Detox emocional: gerenciar os sentimentos é essencial na reta final do ano

Especialistas mostram formas de fazer isso e ter uma vida mais equilibrada e saudável

Por: Alcione Herzog  -  26/12/21  -  12:31
Atualizado em 26/12/21 - 14:34
Gerenciar os sentimentos é essencial na reta final do ano – para não dizer diariamente. Especialistas mostram formas de fazer isso e ter uma vida mais equilibrada e saudável
Gerenciar os sentimentos é essencial na reta final do ano – para não dizer diariamente. Especialistas mostram formas de fazer isso e ter uma vida mais equilibrada e saudável   Foto: Adobe Stock

Todo aniversário ou fim de ano é a mesma coisa: nos obrigamos a fazer um balanço e tentar dar aquela reciclada nas emoções para começarmos o novo ciclo zerados. Tem quem chame esse processo de detox emocional.


Quando pensamos em detox, o que vem à mente são formas de eliminação de toxinas e impurezas acumuladas no organismo. Há dieta detox, jejum detox, massagem detox, bebida detox. Se a lista é longa, o conceito é sempre o mesmo: uma espécie de tratamento destinado a eliminar as substâncias tóxicas e reparar as desordens que elas provocam.


Com as emoções, pode (e deve) acontecer o mesmo. No entanto, a psicóloga Larissa Costa adverte que esse é um exercício que tem de ocorrer constantemente, não apenas na reta final do ano.


“As pessoas costumam pensar que tudo vai mudar automaticamente, porque o ano mudou. Isso gera uma expectativa grande e causa muita frustração. E a frustração é geradora de estresse. A passagem do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro é só mais um dia em que a gente vai dormir e acordar”.


Dito isso, há algumas coisas que podem ser feitas para começar 2022 com o pé direito e a mente leve. Comece entendendo que é responsabilidade de cada um de nós promover as mudanças que desejamos. Antes, porém, vale a pena fazer uma lição de casa importante. “Olhe para si e se perceba. Quando a gente transfere a expectativa de algo que é nossa tarefa para o outro ou para alguma coisa, a chance de frustração e sofrimento é grande”.


Na hora de fazer o balanço do que se passou, identifique aquilo que considera negativo para ponderar e traçar estratégias para mudar. O seu ano foi péssimo? Lembre-se que de toda adversidade é possível tirar algo de positivo. “O ser humano aprende mais na dificuldade do que em qualquer outro momento”.


E não se trata de negar ou romantizar as dores. “Sentimos tudo à flor da pele nesse segundo ano de pandemia. Ainda persistema ansiedade, a angústia, as nossas incertezas sobre o futuro. Mas dá para ver isso pelo lado positivo, que está na maior facilidade para enxergarmos o que nós podemos mudar. A pergunta é: o que eu poderia ter evitado e a pandemia trouxe à tona?”


Outra coisa é entender o que deseja. “Quem não sabe o que quer não entende nem o que sente e o porquê sente aquilo. Quando eu sei o que sinto e quero, tendo a fazer as coisas de forma mais racional e, consequentemente, a chance de êxito é maior”, observa a psicóloga.


Cuidado com a autocobrança


Igualmente importante é não exagerar na autocobrança na hora de traçar metas e planos para o próximo ano. E você não precisa se transformar num santo ou santa para viver melhor. Basta aprender a gerenciar os seus sentimentos.


Segundo Larissa, um dos pilares da terapia comportamental é fazer com que as pessoas entendam que os sentimentos são automáticos, que não temos controle sobre o momento em que vamos senti-los ou sobre sua intensidade. O mesmo se aplica aos pensamentos. Porém, a maneira como reagimos quando eles se manifestam pode, sim, ser medida, controlada. “Não consigo deixar de sentir raiva, mas consigo me controlar diante dela. Para isso, preciso aprender sobre o que eu estou sentindo. Identificar, aceitar e, então, decidir como me comportar”.


Negligenciar, nunca! Ignorar angústias, medos e frustrações, jamais! A psicóloga utiliza a analogia da sujeira debaixo do tapete. “Varrer os sentimentos, acumulando-os em um lugar onde achamos que não serão percebidos somente aumenta o problema”.


É aí que surgem as doenças decorrentes do efeito intoxicante de tantas emoções mal administradas. “Se eu consigo viver uma tristeza, uma ansiedade e entender porque estou sentindo aquilo, a minha reação será muito melhor, pois vou aprender a lidar com isso da forma mais saudável possível. Isso é detox emocional”, explica Larissa.


Mundo digital

Outra forma de virar o ano impedindo que o veneno dos sentimentos maltratados nos afete é repensar a nossa relação com o mundo digital. Segundo estudo da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, acessar redes sociais por mais de duas horas diárias dobra o risco de isolamento social. O levantamento mostrou que ficar muito tempo no Facebook ou no Instagram potencializa a competitividade e desperta emoções humanas consideradas tóxicas. A tendência dos nativos digitais é usar as redes como um refúgio ou antídoto para as frustrações da vida real. O problema é que, depois, nos frustramos ainda mais ao vermos que os likes ou comentários com elogios têm efeitos fugazes e nunca vão preencher, de fato, nossos vazios.


Que tal pensar em se doar para o outro ou para uma causa? Segundo o Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), estudos têm mostrado que o voluntariado contribui não só para o acréscimo de bem-estar como para diminuir sintomas depressivos e melhorar a qualidade de vida. Alguns levantamentos destacam, inclusive, o trabalho voluntário como estratégia de promoção de saúde, principalmente para a população idosa.


O ativismo ainda ajuda a melhorar significativamente a visão que as pessoas têm de si mesmas, já que passam a experimentar mais satisfação ao mudar algo na vida de alguém ou na sociedade. “Pesquisas mostram que essas experiências têm um efeito muito benéfico não só nos aspectos psicológicos e de autoestima como também apontam a diminuição de sintomas de doenças crônicas e melhora no quadro geral de saúde mental”, diz a psicóloga Maria da Conceição Uvaldo, em seu relatório do Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Profissional do Instituto de Psicologia da USP.


Bom humor

Outra poderosa arma para se livrar aos poucos dos fatores que causam as intoxicações emocionais é o bom humor. Aliás, não é de hoje que a Ciência comprova que rir é o melhor remédio para combater muitas toxinas do nosso organismo.


Um estudo norte-americano sobre a fisiologia do riso mostra a inter-relação entre o bom humor, o bem-estar e a prática de atividade física. O trabalho diz que três minutos de boas risadas equivalem a dez minutos de exercícios de remo, por exemplo. Sorrir também aumenta a ventilação pulmonar e beneficia o sistema cardiovascular.


Isso acontece porque o bom humor, assim como a atividade física, promove a produção de endorfina, substância que está associada ao bem-estar físico e mental e à diminuição de doenças crônicas. Especialistas alertam, no entanto, que o bom humor não consiste apenas em contar ou rir de piadas, mas de ter mudanças de atitude para buscar viver de forma mais alegre, leve e menos rigorosa consigo mesmo e com o outro.


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