Apresentadora Mariana Goldfarb se prepara para lançar livro sobre sua luta contra anorexia

Ela relembra o tempo de modelo e fala do programa que está desenvolvendo

Por: Stevens Standke  -  18/07/21  -  09:05
  Foto: Leco Moura/Divulgação

Mariana Goldfarb passou por experiências bem complicadas quando foi modelo durante a adolescência. Isso contribuiu para começar a desenvolver uma insatisfação com o próprio corpo, que chegou ao ápice em 2017, quando já era apresentadora e, por seis meses, teve anorexia. Hoje, recuperada e com um estilo de vida cada vez mais saudável e zen, a carioca de 30 anos não só está prestes a se formar em Nutrição como, em paralelo aos trabalhos como apresentadora e influenciadora digital, se testa no papel de empreendedora, tocando com a sócia e amiga, a modelo Carolina Dassi, a marca de barrinhas naturais Clean Foods. Na entrevista a seguir, Mariana, que lançou recentemente o e-book de receitas Temperos da Vida, fala de seus próximos projetos e de como ela e o marido, o ator Cauã Reymond, procuram não expor a sua intimidade.


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O que pesou para decidir escrever o e-book Temperos da Vida?


Ele é um livro de receitas ligadas a emoções e a momentos em família. Por exemplo, ensino a preparar o que costumávamos comer nos domingos. Falo ainda das experiências que tive com os pratos, pois, em casa, a gente sempre foi de conversar à mesa – alguns papos mais sérios, outros mais divertidos. Outra receita é a da sopa que minha mãe fazia quando eu estava doente. Além de honrar a minha família e as minhas origens, esse e-book funcionou como uma espécie de experimento, porque sinto vontade de lançar mais para frente um livro sobre o distúrbio alimentar que eu tive, a anorexia que foi se aprofundando até chegar ao ponto em que eu odiava meu corpo. Portanto, o Temperos da Vida pode ser considerado uma introdução desse próximo livro e, ao mesmo tempo, uma continuidade do trabalho que tenho realizado nas redes sociais, de tentar ajudar as pessoas a encarar a comida como uma aliada. Acredito que, antes de publicar essa nova obra, devo lançar primeiro o programa que estou desenvolvendo, sobre bem-estar, saúde, medicina alternativa, sobre não seguir um padrão e buscar cuidar de si mesmo sem ficar recorrendo a remédios.


Quando caiu a ficha de que algo estava errado na sua relação com a comida?


Tiveram os primeiros sinais de eu estar muito magra e parar de menstruar – até hoje o meu ciclo não está regulado, pois preferi deixar o meu corpo responder naturalmente, em vez de tomar remédios para isso. Mas foi quando eu comecei a vomitar que realmente entendi que precisava fazer alguma coisa. Nesse tipo de situação, não adianta ninguém falar que você tem um distúrbio alimentar e que deve buscar ajuda, porque a pessoa fica cega, surda... É algo bem mais profundo do que se pode imaginar e que tem de ser tratado com bastante seriedade. A sociedade em que vivemos reforça o ódio ao corpo e um padrão de beleza que é inatingível e que é criado para estimular uma busca insana por ele, o que faz com que gastemos um monte de dinheiro e, no final das contas, nos frustremos. Afinal, a perfeição é utópica, ela não existe. O mundo dos filtros das redes sociais também deixou esse processo ainda mais forte.


O curioso é que você, além de apresentadora, é influenciadora digital.


Não posso ser hipócrita e dizer que não uso nenhum filtro. Eu utilizo um ou outro de vez em quando, mas quero parar totalmente ou, então, usar filtros mais de brincadeira ou para postar algo diferente. O que não desejo é me esconder atrás de filtros, me sentir envergonhada de quem eu sou a ponto de precisar de um recurso que mude a minha fisionomia. Isso faz com que as pessoas não gostem delas mesmas, que evitem se olhar no espelho. Também acredito que as marcas e a indústria da moda e da beleza, em vez de imporem padrões e elaborarem campanhas com gente que parece perfeita, deveriam abrir espaço para o real, para o não uso de Photoshop.


O que desencadeou o seu distúrbio alimentar?


Em 2017, eu estava sendo alvo de comparações e críticas pesadas em relação ao meu corpo e à minha maneira de ser. As pessoas usavam palavras maldosas, sabe? E eu fui parando de comer. Conforme ficava cada vez mais magra, mais eu era elogiada e aceita, e me chamavam para uma quantidade maior de trabalhos. Enquanto os outros achavam que eu estava linda, no fundo eu estava infeliz ao extremo. A cultura da magreza é muito ruim. Tive anorexia por seis meses. Normalmente peso 60 Kg (para 1,71m de altura), mas, nessa época, cheguei a ter 50 Kg e 4,8% de gordura no corpo, o que é terrível para a saúde da mulher. É preciso ter o mínimo de gordura para menstruar e o corpo funcionar direito. Tudo isso provocava uma maior irritabilidade, insônia... Quase entrei em depressão. Devemos falar cada vez mais desse assunto, sem pudor ou tabu, para ajudar as mulheres que se encontram nessa condição.


Qual foi a pior crítica que recebeu?


Eu tenho um formato de corpo meio quadrado, porque não tenho muita cintura e as minhas costas são largas, devido à natação. Ou seja, o meu biotipo não é do corpo violão. Por causa disso, tinha gente que falava que eu pareço o Bob Esponja. Esse tipo de comentário mexia demais comigo. Tanto é que bloqueei esse termo no meu Instagram. Ninguém mais consegue escrever algo assim nos posts do meu perfil.


Você já era apresentadora quando teve quadro de anorexia. Acha que o tempo em que trabalhou como modelo contribuiu para desenvolver esse distúrbio alimentar?


Sim, bastante! Porque, quando você é modelo, o seu corpo nunca está bom o suficiente. Já disseram para mim que eu tinha que emagrecer o joelho. Isso, por acaso, é possível? O mercado da moda costuma ser supercompetitivo e cruel. As pessoas te tratam mal, como um cabide. O que mexe com o psicológico. O curioso é que, hoje, quem me maltratava lá atrás vem falar comigo de um modo todo legal, sorridente. Não acho isso verdadeiro. Não esqueço o que essas pessoas fizeram para mim, fico só observando o comportamento delas. Quando me tornei modelo, eu estava na adolescência. É complicado para alguém nessa faixa etária entrar no mundo da moda, porque o trabalho é duro e tem de tudo.


Ao que se refere exatamente?


Eu tenho pavor de droga, realmente passo longe. Em vários trabalhos, tinha droga rolando solto. Eu não entrei nesse caminho, mas muitas pessoas entraram. Sem contar que existe o assédio, o que também é tenebroso, horripilante.


Chegou a sofrer assédio?


Sim, mas só entendi que fui alvo de assédio anos depois. Na época, eu nem sabia o que era isso. Com o tempo, fui assimilando algumas coisas; outras não me lembro direito e, dependendo do caso, nem acho que estou preparada para revisitar certas memórias.


Como foi que se tornou modelo?


Eu queria contribuir em casa. Desde pequena, via meus pais trabalhando bastante. Quando eu era garota, meu pai chegou a ficar desempregado duas vezes. Me tornei modelo por acaso, pois também distribuí currículos em lojas. Na realidade, eu estava atrás de um emprego. Tive exemplos bem fortes em casa de como valorizar o dinheiro, o trabalho e se empenhar para conquistar algo. Tanto é que, no fim do ano, costumava ajudar na papelaria e livraria da minha família. Lembro que, quando era menina, fazia acessórios com miçangas e sacolé para vender.


Os programas que você apresentou no Canal Off mostraram bem a sua conexão com a natureza, com os esportes e a paixão pelas viagens. Curte esse mundo desde pequena?


Olha, eu amo natureza, mas sou bem estabanada quando se trata de esporte. Tive até alguns apelidos na escola por causa disso. Um deles era Pata Esteves, já que Esteves é um dos meus sobrenomes. Como não sou muito alongada, sempre tive dificuldade para praticar esportes. Acho que o que me levou mesmo para o Canal Off foi a conexão fora do comum que tenho desde garota com a natureza.


Sempre foi de viajar bastante?


Sim, só que foi bem difícil fazer a primeira temporada do Ilhas Paradisíacas, em 2013, para o Off. Fiquei um período viajando para gravar o programa. Pensei várias vezes em desistir, pois sentia muita falta da família e ligava para casa chorando. Também havia o fato de eu nunca ter apresentado um programa e estar aprendendo tudo. Para completar, não existia tanta empatia por parte da pessoa que apresentou a primeira temporada do Ilhas Paradisíacas comigo. Então, eu comia demais para compensar a ansiedade. Engordei 12 Kg nessa viagem. Quando recebi o convite do Off para fazer a segunda temporada, pensei: “Vou me jogar nessa aventura e vencer. Mostrar para mim mesma que amadureci e que estou mais segura”.


No ano passado, você se experimentou como empreendedora. O que despertou essa vontade?


A minha amiga, a modelo Carolina Dassi, estava começando a produzir barrinhas naturais e me mandou algumas para provar. Gostei tanto que, na hora mesmo, liguei para ela e disse que ia ser a sua sócia na Clean Foods. Se você observar, estou empreendendo em algo que tem a ver com o que acredito e busco para a minha vida, e falo nas redes sociais. São produtos que não passam por um processo industrial e que não possuem açúcar, nem conservantes.


O fato de você estar se formando em Nutrição também deve ter colaborado para essa decisão.


Exatamente. Isso me deu uma noção melhor para escolher ingredientes e desenvolver os produtos junto com a Carolina. Tudo foi acontecendo naturalmente.


Você e o Cauã Reymond parecem ser bem low profile. Como é que administram a exposição trazida pelas suas carreiras?


A gente mostra nas redes sociais o que quer, o que sente vontade. É tudo bem pontual, até porque não envolve apenas nós dois. Também precisamos levar em consideração a Sofia (filha do Cauã com a atriz Grazi Massafera). Acreditamos que essa é uma maneira de preservar a nossa intimidade e a nossa relação como marido e mulher.


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