques para não errarmos na limpeza do lar e na nossa proteção diária contra o coronavírus. Ainda ensina fórmula que pode ser utilizada no carro e na casa inteira e lista cuidados indispensáveis para o inverno.


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Qual é a avaliação que faz dos cuidados de higienização das pessoas na pandemia?


Foi igual a ir ao dentista: saímos do consultório, vamos comprar fio dental, enxaguante etc., fazemos tudo que foi orientado várias vezes ao dia na primeira semana. Aí, na segunda semana, diminuímos a frequência dos cuidados e, depois, vamos deixando de praticá-los. Com o início da pandemia, houve um pavor enorme. Teve gente que fazia muito mais coisas do que o necessário. Por exemplo: ficar horas lavando as caixas de alimento do supermercado, deixar as sacolas das compras de castigo por dias, tirar a roupa na porta de casa. Só que, com o passar do tempo, muitas pessoas bobearam demais nas medidas de prevenção.


O que acredita que deve acontecer daqui para frente?


Os hábitos de higiene estão na moda. A tendência será a população se comportar de um jeito nem 8, nem 80. Alguns cuidados devem permanecer, como usar máscara quando estiver gripado. Isso não necessariamente será uma decisão da pessoa, mas uma exigência, já que há empresas que estão colocando nos seus manuais de conduta a obrigatoriedade da utilização de máscara para o colaborador que apresentar uma infecção respiratória – os orientais já tinham esse hábito no dia a dia desde antes da pandemia, em respeito aos demais, para evitar que mais gente ficasse doente. Outras medidas que acho que continuarão sendo praticadas são a lavagem regular das mãos, andar sempre com álcool em gel e passar nas mãos, por exemplo, após sair do ônibus.


Houve algo que as pessoas faziam e, na verdade, não surte efeito contra o coronavírus?


Várias coisas. Um mito é o de que deve-se desinfetar tudo que vem do supermercado. Indico limpar as compras mais por higiene mesmo, pois um rato pode ter urinado na embalagem, não por causa do coronavírus, já que não existe nenhum estudo que mostre que alguém pegou covid-19 dessa forma. Também não é necessário desinfetar a roupa ao chegar em casa, afinal não há estudos que citem casos de gente que se infectou dessa maneira. Outro cuidado excessivo é passar álcool no carro. Isso danificou diversos veículos. E não há a necessidade de utilizar máscaras médicas na rua e diminuir os ônibus em circulação. Achava-se que reduzir o transporte coletivo faria baixar o total de passageiros, só que, na verdade, essa medida favoreceu a concentração de pessoas nos ônibus. O mesmo podemos dizer sobre a redução dos horários do comércio. O melhor seria ampliar o expediente das lojas e shoppings, para diluir o movimento e evitar a aglomeração.


E quanto aos restaurantes e bares?


Num primeiro momento, teve estabelecimento que só ficou com atendimento nos seus ambientes internos e desativou a área externa, enquanto esses espaços deveriam estar funcionando. Tudo que é lugar com ventilação deve ser cogitado com carinho, ficar aberto para o público. É bom dizer que há estudos que comprovam que, para pegar covid-19, você deve ficar em contato com alguém contaminado por, pelo menos, 15 minutos.


Como foi que se chegou a esse número?


Foram analisados milhares de casos. Em um deles, uma pessoa contaminada que estava em um restaurante passou covid-19 para quem se encontrava na mesa de trás e na da frente; o garçom não pegou, pois não ficou tanto tempo perto desse cliente. Além de ter contato por mais de 15 minutos com o vírus ou com quem está contaminado, principalmente em ambiente fechado, sem ventilação e com ar-condicionado, algo que também aumenta demais a chance de contágio é não respeitar o distanciamento de cerca de dois metros, ainda mais sem máscara. Por que se calculou dois metros? Estudos mostraram que, quando falamos, as gotículas de saliva alcançam uma distância de mais ou menos 1,80m. Por isso se indica os dois metros. Agora, se alguém com covid-19 espirrou no elevador antes de você entrar, não há motivo para achar que, obrigatoriamente, vai contrair o coronavírus.


Por quê?


Apesar de ele estar no ar e nas superfícies, a gente não costuma ficar mais de 15 minutos no elevador. Já ouvi muita gente falar que o vírus dura três, quatro dias, uma semana ou até um mês nos ambientes. Devemos entender o seguinte: se alguém espirra e o vírus cai numa superfície, depois de dez minutos a quantidade de vírus viáveis no local terá caído bastante. De modo que, passadas duas, três horas, não haverá um nível de vírus suficiente no lugar para provocar a doença. Calcula-se que por volta de 99% dos casos de covid-19 se deram pelo contato com alguém contaminado, via gotículas de saliva. Em torno de 1% dos casos foi motivado pelo contato com locais e superfícies infectadas. Mas não é por causa disso que vamos descuidar da higienização dos espaços. Por incrível que pareça, o coronavírus é sensível demais. Basta detergente, água com sabão, para inativá-lo, enquanto outros microrganismos necessitam de desinfetante para serem eliminados. O coronavírus é o que chamamos de vírus lipolítico, ou seja, é uma espécie de “bolinha de gordura”, com estruturas de proteína na membrana, que servem para penetrar nas células. Logo, lavar as mãos com água e sabão é até melhor do que álcool em gel.


O que mais vale frisar sobre a lavagem das mãos?


Se você higienizá-las mais de oito vezes por dia, a chance de contágio diminui. Em compensação, lavar as mãos mais de 25 vezes durante o dia pode elevar a probabilidade de contaminação, não por coronavírus, mas por bactérias, pois o excesso de limpeza reduz a resistência da pele. O ideal, portanto, são de oito a 25 higienizações ao dia – entra nesse total não apenas a lavagem das mãos com água e sabão, também devemos incluir na conta as vezes em que passamos o álcool em gel nelas.


Como é o jeito certo de higienizar as mãos?


Se for com água e sabão, esfregue as palmas, entre os dedos e os dorsos das mãos. Aí, dê coçadinha em cada palma, ou seja, passe as unhas da mão direita na palma da mão esquerda e vice-versa. Depois, dê um soquinho: feche a mão direita e bata na palma da mão esquerda, fazendo o movimento de vaivém. Repita o procedimento com a mão esquerda na palma da mão direita. A seguir, lave os dedões e pulsos. Assim, você terá passado sabão em tudo. O processo leva de 15 a 35 segundos e, com o tempo, vira algo automático. Com relação à higienização com álcool em gel, devemos esfregá-lo nas mãos por 15 a 20 segundos, para que ele realmente tenha efeito.


Há mais algum dado preocupante da pandemia?


No ano passado, registramos dois recordes nacionais: de intoxicação por produtos de limpeza e de crianças intoxicadas por álcool em gel. E houve um aumento de quase 30% no índice de queimaduras por álcool. É comum acontecer de a pessoa passar álcool em gel nas mãos e ir acender o fogo para cozinhar, riscar um fósforo, fumar, utilizar o isqueiro... Tudo isso gera queimadura. Para não correr esse tipo de risco, recomendo não usar álcool em gel dentro de casa.


Qual intoxicação por produto de limpeza é mais comum?


Primeiro, usar o produto em uma concentração não adequada. Por exemplo: a embalagem indica duas colheres de sopa por litro de água e a pessoa, por achar pouco, coloca dois copos. O segundo tipo principal de intoxicação é a motivada pela mistura de produtos de limpeza. Deve-se evitar a combinação de substâncias, a não ser que conste no rótulo do produto ou seja indicada por um profissional gabaritado. Tem gente que costuma misturar detergente com água sanitária; dois, três desinfetantes... A pior associação é água sanitária com vinagre, o que gera o gás cloro, altamente tóxico. As misturas de produtos de limpeza ainda podem causar dermatites. Sem contar que, quando não se mostram tóxicas, fazem com que um produto anule o outro, como no caso da água sanitária mais o detergente.


Qual o melhor jeito de limpar o lar?


Sugiro preparar solução com um litro de água, uma colher de sopa de detergente e uma colher de sopa de bicarbonato. Você pode limpar a casa inteira com isso e o carro. É preciso apenas trocar de pano. Para lavar a máscara de pano, deixe-a por cinco minutos em um litro de água com quatro colheres de sopa de detergente e uma colher de sopa de bicarbonato. Massageie a máscara, enxágue e pendure.


No outono e no inverno, além da covid-19, são frequentes as doenças alérgicas e respiratórias. Que outras dicas de limpeza são indispensáveis nessa época do ano?


É bom evitar usar o umidificador de ambiente, pois o nível de umidade de um local deve ser de até 70% e o aparelho costuma ultrapassar esse índice, o que favorece o aumento da quantidade de ácaros e fungos no lugar – grandes responsáveis por casos de rinite, asma... Para utilizar o umidificador direito, a gente deveria ter em casa um hidrômetro, que mede a umidade, e desligar o umidificador quando o hidrômetro indicar 70%. Mas quem vai acordar de madrugada para isso? E mesmo que os dias sejam mais frios, não podemos deixar de abrir as janelas para ventilar os ambientes. O que também não recomendo é ter em casa carpete e tapete, pois nem todo mundo os higieniza do modo certo. O ideal é utilizar no processo um aspirador de pó com filtro HEPA, senão, ao aspirar o tapete e o carpete, você estará aumentando excessivamente a quantidade de alérgenos no ar. Comprar um aspirador que não tenha o filtro HEPA é jogar dinheiro fora.


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