Crescente de brechós online na Baixada Santista impulsionam o consumo consciente

Propostas vintage e slow fashion são alternativas sustentáveis em tempos de recomeço

Por: Beatriz Araujo  -  18/07/21  -  09:03
Atualizado em 18/07/21 - 09:49
   Amigas encontram no garimpo uma forma de diversão e renda extra e criam o brechó Libellule
Amigas encontram no garimpo uma forma de diversão e renda extra e criam o brechó Libellule   Foto: Alexsander Ferraz

As roupas não são descartáveis e os recursos naturais são finitos. Isso não é novidade, mas, com a pandemia de covid-19, o aumento das vendas on-line e a procura por formas mais acessíveis e sustentáveis de consumo, essas premissas abriram espaço para a consolidação dos brechós virtuais como alternativa em meio à indústria da moda.


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Por toda a Baixada Santista, o movimento de brechós com vendas pela internet é expressivo. Pelo Instagram, por exemplo, é possível encontrar opções para qualquer gosto, estilo e perfil (confira indicações no quadro). Os mais procurados, porém, são os brechós com a oferta de peças vintages, reconhecidas pela etiqueta com o registro CGC (Cadastro Geral de Contribuintes), o atual CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). Essa alteração de nomenclatura foi em 1999, então encontrar uma peça “com CGC” é ter em mãos uma roupa com, no mínimo, 21 anos.


“Há tecidos que hoje não são mais comercializados de forma natural, como a seda, o crepe e o couro”, explica a santista Gabriela Dirienzo, de 22 anos, idealizadora do O Garimpo. Ao procurar peças para suas atualizações semanais, ela diz focar nas vintages com boa qualidade de tecido, por terem durabilidade maior.


   No O Garimpo, Gabriela também faz upcycling com algumas peças
No O Garimpo, Gabriela também faz upcycling com algumas peças   Foto: Alexsander Ferraz

O Garimpo foi criado em 2017 e, hoje, reúne mais de 6 mil seguidores. O brechó nasceu do interesse de Gabriela por moda e agora é sua principal fonte de renda, possibilitando que more sozinha. “Foi no começo da pandemia que eu comecei a encarar isso como um trabalho, no qual me empenho, pesquiso e invisto meu tempo”.


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Curadoria


Para encontrar peças como calças mom jeans, calças de alfaiataria, blazers, jaquetas, camisas de botão e casacos de tricô vintages, tendências resgatadas que estão em alta no momento, há um amplo processo de curadoria por trás.


As criadoras do brechó Libellule, Ana Paula Cordeiro, de 20 anos, e Letícia de Carvalho, de 23, da Baixada Santista, explicam que é preciso tempo para garimpar, lavar as roupas, fazer pequenos consertos e ajustar detalhes. Também é preciso tirar as fotos das roupas para publicar nas redes sociais, combinar vendas, embalar entregas e, enfim, levar as roupas a seus novos lares. Na grande maioria das vezes, tudo é feito pelas próprias donas dos brechós, por serem pequenos empreendimentos.


“Além de todo o trabalho que fazemos, garimpamos peças com exclusividade, que são difíceis de achar”, comentam as meninas, que dizem levar essas questões em consideração para definir os preços.


O brechó Libellule foi criado em outubro do ano passado como uma fonte de renda das jovens, assíduas consumidoras de brechós. Lá é possível encontrar blusas a partir de R$ 12,90 e calças em torno de R$ 30.


Já no O Garimpo os itens mais baratos são lenços vintages, a partir de R$ 28. Mas há peças como jaquetas de couro legítimo e sobretudos que podem chegar a custar R$ 300. Além do garimpo e da curadoria, Gabriela também faz um trabalho de upcycling, criando peças autorais a partir do que já existe.


Atemporal


Aliadas do slow fashion (moda lenta, em tradução livre), as roupas atemporais são peças-chaves nos brechós vintages. “Dentro de uma proposta de consumo consciente, acho importante trazer peças mais clássicas que combinem com outras roupas do guarda-roupa de forma prática, não gerando descartes”, enfatiza Amanda Paulino, guarujaense de 25 anos e criadora do brechó Laluna, que existe desde 2019.


A bandeira da roupa sem gênero também é levantada nessa discussão. Tendo um público diversificado no Laluna, Amanda explica que muitas roupas garimpadas costumam ser “masculinas”, com modelagens maiores, mas que isso não significa serem exclusivas para homens. “Nunca tive essa distinção de feminino e masculino nas roupas. O que importa é a pessoa gostar e utilizar do jeito que quiser”.


Consistência


Os brechós virtuais alcançam cada vez mais pessoas. Mas, além disso, o discurso da conscientização ambiental aliada ao consumo é essencial. “A moda superacelerada (fast fashion) tem um ritmo de produção de tecido, de gasto d’água e de uso de material plástico que uma hora vai acabar com as matérias-primas. Isso não vai atingir só o consumo pessoal”, ressalta Gabriela, do O Garimpo.


Por isso, para ela, apesar de não haver solução perfeita para o excesso de lixo que a moda produz, o reúso é uma boa opção. “Colocar as roupas em um ciclo, de consumo circular, diminui muito os efeitos dessa problemática”.


   Tendências como bijuterias de miçangas e a busca pelo
Tendências como bijuterias de miçangas e a busca pelo   Foto: Reprodução

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