'Comecei a me superar desde que nasci, pois fui abandonada com três dias de vida', diz Thelminha

Campeã do BBB 20 está ajudando equipe de médicos de Manaus e quer criar ONG para o pós-pandemia

Por: Stevens Standke  -  24/01/21  -  18:40
  Foto: Foto Thiago Bruno/ Divulgação

A anestesiologista Thelma Assis chegou ao Big Brother Brasil (BBB) 20 sem dizer muito a que veio, mas, com o desenrolar da histórica edição do reality show, conquistou o público e ganhou o programa. Hoje, com um quadro de saúde no É de Casa e com milhões de seguidores entre o seu canal do YouTube e o perfil no Instagram, Thelminha se prepara para novo capítulo na sua vida: além de planejar um livro sobre a sua trajetória, quer conciliar o trabalho na TV e nas redes sociais com a criação de uma ONG para ajudar cidades com pouca infraestrutura a disponibilizar cirurgias para a população assim que a pandemia começar a melhorar. Sem falar que está contribuindo, como médica,no caótico sistema de saúde de Manaus (Amazonas). Na entrevista, Thelminha comenta ainda a expectativa para a estreia doBig Brother Brasil 21nesta segunda-feira (25).


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REALITY A proximidade da estreia do BBB 21 faz com que olhe para trás e analise tudo o que aconteceu desde que participou do programa?


Com certeza. Tem passado um filme na minha cabeça. Há um ano, estava confinada no hotel, ansiosa por tudo o que ia acontecer daliem diante. Hoje, vejo que as coisas ocorreram de maneira bem melhor do que eu podia imaginar, elas superaram as minhas expectativas. Só participando de um reality show como o BBB para ter a noção exata de como ele muda a sua vida etraz um monte de oportunidades. Sempre fui telespectadora do programa. Mas, neste ano, vou assistir ao Big Brother com outra visão, sem tantos julgamentos.


Pode dar exemplo de como o fatode ter participado do BBB modificou a sua percepção do programa?


Em um reality, a gente é julgadoa todo momento, tanto aqui fora quanto lá dentro. Antes de entrar na casa, eu duvidava que fosse possível construir amizades com os participantes. Achava estranho as pessoas, depois de uma semana,de 15 dias de convivência, se tratarem como melhores amigas, porque sou de investir, de insistir nas minhas amizades até o fim, desisto só se sofrer uma decepção muito grande. Apesar de eu ter amizades sólidas, que construíao longo de anos, o BBB é tão intenso e as nossas emoções ficam tão à flor da pele que, hoje, não duvido mais que dê para fazer amigos lá. E por mais que seja casada (com Denis Santos, fotógrafo que trabalha diretamente com Thelminha e é seu braço direito), também não questiono mais os casais do programa. Na casa, quando a gente fica feliz, fica feliz demais; quando bate uma tristeza, é tristeza daquelas.Se não temos alguém para compartilhar a nossa angústia, corremos o risco de surtar.


  Foto: Foto Thiago Bruno/ Divulgação

Você levou várias amizadespara fora da casa do BBB.


Exatamente. Eu, a Manu (Gavassi) e a Rafa (Kalimann) continuamos nos dando muito bem. Firmamos um grupo no WhatsApp, que também tem a Bruna (Marquezine), amiga da Manu. Ainda existe o primeiro grupo que montamos logo que saímos do BBB, o do quarto do céu. Nele estão eu, a Manu, a Rafa,a Gabi Martins e a Gizelly (Bicalho).


FAMA Após o programa, você fez campanha da Prefeitura de São Paulo sobre a necessidade do isolamento social para combater o coronavírus e, agora, ao viajar para Fernando de Noronha com a Manu, a Rafa e a Bruna, foi criticada por supostamente desrespeitar os protocolos contra a covid-19. Como encara a polêmica em torno disso?


O que importa é a gente ter a consciência tranquila. Fiz essa campanha logo que deixei o BBB. Nela, dizia que estava indo para outro confinamento e incentivava as pessoas a respeitar o isolamento social. Aí, com a flexibilização da quarentena, fiz nova campanha, dessa vez voltada à importância do uso da máscara, do álcool em gele da não aglomeração. Nas críticas que recebi recentemente, pela viagem a Fernando de Noronha, as pessoas citaram apenas a primeira campanha e não falaram da que fiz em seguida, descontextualizando as coisas. É óbvio que como médica eu nunca iria me colocar em risco, nem o meu marido, minhas amigas e indiretamente a minha mãe – porque, por mais que ela não tenha ido, tem contato comigo. Tomamos o cuidado de ficar em lugar isolado e as dez pessoas que estavam na casa foram testadas. As críticas mais duras vieram de um deputado federal (Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República) e de um vereador (Nikolas Ferreira,de Belo Horizonte, Minas Gerais). Em vez de se preocupar com essa situação, eles deveriam estar de olho no cronograma da vacinação, na falta de insumos, na realidade preocupante de Manaus... Muitas dessas figuras públicas aproveitam algo assim para desviar o foco do que deveriam fazer e não fazem. Felizmente, a maioria das pessoas entendeu o que aconteceu.


Já se acostumou comesse tipo de situação?


Sou autocrítica e perfeccionista,me preocupo demais com a minha imagem e a forma como o público interpreta as coisas. A internet pode mexer bastante com a nossa saúde mental. Ainda bem que faço terapia, pois, se bobear, bate uma crise de ansiedade. Não foi fácil, mas me acostumei com tudo isso. O melhor que podemos fazer para preservar nossa imagem e a saúde mental é nos mantermos fiéis aos nossos princípios e crenças.


A fama afasta o racismo?


Que nada! Praticamente 90% das minhas lives têm casos de injúria racial. Não me ofendo quando me xingam, pois sei quem sou. A fama é um caminho que parece que resolve tudo, só que não funciona bem assim, ainda temos muita luta pela frente, para os negros serem realmente valorizados. Inclusive, fui uma das pessoas selecionadas pelo YouTube para um projetode reconhecimento e promoção dos influenciadores negros.


  Foto: Foto Thiago Bruno/ Divulgação

ONG Assim que saiu do BBB, ficou em dúvida se devia dar um tempo na Medicina e focar nas oportunidades trazidas pelo reality show?


Desde que entrei no Big Brother, tinha consciência de que talvez demorasse para voltar a atuar como médica. O que aconteceu é que, com a pandemia, notei que as pessoas precisavam de orientação e que eu poderia auxiliá-las pela TV, no É de Casa, e pelas redes sociais. A chance de linkar Medicina e Comunicação foi perfeita.


Quais são seus planos para 2021?


Quero exacerbar ainda mais o meu lado de comunicadora, continuar a aproveitar as chances para falar de saúde. Em paralelo ao quadrono É de Casa, preparo a segunda temporada do Triangulando, programa de entrevistas que faço no YouTube. Eu já tinha esse canal antes do BBB. Graças ao programa, fui de 200 para 257 mil inscritos no YouTube e de 1 mil para 6 milhões de seguidores no Instagram. Eu sempre gostei de compartilhar as minhas histórias de superação nas redes sociais e de mostrar que todo mundo passa por dificuldades, além de abordar temas como beleza, empoderamento feminino, racismo e life style. Também estou com uma equipe desenvolvendoum livro sobre a minha trajetória; ele será mais um modo de levaràs pessoas mensagem sobre a importância de nos superarmos.


Pretende voltar logo à Medicina?


Sempre disse que, se o País encarasse grande falta de médicos, seria a primeira a ajudar. A atual situação de Manaus se mostra sensível demais e me engajei nessa frente, estou colaborando na equipe médica local. Tem outro ponto: quero montar uma ONG, porque acredito que, quando a pandemia começar a melhorar, vamos nos deparar com demanda reprimida muito grande de cirurgias em cidades sem tantos recursos.Me refiro a procedimentos de pequeno porte, como o para cuidar de uma hérnia. Pretendo reunir alguns colegas para fazer mutirões cirúrgicos nesses lugares.


  Foto: Foto Thiago Bruno/ Divulgação

RESILIÊNCIA Que é mais marcante em tudo o que superou até hoje?


Costumo dizer que comecei a me superar desde o momento em que nasci, pois fui abandonada pelos meus pais biológicos com três dias de vida. Aliás, já parei para pensar em todos os destinos que poderia ter tomado se não tivesse sido adotada. O que também marca a minha história é o desejo que tinha de estudar e cursar a universidade. Lembro de como ficava tentando encontrar uma maneira de tornar isso possível, por ter noção da defasagem que havia na minha formação na rede pública. Fiz parte da primeira turma do Prouni (Programa Universidade para Todos), em 2005. Nos seis anos seguintes de Medicina, encarei praticamente todos os perrengues que você pode imaginar, só não passei fome. E durante nove anos, meu pai enfrentou um câncer,seu tratamento contra o linfoma pegou parte da minha faculdade. Cuidei dele até o fim. Considero o meu pai o meu primeiro paciente.


Quais são as outras memóriasque guarda dessa época?


Levou um ano para o meu pai ter o diagnóstico do linfoma. Como eu estava no internato, no quinto ano da faculdade, ficava bastante tempo no hospital escola e, por eu ser bolsista, não podia faltar. Para não deixar de acompanhar o meu pai,o transferi para o hospital escola. Estudei o caso dele a fundo e posso dizer que consegui evitar a morte do meu pai algumas vezes. Só que chegou um momento em que o quadro dele não tinha mais jeito. Podemos tirar aprendizado de todos os acontecimentos ruins da nossa vida. Essa experiência me fez uma médica ainda mais humana.


  Foto: Foto Thiago Bruno/ Divulgação

FOLIA Você desfila há bastante tempo no Carnaval. Como vê o impacto da pandemia na festa?


Acho que o mais significativo não é o fato de que não teremos Carnaval tão cedo e, sim, a questão de que isso fez com que diversas pessoas das comunidades ficassem sem emprego. No fim do ano passado, me aproximei ainda mais da minha escola, a Mocidade Alegre, para tentar ajudar as pessoas, usando a minha visibilidade para conseguir cestas básicas. Ao mesmo tempo,a aprovação das vacinas para a covid-19 trouxe uma espécie de respiro, renovou a esperança ea energia das comunidades do samba. Por mais que não haja desfiles programados, as pessoas e as escolas estão enxergando luz no fim do túnel, de que vamos voltar a viver o Carnaval, sim.


O pessoal já está se preparando, por acaso, para esse retorno?


As escolas são muito organizadas. Elas já se prepararam na medida do possível, sem aglomerações. Todas escolheram os seus novos sambas-enredos, de forma remota. Agora, elas têm de começar a botar a mão na massa, produzindo fantasias e alegorias, e iniciar os seus ensaios. Quando os desfiles realmente ocorrerem em São Paulo e no Rio, tenho a certeza de que será o Carnaval dos carnavais.


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