A maratona de dezembro

Dezembro, mês mais corrido do ano, tem demandas extras, planejamento para o próximo ano, encerramento de metas

Por: Alcione Herzog  -  12/12/21  -  14:30
Atualizado em 12/12/21 - 14:36
“Essa reta final é um momento em que estamos mais propensos ao cansaço”, diz a psicóloga Daniela Oliveira
“Essa reta final é um momento em que estamos mais propensos ao cansaço”, diz a psicóloga Daniela Oliveira   Foto: Adobe Stock

Piscamos e já é dezembro. No período mais frenético da típica correria de fim de ano, temos a sensação de que disputamos uma maratona, ao mesmo tempo em que empilhamos pratos. Em muitas carreiras, as demandas extras no trabalho ao final do ano somam-se com o planejamento dos próximos 12 meses. E ainda há os compromissos ligados à época, como formatura do filho, confraternização da empresa e os preparativos para as festas de Natal e Ano-Novo.


É nesse furacão de eventos, prazos e tarefas, com pressões que vêm de todos os lados, que uma velha amiga do estresse pode dar as caras: a Síndrome de Burnout, que atinge em torno de 30% da população brasileira, segundo a International Stress Management Association (Isma).Definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, essa condição é resultado da sobrecarga de tarefas no trabalho e pode levar à depressão, à ansiedade e a problemas físicos, como a gastrite. Normalmente, as profissões que mais sofrem em termos de volume de trabalho e pressão são aquelas nas quais os ciclos se encerram no final do ano, diz Alexandre Slivnik, palestrante, especialista em gestão de equipes e em encantamento de clientes.


Executivos que têm que atingir metas, produzir relatórios e planejar o novo ano são um exemplo disso. Professores incumbidos de entregar notas, preencher intermináveis diários e elaborar o planejamento de aulas para o próximo ano, além de gerentes de equipes e vendedores que contam com o Natal como a melhor época do ano para vender, também tendem a sentir mais os impactos gerados pelo período.


“Qualquer atividade que tenha um ciclo encerrado no fim do ano acaba sofrendo uma pressão maior. É muito importante que os profissionais saibam lidar com essa pressão e principalmente que os líderes saibam fazer a cobrança adequada para não sobrecarregar ainda mais equipes e indivíduos e, assim, evitar as condições para a Burnout”.


Um ponto importante a considerar é que o segundo semestre é sempre mais curto do que o primeiro. No entanto, a quantidade de trabalho a ser executado nesse período menor de tempo é quase sempre maior do que o normal.


Somado a isso, há o cansaço natural acumulado ao longo do ano, lembra a psicóloga Daniela Oliveira. “Essa reta final é um momento no qual estamos mais propensos ao cansaço físico e mental. A gente passa muito tempo em alerta e sempre respondendo ao que vem de fora, às demandas externas. Esse estresse faz a gente ficar mais impaciente. Alguns podem até entrar no processo de exaustão”.


Evitar o adoecimento do corpo e da mente e dar conta dos demais aspectos da vida sem prejudicar a produtividade na carreira pode ser mais difícil do que se imagina, mas não é algo impossível.


Primeiramente, é importante entender que, independentemente da profissão, o ser humano em geral chega ao final do ano muito diferente por conta de sobrecargas de várias naturezas. “Parece mesmo que nós criamos uma expectativa de fechamento e reinício e isso nos deixa ansiosos e perturbados com os resultados finais. Por isso é importante definir prioridades, criar metas possíveis e cuidar da saúde física e mental”, alerta a psicóloga, personal e professional coach Rosângela Casseano.


Para Daniela, no ano inteiro deve-se tomar cuidado justamente para estar forte nos momentos em que as cargas extras chegam. Então, se você é daqueles que gostam de traçar resoluções para o ano que se inicia, não deixe de incluir metas de estilo de vida que possam ajudar a manter a sanidade. Uma delas é a organização.


O profissional que não se organiza se perde e a sensação de estar perdido entre tantas demandas gera ainda mais ansiedade.


Daniela cita algumas áreas da vida que precisam ser vistas ao longo dos 12 meses. O sono, por exemplo, tem um peso grande no nosso humor, em nosso nível de ansiedade. A falta dele está associada com a piora nos quadros de estresse e depressão, que consequentemente interferem diretamente na produtividade intelectual e física.


Alimentação em dia

“Ter uma alimentação saudável também nos dá a energia e vitalidade necessárias para dar conta das demandas. A comida influencia muito o nosso humor. Diminua também o consumo de álcool e drogas e priorize a atividade física. Junto com a alimentação e o sono de qualidade, os exercícios sustentam o sistema imunológico e equilibram nosso humor”, resume.


Além disso, ter relacionamentos saudáveis é essencial. E você ainda pode e deve lançar mão de ferramentas de manejamento de estresse e de ansiedade. Existem várias, mas a meditação e os exercícios respiratórios são cientificamente comprovados como aliados dos profissionais.


“Deixar a nossa expiração mais alongada do que a nossa inspiração é falar para o nosso sistema nervoso que está tudo bem, que a gente pode ficar mais tranquilo. A terapia também é extremamente importante. Nela aprende-se várias práticas para manejar as emoções. Não é um cuidado só para o fim do ano. É um cuidado para sempre”, diz Daniela.


Alexandre Slivnik complementa que é importante fazer um bom gerenciamento do tempo. No momento em que o profissional sai do trabalho, ele precisa realmente desligar. “Desligue o celular e vá ao cinema ou pegue os filhos para passear na praia etc.”


Quem gosta de correr, caminhar ou nadar deve dar a esse momento do dia a mesma importância concedida às horas de trabalho.


“A mente precisa estar ocupada com outras coisas por algumas horas. Se fora do ambiente de trabalho, a pessoa continua pensando na pressão, em todos os projetos e entregas que tem de fazer, em algum momento, ela vai estourar. É como um parafuso, uma porca. Apertando muito, uma hora espana”.


Foco e organização

Quem está em vias de chegar ao esgotamento nesse momento em que lê a matéria pode tomar algumas atitudes práticas imediatamente. Uma dica de Alexandre Slivnik tem a ver com organização e identificação de quais são as suas prioridades.


Aquilo que não é importante e que você não controla, simplesmente descarte. Fazer essa separação pode ser mais fácil quando tudo é colocado no papel.


O especialista também sugere a criação de uma tabela de tarefas. Numa folha em branco, crie duas colunas de modo que se tenha um espaço à direita e outro à esquerda. Na mesma tabela, faça uma linha no meio, criando a metade de cima e a de baixo. O resultado? Quatro quadrantes.


“Nos quadrantes à esquerda, coloque as tarefas que são muito importantes e que você controla. Na parte de cima, ficam as suas prioridades, aquelas que têm um deadline mais rápido, ou seja, um prazo mais curto para ser entregues. De repente, você possui outras tarefas importantes que pode cumprir até dia 31 de dezembro. Essas ficam no quadrante inferior do lado esquerdo”.


Do lado direito da folha vão as demandas que são importantes, mas nem tanto. Aquelas que se por um acaso você não conseguir cumprir, dá até para deixar para janeiro ou para algum momento do próximo ano. Nessa categoria, da mesma forma, separe o que é mais relevante (no canto superior direito) do que é menos relevante e que nem depende só de você (no canto inferior direito).


“O mais importante é aprender a separar tarefas por importância e por prazos. Quando se enxerga as prioridades, fica mais fácil focar e executar o que é preciso”.


Paralelamente a todas as dicas elencadas, desenvolver o autoconhecimento é um elemento essencial, segundo a psicóloga Daniela Oliveira. “Algumas pessoas precisam fazer mais pressão sobre si para cumprir os prazos. Outras, nem tanto. Conhecer o nosso próprio funcionamento interno para entender qual é a necessidade de se organizar e se estruturar é essencial”.


O ano todo

A psicóloga Rosângela Casseano, que também é CEO da PsicoPass, acredita que todos nós podemos incluir medidas para lidar com a procrastinação. Essa palavra tão em alta nos últimos anos define o comportamento de deixar tudo para a última hora. “É importante desenvolver disciplina e métodos de trabalho bem definidos, mas isso durante todo o ano. Ao realizar cada tarefa, lembre-se de celebrar, mesmo que seja sozinho, brindando com um cafezinho ou uma xícara de chá, mas sempre parando alguns segundos para se autopremiar”.


Pensando em 2021, o especialista em gestão de equipes lembra às empresas o quanto é importante os seus funcionários terem um tempo no fim do ano para poderem se desconectar totalmente. “O nosso cérebro é como um HD de computador. Se não jogarmos fora o lixo mental, ele vai se acumulando. Uma hora deixamos de funcionar com a rapidez adequada”.


Você não pode viajar nas férias? Vá à piscina do prédio. Não tem área de lazer no condomínio? Caminhe na praia ou passe um tempo na casa de parentes queridos. “Atividades fora do habitual ajudam sempre”, finaliza Alexandre Slivnik.


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