Autocuidado e resiliência para acreditar em um futuro melhor em 2021

Já sabe o que vai levar para o próximo ano? Especialistas falam como manter a esperança

Por: Joyce Moysés  -  03/01/21  -  14:39
Pacote de esperanças para 2021 tem que ter resiliência
Pacote de esperanças para 2021 tem que ter resiliência   Foto: Adobe Stock

Gratidão, protagonismo e esperança, mais do que palavras, são sentimentos que muitos de nós querem manter para 2021. “Gratidão por estar viva. Protagonismo para agir e contribuir. E esperança para não desistir, sendo a do verbo ‘esperançar’, que significa não se conformar, ir atrás, persistir, exatamente o que um novo ano nos pede”, avalia a economista Dirlene Silva, Linkedin Top Voices 2020, mestre em Gestão e Negócios pela Université de Poitiers, na França, pela Unisinos, no Brasil.


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“O ano 2020 impôs uma condição até então desconhecida por nós. Convivemos com a incerteza de uma doença nova, sendo tomados por sentimentos de insegurança e medo. Até demissão, pela primeira vez na vida, eu encarei durante a pandemia. Fiquei mal por 24 horas, mas, tendo em vista o momento, me senti no ‘lucro’, pois orgulho ferido não precisa de hospital. Sobrevivi a tantas adversidades que considero privilégio estar viva, com saúde, profissão, casa, comida e família unida”, avalia ela, que tem mestrado em Gestão e Negócios pela Université de Poitiers, na França, pela Unisinos, no Brasil.


Ser grata e ter esperança são elementos naturais e inerentes à essência da guerreira Dirlene. Pudera. A mãe, divorciada, trabalhava dia e noite para sustentá-la junto com as irmãs. Até os 10 anos morou em vila de chão batido, sem acesso a energia elétrica, água encanada ou saneamento básico. Na infância era chamada de “filha da empregada” e na adolescência, de “filha da lixeira”, uma vez que a mãe trabalhava como gari. Alvo de preconceito racial e social na escola, ela chegou a ouvir sons de macaco enquanto passava pelo corredor.


“Atribuo à proteção divina o fato de ter superado tantas intempéries e de gostar tanto de livros e de estudar. Ainda na adolescência, ‘conheci’ o escritor Joseph Murphy por meio de seus livros. Ele me livrou de qualquer trauma que pudesse surgir e me ajudou a desenvolver resiliência, autoconhecimento e protagonismo para continuar lutando pelos meus sonhos.”


Surpresa e superação Embora 2020 tenha sido marcado por medos, perdas, dificuldades, o médico e psicólogo Roberto Debski, facilitador em Constelações Familiares Sistêmicas, incentiva a todos que procurem em 2021 manter a calma enquanto aprendem maneiras saudáveis de lidar com essa nova realidade tão complexa e inesperada.


“Normalmente o final de ano traz esperança da mudança, novos projetos e possibilidades. Mas, nesta época de incertezas, quando ainda não há perspectivas de soluções efetivas e cura, como fica? Mais do que nunca, devemos exercitar a criatividade para mudar, esperança para gerar novos projetos e resiliência para seguirmos adiante, apesar de tudo. Por mais que necessitemos de certezas e garantias, a vida é um mistério. Por mais que façamos planos, há o risco da surpresa”, lembra o dr. Roberto.


Aprender a lidar com esta realidade previne o sofrimento. Mesmo sem garantias, cada um deve fazer sua parte. Sempre. “O futuro não pode ser labirinto onde nos perdemos no medo e na ansiedade. Ele deve ser parâmetro para nos guiar na direção de projetos e planos, com flexibilidade. Criatividade, bom humor e propósito de vida são características que nutrem a resiliência, capacidade fundamental em tempos de crise”, avisa o médico e psicólogo.


A resiliência é uma habilidade que pode ser desenvolvida, treinada, aprimorada, em qualquer idade. E esse fato, evidenciado pelas ciências humanas e a psicologia, ajuda as pessoas a manterem o foco em um futuro mais positivo. O médico reconhece que todos têm passado por dificuldades desde o início da quarentena, maiores ou menores. “Mas devemos aprender a resistir, superar, crescer diante de cada desafio doloroso. Emergimos sempre um pouco melhores, mais conscientes, com mais recursos. Desta vez também o faremos”, acredita o médico.


Importante: “Não é hora ainda de confraternizações como se nada estivesse acontecendo, sem distanciamento, sem máscaras, sem proteção, sem maturidade. Precisamos manter o foco, nos proteger e aos outros. Todas as medidas de segurança devem continuar, até que tenhamos uma real solução para a pandemia. Talvez uma vacina eficaz e viável a todos, que nos trará esperança...”, pondera dr. Roberto.


Quem sabe no Réveillon de 2022 voltaremos a pular sete ondas na praia? “Creio que sim, com as nossas feridas já cicatrizadas. Que 2021 nos faça trabalhar em conjunto, como um grande sistema com um objetivo comum, e assim nos traga a esperança de uma humanidade mais coesa, consciente e unida. Sonho ou realidade? Depende de como agimos no dia a dia, de nossa consciência, de cada um de nós”, afirma o médico.


Cuidar mais de si mesmo Sem autoconhecimento não há boa comunicação com o outro; sem autocuidado, as ideias inovadoras desaparecem; sem autorrespeito, os clientes não chegam junto. Por isso, se tem uma coisa que Diego Oliveira, publicitário e mestre em Comunicação, expert in Consumer & Media Insights, professor na ESPM, aprendeu este ano foi a cuidar de si e se valorizar.


“Tenho observado que ‘estar bem comigo mesmo’ interfere até na produtividade. Se nossa cabeça está ocupada com problemas que a gente insiste em ‘colocar debaixo do tapete’, temos dificuldade de usar o tempo a nosso favor. E não me venham dizer que com a pandemia ficamos ociosos, porque é uma inverdade. No enclausuramento, as tarefas se acumularam, e o brasileiro (que já estava no top do ranking dos mais ansiosos do mundo) está mais ansioso.”


Reconhecer as próprias necessidades pode parecer vulnerabilidade, e “tudo bem, pois pedir ajuda ou mostrar que você precisa de tempo para si é não querer parecer ser perfeito. Assim como numa análise SWOT (ferramenta tão usada no Marketing), identificar fraquezas e pontos fracos é essencial para a qualidade de vida. Meu grande amigo Ubiraci Pataxó diz: ‘Eu sou rico naquilo que no outro é pobre; e eu sou pobre naquilo que no outro é rico’. E é assim mesmo!”, comenta o publicitário.


O conceito Me time (tempo para mim em português) tem se popularizado como ferramenta do bem viver, e Diego não só incorporou na sua rotina como quer levar para 2021. “Às vezes, o Me time vira momento de insights, sem deixar de ser aquela uma hora do dia bem valorizada: com um almoço, vendo uma série, fazendo exercício físico ou mental. O que vale é que sejam 60 minutos absorvidos como recompensa para a pessoa mais importante que existe na minha vida: eu.”


Ninguém solta a mão de ninguém Renata Di Nizo, facilitadora de escrita e fala criativas, escritora, atriz, palestrante, também refletiu sobre o que mais importa e escolhe levar para 2021:


1. Sabedoria de viver. “Por mais que queiramos romantizar ou impor a tirania do otimismo, 2020 deixa marcas indeléveis. E, se no meio do caminho há a pandemia, a sabedoria está em recolher dela novos aprendizados.”


2. Interdependência. “Somos um pingo d´água no oceano e, ainda assim, únicos e deliciosamente plurais. Do atendente do supermercado à equipe de limpeza, do cientista ao amigo que acena ao longe, ressignificamos o ‘outro’ porque encaramos mais do que nunca em 2020 que somos interdependentes.”


3. Solidariedade. “Graças a ela, nos erguemos como rocha diante do sofrimento. Nosso alimento diário provém de nossas redes solidárias. Ninguém solta a mão de ninguém, porque no meio do caminho, além do tropeço, há o recomeço, a reconstrução.”


4. Respeito. “O futuro depende da qualidade das nossas escolhas, do jeito como encaramos a nós mesmos e aos demais em meio a tantas intempéries. Apenas o autorrespeito, o respeito aos saberes e à nossa cultura plural poderão nos salvar.”


5. De volta para casa. Renata conclui desejando a todos, em 2021, muito mais livros, pipoca e brindes pelas pequenas coisas, pois nelas residem a simplicidade e o prazer do encontro – consigo mesmo, com o mundo e com a própria esperança - “porque a esperança somos nós”.


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